sexta-feira, dezembro 31, 2010
Podia
quarta-feira, dezembro 29, 2010
Uma desgraça
Perdi dois a zero com o Maria mais novo no FIFA 11.
Ele está aqui à minha volta a perguntar se eu quero a "desporra".
segunda-feira, dezembro 27, 2010
Vende-se
Urgente.
Assistente
- Pode carregar nas bolinhas ?
- Só um momento, já está !!!
- Então, o que é que aconteceu ?
- Minha senhora tenha juízo e voltemos ao telemóvel ...
Não respondi isto mas vontade não me faltou. Respondi:
- Depois de carregar nas bolinhas, salvo seja, ... risos ... apareceu uma combo-box.
sexta-feira, dezembro 24, 2010
Carta
Bem sei que já se vai fazendo tarde e que estamos muito em cima da hora, mas um gajo também é surpreendido. Mesmo ao fim destes anos. Acontece que estava a falar com a minha mulher, a rainha - essa mesmo, que às tantas me diz que o Natal para ela é acordar e maravilhar-se com pão com queijo, deixado em cima da mesa de véspera. Que é isso que mais gosta do Natal. Acordar e encontrar pão meio duro para comer com queijo da Serra. Ao fim de quase 15 anos de anos de casado, descubro que a alegria natalícia depende de acordar perto de um pão de véspera com queijo da Serra. Ora eu que estou aqui para a fazer feliz, gostava muito de receber um pijama de pão com queijo da serra, que é para ela acordar e dar logo de caras com um pão de véspera com queijo. A parte do meio duro prefiro não comentar e a parte de ser um pão nunca me chamaram tal coisa a não ser as amigas mais velhas da minha mãe e que tinham cataratas e outras maleitas na vista, ao ponto da maioria delas estar a passar o Natal na companhia dos respectivos cães guia.
Posto isto resta-me agradecer a disponibilidade para atender a este pedido de última hora. Pijama de pão de véspera com queijo da serra - amanteigado. De ovelha.
Um abraço.
André
quinta-feira, dezembro 23, 2010
Recado
Expressões
terça-feira, dezembro 21, 2010
Qual é o mal ...
Já sei !!! São ciúmes.
Pedro entra de rompante em São Bento e apanha o José embrulhado com o FMI.
- Como foste capaz José ?
- Pedro acalma-te. Isto não é o que parece.
- Ó Pedro. O José está a dizer a verdade, eu venho cá de seis em seis meses.
- Cala-te puta. A meteres-te com um governo comprometido. Fecha a matraca antes que te vá às trombas.
É o que eu digo. Isto um dia ainda acaba mal
quinta-feira, dezembro 09, 2010
Controversa Maresia
Acontece que este blog de que venho falar, Controversa Maresia, e por mérito de quem o escreve, está a votos no Combate dos Blogs para melhor blog do ano. E faz-se acompanhar muito bem nesta votação.
Não o ponho aqui para votarem nele, embora ache muito bem feita que o façam.
Ponho-o para que o possam descobrir, ou redescobrir. Ponho-o porque esta mulher escreve tão bem que irrita, escreve tão bem que faz a caixa um esquisso de blog. Ponho-o porque lhe tenho uma inveja desmedida e uma admiração imensa na escrita. Apetece chamar-lhe todos os nomes, por escrever como escreve. Cabra. Ponho-o porque ela escreve assim pela mesma razão que os cães lambem os testículos. Porque pode.
Deixo aqui uma escrita recente ...
opening hours
Falas-me de amor platónico mas perguntas-me a que horas abrem as minhas pernas. E eu respondo-te que sou como aquele barbeiro de província que tinha um papel sebento no vidro a dizer que abria a horas indeterminadas. Ah! e ser feliz: pois, também me falas disso. Cada umas das criaturas nesta esplanada envelhece ao segundo, mais um vestígio de rugas, uma vontade de desistir. O tempo passa por todos menos por nós mas é preciso que nos fitemos para além do que aparentamos, furar a pele. Entretanto olhamos a alforreca que dispersa as tainhas, translúcida como os teus olhos, e achamos que ainda ontem estávamos por aqui, iguais, as minhas pernas platónicas, o teu andar gingão. O nosso passado está presente em nós porque é o nosso presente: temos direito a pouco mais, há muito que o comboio saiu da estação, embora na verdade às vezes ainda me pergunte se já chegou ao destino. Sei lá quanto de ti não se imagina a tentacular-me enquanto molho o pão no molho. Quanto de ti é resistir a não fazer ou não fazer por não quereres fazer, apenas. Decifro-te em mim e o que dizes é como meu, deve ser das encruzilhadas da idade: ambos sem rumo, somos aquela alforreca que foi parar ao lodo e que agora não sabe como sair do cais, presa no meio das tainhas, que são muitas e vorazes. Além disso ainda não decidi se isso do platónico é um elogio ou uma ofensa. Mas contradiz sem dúvida o interesse demonstrado no meu horário de abertura.
Esta mulher escreve na areia
Perguntas parvas sobre o trânsito
Porque é que os pastelões que vão à nossa frente conseguem fazer render um amarelo até serem o último carro a passar antes do vermelho?
Porque é que as mulheres são muito menos tolerantes na cedência de passagem que os homens? Quando um condutor necessita entrar numa faixa, numa rotunda ou num cruzamento sem ter direito a fazê-lo, o melhor é esperar que seja um homem a ceder a sua prioridade. Com as mulheres resulta mal.
Porque é que permitido demorar mais que um segundo a arrancar assim que o semáforo passa a verde?
Porque é que alguns peões atravessam as passadeiras na diagonal e se tivessem lata ainda dançavam um malhão e dois viras?
Porque é que as pessoas que abastecem e vão pagar à estação de serviço, não tiram o carro de frente da bomba e se puderem ainda fazem compras, bebem café e lêem as gordas dos jornais e as magras das revistas?
Porque é que nos acidentes, os intervenientes além de estarem vestidos de fluorescente, falam ao telemóvel em vez de conversarem? Será que falam um com o outro?
terça-feira, dezembro 07, 2010
Chato
E quem é que se havia de lembrar da trovoada e do corte de luz? E o despertador que se esquece da função ? E se damos por ela já quase às oito ? E porque é que se entorna um dos copos com a vacina? E o pacote da cerelac para trocar ? E o papel higiénico tinha de se acabar ? E o mais novo decide ir aos sólidos de manhã, porquê ? Impressionas-me Murphy. És embirrento. Obrigadinho.
Despertares
O evento mais relevante foi uma chuva de parafusos e rolamentos de um avião da TAAG sobre Almada. Que saudades do Verão.
quarta-feira, dezembro 01, 2010
Fantasias
domingo, novembro 28, 2010
Bincadeiras com as vogais "a" e "i"
à vida
há vida
ávida
dádiva
há diva
diva
iva
vai
havai
ai vai
ai vai à vida
ai a minha vida
ai a ida
aia ida
aida
à ida
à vinda
à vida
a vida
Numerus Clausus
Uns psicotécnicos se calhar ajudavam. A nota de entrada ser ponderada com a inteligência emocional também não me parece má ideia. Aposto que todos ficávamos a ganhar com uma bitola assim mais... coiso.
quinta-feira, novembro 25, 2010
Diz-se que não escolhe idades
segunda-feira, novembro 15, 2010
Cimeira
Bilhete de identidade actualizado - confere.
Cartão da empresa com morada - confere.
Cartão de funcionário - confere.
Cartão da fundação Luso Americana - confere.
Pino com o símbolo da Nato - hummm, se calhar é melhor tratar de arranjar um.
Ora então e para a revista caso seja mandado parar
Tudo bem lavadinho atrás das orelhas - confere
Roupa interior decente sem buracos, costuras impecáveis e elásticos tensos - confere
Unhas dos pés cortadas - Elááááá. Agarrar o corta-unhas e tratar de nivelar os excessos
Depois disto encetei a minha jornada até ao local de trabalho pronto para qualquer abordagem de todo o tipo de forças.
E não é que nem uma merda de uma operação STOP me fizeram ? Cheguei praticamente à FIL sem sequer me pararem para perguntar onde é que eu ia, que é para eu responder "vou trabalhar que alguém neste país tem de o fazer".
E fui cortar as unhas dos pés para quê?
quarta-feira, novembro 10, 2010
O diálogo
"Pai, a respirar assim parece o Darth Vader. O que me transforma numa espécie de Luke Skywalker. Estou mesmo a ver sacar do sabre de luz aí debaixo dos lençóis e tentar limpar-me o sebo."
Escrevo-o aqui porque quero lembrar-me.
terça-feira, novembro 02, 2010
Para lá da história
Depois, e aos poucos, fui percebendo o que me querias dizer e lá fui sabendo descobrir, aqui e ali, a mensagem para lá das imagens. A história para lá da história.
E hoje pai? E hoje à frente de tanta gente que te homenageava na partida, e eu a precisar tanto de conseguir perceber para lá das imagens. E hei-de consegui-lo, mas por ora a imagem é só a ausência de ti e o vazio imenso.
domingo, outubro 24, 2010
De que me importa
quarta-feira, outubro 20, 2010
Tio
Existe, no entanto um limite de idade legal para este tipo tratamento: a adolescência ou a puberdade ou o que quer que seja. Rapazes e raparigas na segunda metade do 3º ciclo ou já na faculdade a tratarem-me por "tio" não pode ser. Mas não pode ser mesmo, até parece que não sou da geração deles.
No outro dia um universitário de barba tratou-me por "Tio" !!! Mas que merda é esta? Um tipo com pelos na cara a tratar-me por tio, não sendo filho da minha irmã? Então eles não percebem que me fazem sentir assim .... velho? O que é que se segue ? "Olá tio-avô"?
terça-feira, outubro 19, 2010
A passos de Coelho
Aflige a insistência que os líderes da oposição têm para o harakiri político, mesmo quando o governo está moribundo. Eu não acredito, mas Pedro acredita ser uma excelente alternativa a José. E para que isso aconteça, é necessário que Pedro não perca base de sustentação. Ora Pedro resolve colocar-se numa situação em que se afasta da alternativa a José. Amua em vez de negociar, vira costas em vez de enfrentar, sai aos berros e bate com a porta, mas depois deixa aprovar um orçamento do qual já disse cobras e lagartos. Se votar a favor ou se se abstiver, vai contradizer tudo o que disse até hoje, e vai deixar passar um orçamento que ele considera mau, navegando na perigosa lógica do “menor dos males”. Se votar contra vai ser responsabilizado pelos tempos que se avizinham, numa dramatização muito ao estilo e muito conveniente ao governo. Parece que, mais uma vez, o PSD elegeu gato por lebre, por Coelho digo.
Se já perdemos muito com este governo, parece-me que perdemos todos também com esta oposição.
sexta-feira, outubro 15, 2010
Regresso
- Pai, vocês vão passar a ganhar menos ?
- Sim. A ganhar menos e a pagar mais impostos.
- E porquê ?
(aqui a resposta dada foi a politicamente correcta, embora a vontade me empurrasse mais para o lado dos filhos da puta incompetentes)
- Porque o país está numa situação muito difícil e precisa de mais dinheiro.
- E as crianças ?
- As crianças como, Manel?
- As crianças precisam muito de dinheiro, para fazerem as suas coisas. Os jogos e as guloseimas. Eu já sei que o dinheiro vai todo parar ao Presidente da República. E depois? Como é que vem parar a nós?
- Olha Manel. Chegámos. Depois voltamos a este tema. Não é a mãe ali à nossa espera?
quarta-feira, outubro 06, 2010
Migalha
O coiso do mais novo morreu. O rato, o Migalha, o hamster dele. Tenho em mim que não aguentou a pressão. Afinal de contas, ele era o quinto elemento do sexo masculino num ambiente com poucas fêmeas. A rainha, e fora a rainha, só as duas hamsteres, a romena das limpezas e a sua nora que anda a aprender português e por isso vem ajudar a sogra, sogra essa que fala romeno com ela o que contribui de forma decisiva para a progressão da dita nora nas artes da língua de Camões. Falar em Camões, o bicho já devia andar a ver torto porque tinha um olho sempre meio fechado, ou estarei a confundir com o hamster do mais velho? Não interessa, a verdade é que se finou e era preciso dizer com muito cuidado ao sirenes, para não lhe estragar o feriado que já ia longo:
"ó António cheira-me que o teu Migalha não está vivo. Não se mexe nem um bocadinho"
"Pai ele é mesmo assim. Ainda ontem estava assim quietinho e depois fartou-se de andar"
"Mas olha que devia estar um bocadinho menos quietinho que agora. Se eu abanar assim a casinha dele ele não se mexe mesmo."
"Está a dormir Pai. Ontem estava igual"
"Não estava igual não. Olha lá. Vês que eu abano-o e ele não faz nada? Olha ele sem mexer nem um bocadinho. Está morto. Vês até está rijo."
"Está bem ... "
passados 5 segundos estava no quarto aos guinchos de tristeza a ser consolado pela mãe.
segunda-feira, setembro 27, 2010
Tóbis
Hoje fui-te ver ao Hospital. A linha Amarela quase toda. Nem de propósito, a saída do metro mesmo colada à Tóbis. Sabes que só sei da Tóbis, porque me apresentaste ao mundo que sabe o que é a Tóbis. Deixemo-nos de fitas. Bons tempos aqueles. Sem dramas.
quinta-feira, setembro 23, 2010
Horas de Almoço
No primeiro, dia de estreia no secundário, na escola oficial, fizemos um programa de hamburgers e fomos a pé até ao liceu. Lá íamos felizes de mão dada até que ao fundo, virada a esquina e a uns 500, metros lá se vislumbrou o edifício do Filipa de Lencastre. Quinhentos metros. Foi esse o perímetro marcado para pôr fim à lamechice. Nada de mãos dadas, nem para atravessar a rua, e nem pensar em desejar-lhe “boas aulas” com um beijo. Aquele metro_e_beca_de_gente interditou qualquer manifestação que indiciasse a presença de mimo perante eventuais olhares de futuros colegas. Estupor do pré adolescente, lá isso é coisa que se faça. Ainda equacionei a possibilidade de o deixar entrar, e quando estivesse rodeado dos colegas na entrada da escola, lhe gritar “Joããããããõoooooooooooooooooooo. Está aqui a mãe ao telefone a perguntar se pode por a lavar o coelho que usas para adormecer !!!”
Deixei-o entrar sossegado, que só me iria perdoar lá por alturas do juramento de bandeira.
O segundo almoço, levou-nos a um tasco da nossa rua. Bifes de peru grelhados, que o pré adolescente estava com as tais cólicas. Pego no Correio da Manhã que estava no balcão e levo-o até à mesa. Vou folheando o jornal enquanto lhe mexo a cocacola para lhe tirar o gás e lhe digo que aquele jornal não é muito bom que só fala de crimes. Nem reparo nas páginas que vou folheando, até que os olhos dele saltam das órbitas. “Estás com cólicas João?” ao que ele me responde. “Estás nas páginas das prostitutas” Rabos para todos os gostos nos anúncios classificados. Entorno a Coca-cola e apresso-me a mudar de página até ao sossego de umas páginas com peças jornalísticas. Mais uma vez os olhos precipitam-se com um ar alarmado sobre o jornal. O que foi agora? Na página da direita um casal que foi preso por promover sexo com os filhos e às vezes até com o cão, na página da esquerda um homem assassinado porque lá na aldeia violava as galinhas e chegou a ser apanhado a violar uma cabra. “Que disparate João, deve-te estar a subir a febre. Não está nada disso escrito. Leste mal. Bebe a coca cola e não faças perguntas que ainda pioras. Desculpe, tem algum jornal de desporto em vez deste? Olhe, deixe estar e traga-me a conta.”
segunda-feira, setembro 20, 2010
Socorro
* dá-se preferência a candidatos que saibam interiorizar conceitos como lixa de papel, diário gráfico, ângulos de um esquadro e papel de manteiga.
sexta-feira, setembro 10, 2010
Praia Fórum
Além do homem das bolas (salvo seja, Deus me perdoe), há o vendedor de óculos de sol, e o das túnicas que não tem um ar nada simpático, e ainda o dos relógios e malas de marca, e o dos biquinis brasileiros que até tem um terminal multibanco, e o dos colares e pulseiras e também há chineses que fazem massagens. A praia está carregada de vendedores e isso acontece porque está apinhada de compradores. Até vendedores de pulseiras do equilíbrio aparecem. E logo na praia, em que uma pessoa está quase sempre deitado ou a desequilibrar-se de propósito para cair numa onda ou numa toalha. Há vendedores para quase todos os gostos e a euforia das compras instalou-se.
A praia está a transformar-se numa imensa superfície comercial em que os clientes estão parados e as lojas andam a passear de cliente em cliente, o que é cómodo. Aquela história de andar num centro comercial de loja em loja é muito cansativa e esta versão parece-me muito adequada à preguiça.
Aguardo com expectativa a chegada de outras lojas às praias porque há coisas essenciais que não podem faltar num centro comercial.
Um papelaria/livraria, por exemplo, faz falta. Há tanta gente a querer ler jornais, revistas e livros na praia que não se compreende a inexistência de um desgraçado que os venda praia fora.
Faltam ainda os electrodomésticos, os bancos, as seguradoras, as lojas de comunicações, as de desporto, de animais e manicures e pedicures em fartura. E um supermercado, para fazer compras à saída... ar condicionado se fosse possível também ajudava.
quinta-feira, julho 22, 2010
Até Jáááááá
- e tenho o prazer de estar a falar com ?
- André Frazão
- muito bem senhor André Fragão o que prete...
- Frazão com Z
- Com G. Exacto. Senhor André Fragão em que posso ser...
- É com Z de Zeta e de Zebra.
- Com certeza. Senhor André Zagrão diga lá então em que ....
Nesta altura desatei a chorar de tanto rir e não consegui explicar ao meu interlocutor aquilo que ele tanto queria saber, sobre de que forma me podia ser útil.
Já foste útil, o meu fim de tarde foi muito mais animado graças a ti.
A família Zagrão agradece.
quarta-feira, julho 21, 2010
Defeso
- Sim
- Daqui é o Jorge.
- Coelho? Não estás em Angola? Desliga já isso pá. Olhó défice.
- Não homem. Jesus.
- Eláááá. Ando há que tempos para falar contigo, mas mudei de telemóvel e perdi o teu número. Olha lá, tens falado com a Alexandra Solnado? Vê lá se lhe dizes que isto do país vai melhorar a ver se ela espalha a boa nova. É que em mim já ninguém acredita, enquanto nela...
- Não sou esse. O do campeonato.
- Ai perdão excelência. Não o reconheci. Ainda não lhe agradeci devidamente o campeonato. A única coisa boa nestes últimos meses, para além do fim dos Delfins e do Jornal da TVI.
- Deixa lá isso. Mas olha. Podes agradecer agora. Preciso de um favorzinho.
- Diga lá então Excelência.
- Ainda tens vagas nas novas oportunidades?
- Eláááááá. Aquilo está cheio como um raio, Excelência. Parece o estádio da Luz em dia de derby.
- Preciso de uma vaga lá.
- Ui. Isso é impossível. Não tenho mesmo. A última foi ocupada pela Helena André. Espalhou-se ao comprido numa entrevista e estou-lhe a dar uma nova oportunidade.
- Ouvi falar. Mas eu estou mesmo muito necessitado.
- Deixe-me cá ver com mais cuidado Excelência. Vou abrir a lista de inscritos. Posso colocar em lista de espera?
- Nem penses nisso. É urgente. Queres mais um campeonato, não queres?
- Então não quero ? Mas acho que nem isso me salva. Deixe-me lá ver excelÊncia. Só se tirar de lá o Alegre. Aquele tipo também só me traz problemas. Fora com ele. E devo inscrever quem?
- Roberto Jiménez Gago. O nosso guarda redes. Aquilo é só frangos.
- Já ouvi falar, já ouvi falar. Também já tive problemas assim na equipa. Houve um que até um par de cornos fez a meio da sessão parlamentar. Muito bem Excelência. Já está inscrito.
- Obrigado José
- Ómessa Excelência, estamos cá uns para os outros. Posso ser-lhe útil em mais alguma coisa, Excelência?
- Não. É só.
- Então resta-me agradecer a amabilidade do seu telefonema. Muito boa tarde excelência. Até jááááááááááááááááááá.
- Até já?
- Desculpe Excelência. É o hábito. Ando a fazer uma perninha no call center da TMN. Nunca se sabe. Isto na política nada é certo. Um dia somos bestiais outro dia somos bestas.
- Sei muito bem do que falas José. Se calhar ainda te peço para me arranjares um lugar para mim também. É preciso saber inglês ou espanhol?
- Nãoooooo. Que disparate. Basta apresentar uns certificados.
- Antes assim. Bem, deixa-me lá ir para o treino.
- Vá vá Excelência, que eu também tenho aqui uns afazeres, com a alteração constitucional do Pedro. Então até à próxima Excelência.
- Adeus José. Obrigado.
- Adeusinho Excelência.
terça-feira, julho 20, 2010
Sabedoria Popular
"O artesanato faz parte do património, a Bimby faz parte do matrimónio"
Facilitadores
A par das molas que prendem os pares de meias desde que saem dos pés até que voltam para a gaveta, o cortador de maçãs que comprei é a grande invenção
segunda-feira, julho 19, 2010
Unlocked
Apanhámos o comboio em Paddington rumo à legolândia. Saída mesmo à queima para um horário cumprido à tabela. Correria plataforma fora até entrar na carruagem meio minuto antes da partida. Bofes de fora, suores nos bigodes, e lá nos sentamos dispersos em bancos de comboio, em modo de “such a cute family”. A pressa no embarque, aliada à vontade da descoberta, levou-os em direcção à casa de banho, porque não tinham tido tempo de chichis antes da jornada. Concordei e até subscrevi. Também estava com sinais externos de quem já me aliviava e a ida à casa de banho fazia todo o sentido. Deixamos a rainha entregue a leituras na sua poltrona e vamos os quatro à casa de banho. Surpreendentemente a casa de banho daquele comboio é enorme e tem uma porta a condizer. Como é que se abre ? Ora deixa cá ver, este botão do lado de fora que diz “OPEN” parece ser a chave. Confirma-se logo depois de três mãos pequenas se precipitarem sobre ele assim que eu anuncio “deve ser este”. A porta desliza para dentro da parede e exibe uns dois metros quadrados de WC. Cá fora, meia dúzia de ingleses sentados num banco corrido escancarado para a porta, assistiam deliciados à excitação da pequenada e das minhas tentativas mais ou menos infrutíferas de criar alguma ordem naquele caos. O botão “CLOSE” por cima de uma maçaneta com ar de “maçaneta de travagem de emergência” indicava o próximo botão a ser carregado. Depois de fechada a porta, e do alívio das impacientes bexigas, experimentavam todos os artefactos. O autoclismo, a torneira, o secador de mãos, o sabonete liquido num frenesim que se ouvia lá fora. Peço-lhes que não mexam em mais nada e começo a tratar do meu próprio alivia. Pila para fora e vai disto.
Assim que passo aquele ponto em que já não é possível parar, ainda faço uma recomendação em voz alta “NINGUÉM CARREGA NO BOTÃO VERDE QUE DIZ OPEN”. Nem meio segundo, sinto à minha direita, a porta a deslizar suavemente e a luz exterior a entrar na casa de banho. Uma mão na braguilha, a outra na pila, rodo o pescoço e vejo uma senhora de pé a preparar-se para entrar no WC. Grito “MENINOS FECHEM A PORTAAAAAAAAAAAAA” enquanto em movimentos parecidos com ridículos passos pequeninos e pulinhos tento pôr-me de costas para a porta e carregar com o cotovelo no botão CLOSE. A um ritmo enervantemente lento, a porta volta a deslizar até se fechar. Risadas e muitas dentro e fora da case banho e eu aos berros a tentar arranjar uma cabeça para rolar “Quem é que foi o engraçadinho que carregou no botão????” Todos juraram que nada tinham feito.
Acabo o meu alívio, transformado em pesadelo, lavo as mãos e abro a porta desta vez com o propósito de o fazer. Não sei porquê os que não estavam a sorrir ainda gargalhavam alegremente. Não são os Ingleses que se costuma embaraçar nestas situações? Pois aqueles pareciam muito à vontade. A senhora que ia entrar na casa de banho ainda consegue interromper o riso para me dizer “It’s not their fault. You must lock the door here” e aponta para a maçaneta que tinha um ar travagem de emergência e umas letras garrafais que diziam “LOCK”. Agradeci com sorriso amarelo e apressei-me a sair dali.
“Pai, o que é que a senhora estava a dizer?”
“Estava a pedir desculpa de ter aberto a porta”
“Porque é que ala apontou para aquela maçaneta?”
“Sei lá João Maria. Porque lhe apeteceu. Pouca conversa e vamos ter com a mãe”
Lá mudámos para a carruagem onde estava a Ana. Eu com cara de caso e eles com cara de gozo.
“Vamos embora Ana. Saímos já na próxima que este comboio não me inspira confiança”
terça-feira, julho 13, 2010
Conselho
Eu que já achava estranho o conceito de higienista oral, mais estranhei quando ela se virou para mim e disse:
"Vamos passar a usar fio dental diariamente"
Eu não consigo resistir à primeira pessoa do plural:
"Se não se importa, eu vou continuar a optar pelos boxers. A doutora fará como melhor entender."
segunda-feira, julho 05, 2010
João Sem Medo
Príncipe das Bochechas
Bem sei que formalmente estás proibido de crescer. É em tom de brincadeira, e de uma forma genérica tem a ver com a resistência a cortar uns cordões umbilicais fictícios. Acontece que nestas duas semanas, por estares na colónia de férias, torna-se conveniente que deixemos cair esses tais cordões. Só até ao final da colónia de férias.
Os recentes telefonemas entre lágrimas deixam-nos na equidistância entre o "ai meu rico menino que está tão triste ao abandono no meio da selva a braços com as saudades e já lá vai mais de uma semana e agora passou o ponto de tolerância à ausência parental e até provas de orientação nocturna no meio dos arrozais infestados de bicharada aqueles selvagens o obrigam a fazer" e o "deixa-te de merdas e trata de te divertir que foste tu a escolher ficar lá duas semanas e ainda há dois dias estava tudo lindo, e agora, sabe Deus porquê, deu-te a tremedeira e queres voltar para casa porque estás mal habituado".
Em conclusão ficas até ao fim de semana e serás mimado em conformidade. É para seres João sem Medo (não confundir com Semedo) e podes crescer à vontade. Estão excluídas situações que envolvam perca de mimo, alterações à voz e aparecimento de pilosidade em zonas estranhas. A mãe e o pai agradecem.
Obviamente antecipo-me
A propósito da quantidade astronómica de vuvuzelas que cairam drasticamente em desuso, proponho que Joana Vasconcelos as trasnforme numa imensa instalação. Uma Scut de vuvuzelas por exemplo.
Nota do Autor: O IVA deste blog desceu 1% com efeitos retroactivos a 1 de Julho. Para equilibra.
segunda-feira, junho 07, 2010
Se ...
quarta-feira, maio 26, 2010
A estranha semelhança entre um cruzeiro
Natércio gosta de fazer cruzeiros. Enjoa frequentemente, nada como um prego, fala um inglês miserável, tem pavor de gaivotas mas adora conhecer pessoas e ali, os restantes 2100 passageiros, não têm muito por onde escapar. É vê-lo a estudar os parceiros de viagem à medida que embarcam e a desdobrar-se em atenções com este ou aquele de acordo com a apreciação inicial. Grosseira porque superficial, mas muitas vezes eficaz. Chama-lhe perícia e gaba-se dela despudoradamente.
“Aquela ali foi despejada pelo filho no navio. A mulher já não vai para nova e os lares decentes estão pela hora da morte. Deve ser uma estreia. Que quantidade de malas absurda para duas semanas. Aposto que traz roupa de cama. Quando descobrir a sala de bingo, esquece-se que está num cruzeiro e vai passar o resto do tempo a riscar números e a gritar bingo quando fizer uma linha. Ainda a apanho na minha mesa num destes dias.”
“Olha-me que cromo. Cana de pesca!!! Com sorte trouxe o isco e tudo. Eh eh eh. Deve sair daqui com dois ou três tubarões debaixo do braço. Ó homem, hás-de estar na proa que eu sigo para a popa. Nem no bar depois de me atascar em margueritas te quero por a vista em cima.”
“É lecasssssss. O que é aquilo? Será que vem sozinha? Se naufragarmos nem precisa de colete salva vidas. Com aquelas bóias. Tem a marca no dedo, mas não usa aliança. Divorciada de fresco até aposto. Querem-me lá ver que saio daqui noivo? Ou te encontro na disco, ou vais parar à minha mesa num destes jantares.”
“Olha os Martins. Estes já os conheço do Norte de África em 2002. Porreiraços. Ele está igual e ela deve ter feito umas plásticas. Companhias certificadíssimas para as passeatas turísticas. São um prato estes dois. Que sorte Natércio!!!”
Se um dia fizer um cruzeiro sigo os sábios ensinamentos do Natércio. Divido as pessoas em grupos e ajo em conformidade.
Hei-de ter um grupo das “pessoas com quem divido o camarote” que são a família lá de casa e mesmo assim divido-o em dois. Putalhada para o camarote do lado.
Grupo das “pessoas com quem janto à mesa e bebo um copo no bar”. São os amigos mais próximos, de convívio fácil e muito saboreado.
Grupo das “pessoas com quem convivo no convés.” São as pessoas mais ou menos conhecidas de convívio agradável. Trocam-se umas piadas e eventualmente ganham estatuto de jantar juntos conforme a empatia criada.
Grupo das “pessoas que encontro na sala de jogos”. São as pessoas que aderem à mesma actividade, não necessariamente simpáticas, não obrigatoriamente conhecidas. Estão lá porque um jogo de grupo é isso mesmo. Um jogo de grupo.
Grupo das “pessoas que enfiava no bote salva vidas em caso de naufrágio”. São os dos camarotes, mais os dos jantares e um ou outro do convés, os idosos e as crianças e algum pessoal de bordo que sabem sempre o que hão-de fazer caso a situação fique dramática. Estão lá porque são próximos, ou porque são úteis ou porque simplesmente não se lhes recusa lugar no bote salva vidas.
Grupo “homem ao mar” ou “pessoas que atirava para fora do navio”. Se pudesse escolher, nunca teriam embarcado. Agora estão lá e é uma chatice mandá-los borda fora.
Se um dia fizer um cruzeiro, levo etiquetas.
E se o ? Não. Não existe essa coisa de grupos de amigos. Ah existe ? E se o Facebook fosse um cruzeiro ?
terça-feira, maio 18, 2010
Perfume
Das minhas memórias tiro o cheiro de café do emprego do meu pai. Os escritórios paredes-meias com a fábrica, não disfarçavam aquele cheiro intenso e bom a café e depois o barulho das máquinas que o moíam ou torravam. E os amigos pois claro e os colegas. Lembro-me do Rui, do Carlos Alberto, da Isabel e do Nuno. O Carlos Alberto fez um trabalho, nem sei bem a propósito do quê, em que incluiu um texto que tinha escrito durante o ciclo. Lembro-me de regressar a casa carregado com pacotes de dois quilos de Sugus, ou com Suchard Express. Conferia-me um certo estatuto ter um pai que trabalhava no marketing. Por causa dos Sugus às catadupas, ou por levar Chupa Chups em forma de apito, antes de serem colocados no mercado, ou do prestígio de participar na escolha do nome do próximo produto: uma listagem com todas as combinações de 4 e 5 letras para sublinhar durante o fim de semana as que faziam sentido: saiu Brasa, essa mesma Brasa - a bebida que aquece o coração. E as filmagens dos anúncios? Isso é que era. A miúda gira da Tofina em Sintra, ou aqueles três dias no Portugal dos Pequeninos a filmar os Sugus. Uns quarenta e tantos graus e os miúdos naquelas fardas de banda de aldeia com a criançada a fazer de adultos a ver a banda passar “sugus de fruta, tantos sabores …”. Ofereci-me para ir buscar 40 cafés para a equipa, num púcaro quase do meu tamanho que me escaldava nas mãos. Sempre muito bem tratado, afinal de contas, eu era o filho do cliente.
Antes da faculdade voltei aos escritórios. Durante um mês, para trabalhar e lá estava o cheiro a café. Sempre o mesmo cheiro delicioso do café torrado. Ainda hoje, quando entro na Nespresso, que ironia, a loja de café daquela que era a grande concorrente, ainda me faz lembrar a Tofa e o escritório do meu pai.
terça-feira, maio 04, 2010
Quinhentas por dia
Agora a sério. Então eu morro às 500 vezes por dia e o médico acha isso mau? Eu acho normal. O que não acho normal é a inexistência de festejos em cada ressurreição. Então o Outro que deu de si, e ainda por cima para dar de si, foi preciso fazer aqueles quilómetros todos, mais a cruz, mais os espinhos e ainda ficou para lá prespegado na torreira do sol durante uma data de tempo, e ainda se queixou que os técnicos não sabiam o que faziam e demorou três dias até ressuscitar e sabe Deus o que teve que fazer para o conseguir. Dizia eu então o Outro que ressuscita passados três dias, e há dois mil anos que se festeja o evento com vigílias, e lava pés e jejuns, e borregos, e procissões, e mais a cruz a passear na aldeia a ser beijada por toda a gente que este ano foi um disparate em soluções anti gripe A para manter a tradição, que até acabou tudo bêbado porque se esgotou a solução e untaram aquilo com aguardente e ninguém parava de beijar o Homem, e mais os ovos, e os coelhos, e tolerâncias de ponto à quinta à tarde que transformam qualquer empresa à quinta de manhã numa cresce publica, e eu que ressuscito à média de 20 vezes à hora, e acho que eles sabem o que fazem, mas nem a uma porcaria duma gala da TV eu tenho direito? Desculpem, mas acho um bocadinho desequilibrado. Chamem-lhe inveja, chamem-lhe ciúmes mas também quem não sente não é filho de boa gente e um gajo sente estas coisas. Mexe comigo, prontos.
Menos mal, vejamos o que diz este segundo exame. Mas vou já avisando, que se voltar a dar que morro em demasia, não se atrevam a chibar-se aos empregos e às seguranças sociais que vão logo arranjar maneira de dizer que ando a descontar tempos que não estou vivo, e que afinal nestas condições só me posso reformar lá para depois dos 80, que eu ando a fingir que vivo, e que não tenho direito ao ordenado por inteiro e o camandro. Se se puserem com essas merdas, ficam já a saber que vou reivindicar os subsídios de ressurreição e pensões de alimentos para os dependentes para cada vez que me baldo. Ficam, portanto, desde logo avisadinhos.
domingo, abril 18, 2010
Regressos
bQuase num acaso, no meio do meu facebook, descubro a minha prima a tornar-se amiga de um utilizador "Formigueiro Memórias". E memórias é o que não falta, quando se trata do colégio que tinha a forma de um castelo. Memórias de tantas coisas boas, dos recreios e das brincadeiras, de um armário de guloseimas, da sala de música, do cheiro da cantina, do elevador, das janelas às cores, da escada de pedra no recreio, dos banhos de mangueirada no regresso da praia, das festas de Natal, e das pessoas. Andámos lá tantos de então. Eu a minha irmã, e os meus primos, os Geadas também e os Cabanelas, e eis que o facebook, em tiques de máquina do tempo, nos leva de regresso à escola em forma de castelo, à terra dos sonhos.
quinta-feira, abril 15, 2010
Cuidados Intensivos
Eu diria que o homem, digo, o Deus, está de rastos e até nem acho que tenha a ver com as barbaridades a que vai assistindo sobre a Igreja e a pedofilia.
terça-feira, abril 13, 2010
Sobressalto
segunda-feira, abril 12, 2010
Descoberta Científica
Acho que descobri porque é que os monges tibetanos conseguem levitar. Têm a ver com uma gestão cuidadosa da flautelencia.
terça-feira, março 23, 2010
Dia do Coxo
Andamos pois todos coxos e este é um dia que a todos nós diz respeito. Descubram o coxo que há dentro de cada um de vocês e festejem o dia. Vão ao pé coxinho para casa e joguem à macaca.
terça-feira, março 16, 2010
Pequenas aprendizagens de fim de semana
2. Se, por ingestão excessiva de caipirinhas, deixar cair o telemóvel na sanita, enfie-o numa taça cheia de arroz para que este absorva a humidade. Também serve para outras razões que o levem a deixar cair o telemóvel na sanita. Findas 24 horas, o telemóvel estará praticamente operacional. Aproveite e faça arroz de sms's.
terça-feira, março 09, 2010
Na sala
A parte da frente da carteira, tem um tampo, e debaixo do tampo, tem espaço para as pernas. Parece impossível que as tuas nunca lá estejam e andem, como a agulha de uma bússola estuporada, sempre longe do local criado para o efeito. Gostei tanto de ler na tua classe, de já saberes da letra t e de a colares ao contrário na folha de papel. No recreio, ia-me dando a tronglamongla de tanto rodopiar os teus amigos rumo ao infinito e mais além. Aquele jogo do pisca pisca, é um bocadinho panhonhas. Piscar o olho uns aos outros é panisgas. Hás-de pedir à Professora Emília para vos ensinar a jogar ao bate pé que é muito mais animado e confere horas intermináveis de gestão da autoestima.
Adorei assistir à tua aula, e ganhei um quadro de pirata lindo. Agora já quase sabes ler, e finalmente a taxa de analfabetismo lá de casa regressa a zero, após onze anos consecutivos de valores acima dos 20%. É verdade, quando souberes escrever, lá para Maio, evita fazer panfletos insultuosos aos teus irmãos, como o Manel fez aos cinco anos.
quinta-feira, março 04, 2010
Nos lugares improváveis
Assíntota de uma curva é um ponto do qual esta se aproxima à medida que se percorre a curva. Quando essa curva é o gráfico de uma função, as assíntotas são as rectas que acompanham a função quando alguma das suas variáveis anda perto de infinito. É deste conceito que gosto. Da proximidade de duas realidades perto do infinito. Como as rectas paralelas que dizem combinam encontrarem-se por lá. É deste conceito que gosto, do da companhia em lugares improváveis. E então, e assim já tudo pode ser matemática. Já me é permitido dizer que o pote de ouro é a assíntota do arco-íris, que o céu é a assíntota do mar no horizonte, e que a estrada é a assíntota da copa das árvores. São a companhia em lugares improváveis. Agora quero ser a curva de uma qualquer função de amor, e quero-te sim, assíntota nos lugares improváveis, tão perto de mim quando algo tende para o infinito.
segunda-feira, março 01, 2010
Pasmaceira
Fui calmamente trabalhar, e no trajecto, parecia um profissional da condução de Domingo. Fiz três quilómetros atrás de um TIR carregado e cheguei a atingir 30 km/h. Deixei passar toda a gente nas passadeiras e não buzinei à senhora das muletas que atravessou na diagonal. Nas rotundas, deixei esvaziar todos os afluentes até entrar e demorei uns 40 minutos para lá do que seria necessário até chegar ao emprego. Mas não me enervei nem um bocadinho.
Já no trabalho, entrou um senhor aos berros com a minha equipa e até lhe pedi de forma muito tranquila, que usasse os canais criados para o efeito (entenda-se comunicar a desconfiança que algo não está de acordo com o estipulado).
À noite hei-de estar harmoniosamente em família. Os Marias vão a jogar à bola no corredor, formatar o disco do meu computador, destruir-me a Farmville e até podem fazer enchidos no tubo do aspirador, que eu muito pacientemente hei-de pedir-lhes para estarem um tudo nada mais sossegados.
Este aparelho aparentemente só mede, mas faz mais que uma caixa de valiuns. Acalma muito. O problema é que nos transforma nuns sabonetes, mosca mortas, capazes de verter baba, alforrecas, songamongas muito, mas muito irritantes. Não há-de faltar muito para o tirar do pescoço e arrancar os fios das mamas, que pareço uma playstation muito wire e pouco less, e ligar esta coisa ao segurança aqui da entrada que, esse sim, tem os batimentos cardíacos de um pargo congelado e demora 10 minutos a entregar um simples cartão de acesso. Amanhã cedo, saco-lhe o engenho e entrego-o conforme combinado para a leitura e interpretação adequada.
quarta-feira, fevereiro 24, 2010
QA
"Ó presunto, vai-te embora que não estás saboroso. Anda cá tu, paiosinho que vais já parar a este pãozinho e vou-te comer. Ai vou, vou."
Então o miúdo não podia optar por algo mais intelectual ? Falar com livros ou com discos pronto. Tinha que ser com comida ? O que é que se segue ? Vai-se armar em Jesus Cristo e escolher uma dúzia de ovos para apóstolos: "Tu estás estragado, deves ser o Judas" ?
Não faço ideia se o QI é alto, se o QE é interessante, mas o QA - Quociente Alimentar é um assombro.
domingo, fevereiro 21, 2010
Carta à Berta, digo à Paula
Mais uma vez, mea culpa, e fruto de uma educação afastada da cultura de Paris e Nova Iorque, mas não consigo gostar daqueles quadros. Em contra-mão, o edifício da Casa das Histórias é genial. Gosto de arquitectura.
O homem almofada que convence as crianças a suicidarem-se, ou a senhora que, na cadeira, cose o sexo do menino, vão ser ultrapassados num instante. Segundas quartas e sextas, das seis às oito da noite. O psicólogo foi muito compreensivo e faz descontos de grupo. Só tenho que pagar duas consultas para eles os três. Dois aninhos nisto e os três Marias ficam como novos.
quarta-feira, fevereiro 17, 2010
Quarta Feira de Cinzas
Carnaval sem pistolas, não era carnaval, e bisnagas são coisas de menina. Pistolas só eram pistolas se tivessem fulminantes, de preferência daqueles em formato de tambor para o estoiro ser mais real. Além dos fulminantes, havia os estalinhos que, se comprados às centenas, garantiam uma quantidade de pólvora razoável. E ainda tínhamos as bombas chinesas que, além de pólvora ainda forneciam rastilhos. Por fim as bombas maiores. Essas sim, necessitavam de algum cuidado no manuseamento, mas garantiam sempre um efeito sonoro e visual invejável. Além destes materiais explosivos ainda haviam umas tiras que se raspavam na parede e se estalavam dentro das mãos fechadas em concha e as conhecidas bombas de mau cheiro que estavam fechadas dentro de umas mini-lâmpadas de vidro.
Toda esta geração a que pertenço, durante a festiva época do Carnaval, manuseou de forma displicente um poderoso arsenal de artefactos. À luz dos actuais paradigmas e normas, devíamos estar todos manetas-ou-mortos vítimas de acidente, ou presos-ou-a-monte por pertencermos à ETA, ou recrutados pela Al-Qaeda para integrarmos as fileiras da AAJS Assim-Assim-Jovens-Suicidas.
Se já vivi tanta coisa no Carnaval, haverá alguma coisa que me impressione nesta época de foliões? Há sim senhor. Faz-me uma tremenda espécie, a cópia sem qualidade das tradições carnavalescas do outro lado do atlântico, que inundam os desfiles do nosso país, com falsas mulatas em hipotermia extrema e parcos trajes de lantejoulas de lojas de chineses. Aquelas mulheres correm risco de vida, a desfilar naqueles preparos sob temperaturas quase negativas. Metam uma coisa na cabeça: o aquecimento global esqueceu-se de nós, e quando mais precisamos dele, teima em abandonar-nos. Não há nada a fazer, o nosso carnaval não se festeja acima dos 30 graus. Está sempre um barbeiro que o senhor nos acuda. Deus me perdoe de escrever isto: Vistam as gajas. Tapem-nas. Elas não estão a sambar. Estão a tremer de frio.
quarta-feira, fevereiro 10, 2010
O Tasco de Alvalade
O sr ZéDungas, proprietário da tasca lá do bairro, marcou para esta terça feira, uma degustação de petiscos. Coisa fina, bem se vê, com direito a orelha de porco, punhetas de bacalhau e pipis na ementa. Ora o ZéDungas, que anda nestas coisas há muitos anos, sabe que cada vez que se aplica na ementa, lhe aparece o Adérito Zarolho mais o seu grupo de amigos que, além de apreciarem a degustação, carregam no apreciar e fazem sempre estragos. Partem uns copos, insultam os outros clientes, e não seria uma estreia se provocassem desacatos com contornos violentos. Consciente do chamariz que a degustação provoca, o sr ZéDungas contratou um serviço de acompanhantes, amigos seus lá do bairro, de porte robusto e cara de poucos amigos. A troco de umas saladas de polvo e umas bejecas, estes acompanhantes garantem que o Adérito Zarolho e os seus amigos, entram no tasco ordeiramente, sentam-se de forma civilizada, apreciam a degustação e não chateiam mais ninguém, até porque lhes está reservada a parte dos fundos do estabelecimento.
Ora a casa já estava meia cheia com os clientes habituais e a azáfama na cozinha já era muita. Os pezinhos de coentrada já levavam um bom avanço e os clientes iam preenchendo os bancos corridos da sala principal. Nisto eis que chega o grupo do Adérito Zarolho, que até já devia ter chegado mas como o Mancos se atrasou, acabam por chegar rodeados pelos acompanhantes, dispostos a garantir a entrada ordeira dos rufiões. Tudo muito bem, não fosse a circunstância, de terem que impedir a entrada dos restantes clientes, para dar lugar à entrada do Adérito Zarolho e seus amigos. Tudo muito bem, não fosse o facto de terem demorado uma eternidade a entrar e a sentarem-se. Tudo muito bem, não fosse o caso de, após restabelecida a ordeira entrada dos restantes clientes, já estarem vazias as travessas dos pezinhos de coentrada e das punhetas de bacalhau.
O Adérito Zarolho e os seus pares, chegaram depois da hora combinada, puderam escolher da ementa completa, fizeram trafulhice na conta e ainda apanharam tosga tamanha que espantaram muitos clientes. Os pacatos clientes que chegaram antes da hora em que marcaram mesa, ficaram à espera a ver desfilar o Zarolho, perderam a degustação dos pezinhos e das punhetas e ainda aturaram os excessos do desordeiro grupo.
O ZéDungas, que anda há tantos anos a virar frangos, devia fazer algo mais pelos seus clientes. É que o petisco, por melhor que seja, nem sempre merece o esforço.
Se isto acontece na tasca do ZéDungas, não é menos verdade que também acontece no estabelecimento do José Eduardo Bettencourt. É que tenho aqui uma pergunta entalada: “Se eu cheguei meia hora mais cedo com a família toda ao estádio, porque é que tive que esperar que as atrasadas claques do Benfica entrassem, para só então, após longas filas e esperas e conselhos para não exibir sinais externos de um de um outro clube, me conseguir sentar já com meia hora de jogo disputado?”
sábado, fevereiro 06, 2010
Porque hoje é Sábado
- Bom dia, cinco bilhetes para o jogo de terça feira
- Só lhe posso vender dois
- Desculpe ?
- Só posso vender dois a cada pessoa.
- Mas então nós somos cinco. Eu, a minha mulher e os nossos três filhos.
- Pois. Só posso vender dois. Se quiser compra dois, sai da fila, volta a entrar e compra mais dois, e depois sai da fila, volta a entrar e compra mais um.
- Olhe, eu nem vou dizer a minha opinião sobre essa sugestão. Pior que isso, até vou cumprir essa estratégia. Mas garanta-me que os cinco lugares são seguidos, que a ideia é vir com a família ao futebol.
- Sim senhor. Eu guardo-lhe aqui os cinco bilhetes e vai entrando e saindo da fila. De certeza que quer os cinco.
- Ó minha senhora, então se eu lhe disse que venho com mulher e três filhos ao futebol, não se preocupe que não vou embora enquanto não tiver os cinco bilhetes. Todos juntinhos como já disse. (se eu fosse o Sá Pinto já tinhas levado uma cabeçada no meio dos olhos)
Passou-me os cinco bilhetes para a mão sem que tivesse que andar a entrar e a sair da fila. Fiquei meio aparvalhado. Quer pela regra, quer pela sugestão, quer pelo desfecho. Fraca prestação durante todo o tempo, e nos descontos lá fez alguma de coisa de jeito. É definitivamente do Sporting.
Porque hoje é Sábado, toca de ir andar de cavalo após meses sem lá pôr os pés. Aquela coisa do trote elevado dá-me cabo das pernas e do rabo, que vai ficar em mau estado durante três quinze dias. Aquilo já não estava a correr lá muito bem, tudo muito tirado a ferros, até que se me saltou um pé do estribo, e o rabo cai todo para esse lado. Perante a eminente queda, já eu me preparava para mergulhar de cabeça na areia, o cavalo pára o trote, os meus filhos riem-se a bandeiras despregadas, o professor diz para eu me agarrar ao pescoço do animal, e após muito esforço, cãibras na perna, pescoço do bicho e cerca e sela a servirem para me içar, lá me consigo sentar no dorso do pobre animal que ainda hoje está pensar de mim, o que eu penso da senhora das bilheteiras de Alvalade.
Porque hoje é Sábado, e os mais novos estão encaminhados em programa com amigos, que tal uma ida ao cinema com o mais velho? Woody Allen para estreia cinéfila de filho mais velho com os pais. No Londres para ser evidente a semelhança. Eu a ir com os meus pais ao Londres ver um filme de Woody Allen há 35 anos atrás. Há coisas boas que se repetem, e este programa do Maria mais velho a fazer de filho único, lembrou-me tanto as idas ao cinema com os meus pais.
Porque hoje é Sábado e o dia já vai pouco cheio em peripécias, um dos hamsters fugiu da gaiola e foi dado como desaparecido. Revirar marquise de pernas para o ar e nada de bicho. A dispensa, deixa lá ver a dispensa. A dispensa cá de casa é uma espécie de puzzle onde vai parar mais ou menos tudo. Ferramentas, panos, aspiradores, caixas, electrodomésticos em desuso e outros ainda a uso, vão-se amontoando ao lado da arca frigorífica por baixo das prateleiras de mantimentos. O estupor do roedor lá estava debaixo de mil e um artefactos, e dos panos já tinha feito um ninho, e como o bicho estava armado em senhora da bilheteira do Sporting, assim que achou que o ia agarrar enfiou-se no motor da arca frigorífica, o que multiplicou por 10 a dificuldade em apanhá-lo, mais a mais porque os Marias guinchavam a cada investida para o agarrar.
Só faltava agora, e porque hoje é Sábado, o Benfica estar empatado com o Vitória de Setúbal e falhar um penalty já nos descontos.
quinta-feira, fevereiro 04, 2010
Abandono do lar
As quartas são dias complicados e sendo assim recorro à ajuda da babysitter R. para banhos e jantas. Cheguei tarde a casa, de forma a garantir que ela já tinha tratado destes temas, mas que ainda havia tempo para me dar banho a mim. Devia estar com pressa porque não partilhou a minha visão sobre este tema. Brincadeira, chocolates ilícitos, história para adormecer e vai disto. Antes das dez já babavam as fronhas da almofada.
Que raio de coisa isto de adormecer sozinho e acordar com dois homens na minha cama. Um quarto de hora mais cedo, por causa das roupas e pentear aqueles cabelos, que se fossem carecas como o pai a coisa tornava-se mais simples. Nada disso. Só o Sirenes tem um cabelo ralo e reles como o meu. Ai porra que já estão no carro e me esqueci que era dia de futebol e de taikondu e têm que ir equipados e com barras nesquick na mochila, tudo para cima, para reconfigurar os conteúdos das mochilas. Olha, acho que deixei roupa à chuva. Paciência hoje ao fim da tarde meto-a no forno e dez minutos no duplo grill ventilado hão-de conferir-lhe grau zero de humidade. Bem sei que não é a solução ideal, mas o microondas está avariado.
Lá vão para a escola com umas roupas meias esquisitas, de cores que não combinam. Hoje vão mascarados de instalação da Joana Vasconcelos. Cheios de cores e formas estranhas.
Deixa-me mas é ir trabalhar que não tarda tenho que os ir buscar e fazer o jantar e banhos que a babysitter faz-se pagar caro e ainda por cima não há meio de a por a dar-me banho, pelo que hoje está dispensada. Para o jantar fazemos uma coisa marcante. Um fondue ou bifes na pedra, para ficarmos com o cheiro em casa até terça feira, sempre disfarça o facto de ontem ter fumado na sala e o tema tem estado na ordem do dia desde o fim de semana. Será que o mais velho levouo telemóvel? Não combinei nada com ele sobre o tema “Horas de regresso a casa”. E a roupa para a engomadoria ? Não esquecer de a tirar do forno.
Vai tudo estar um brinco no regresso. De certeza. Há um prato partido, mas apareceu nesse estado dentro da máquina, não faço ideia como.
sexta-feira, janeiro 29, 2010
iAminhavida
Rituxa D'Orey olha-se pela última vez ao espelho, ainda com o larilas de ar babado atrás dela. Gosta do que vê. Sempre gostou aliás. Aquele rapaz era o único que parecia dar vida ao seu cabelo. Ficava sedoso, ganhava tons e formas leves, sem nunca perder a postura:
- Está lindo Zeca, mais uma vez. Quinta passo cá, antes da vernissage. Só para dar um jeito e pentear. Como só tu sabes meu querido.
O larilas engoliu em seco. Fez uma pausa, abanou a anca e avançou a medos para a resposta:
- Sabe o que é Rituxa? Quinta prometi que levava a minha tia ao médico. Anda com umas cólicas nos ossos que não se aguenta. Finalmente lá conseguiu consulta e eu prometi levá-la lá. Só cá estou durante a manhã.
- Ai que maçada. E agora como é que vamos fazer? Eu não posso chegar lá com aquele ar de gata borralheira. Ai ó Zeca faça lá como entender, mas não me abandone quando mais de si preciso. Fico à espera que me telefone a dizer a que horas me penteia entre as 5 e as 8. Não me faça uma desfeita destas.
Dentro da mala, o gadget de Rituxa desperta e prepara-se para os desabafos. Regista todas as queixas, os problemas, e os desabafos, dá-lhe palavras de apoio, mostra-lhe imagens onde aparece divina, oferece-lhe um chocolate para a acalmar, sugere argumentos para colocar o jovem cabeleireiro desconfortável, transforma-se uma bola anti stress e elogia-a de forma desmesurada.
iQuemaçada é um dos gadgets que a Apple criou para desabafos e stresses do dia a dia. Destina-se ao público feminino das classes alta e média alta.
Além do iQuemaçada, fazem parte desta linha o iAminhavida, destinado a crianças, o iAmerda para adolescentes, e por fim, o topo de gama: o iOcaralho que cobre um vasto publico alvo e possui múltiplos modos de funcionamento. Do trolha ao executivo, do desabafo ao insulto, este gadget pode ser usado em reuniões de trabalho, a conduzir, a interagir com gerentes de restaurantes, em idas ao futebol, em sessões parlamentares e em reuniões de condomínios. Só para aguçar o apetite dos mais curiosos, este brinquedo para adultos, consegue fazer toda a conversação com as linhas de apoio a clientes e as linhas de apoio técnico das mais prestigiadas empresas de comunicações: PT, Clix, Meo, CaboVisão, Zon, TMN, Optimus e Vodafone. Para os amantes de futebol existe uma edição exclusiva assinada por Sá Pinto.
Os preços destes pequenos grandes génios serão divulgados ainda no decorrer do primeiro trimestre de 2010.
quarta-feira, janeiro 27, 2010
Ponto de Situação
Todos os anos, por esta altura, o colégio agenda uma reunião entre pais e cada um dos professores. O objectivo é saber a quantas anda o educando e perceber como se pode corrigir os pontos de maior dificuldade. Cada professor tem a sua secretária e os pais vão fazendo fila para ir falar com os professores que entenderem. Há-os de todos os tipos. Os que só falam com o director de turma, os que falam com todos, os que falam com os mais giros, os que falam com os das disciplinas em que o filho mais se espalhou, e os que falam com as que têm mamas maiores. Estava tentado a combinar as duas últimas modalidades, mas a hora a que cheguei empurrou-me para a escolha dos que têm menos alunos para atender e se conseguisse ainda falar com os das disciplinas onde o bochechas mais patina. Quando cheguei senti-me como se estivesse no hipermercado e tivesse que ir ao talho, peixaria, padaria, charcutaria-carnes e charcutaria-queijos quase em simultâneo. Senhas de todos nas mãos e ver onde é que me chamavam primeiro. Perdi a vez na charcutaria-queijos porque estava a ser atendido na peixaria. A mulher da fruta não estava a tender e portanto fechou a banca. Que merda, logo a fruta onde ele mostra algumas carências.
Falei com o de Educação Física, depois com o de EVT (não fazia ideia o que era EVT, mas na conversa lá percebi que tinha a ver com Educação Visual e Trabalhos Oficinais), segui para o de Educação Cívica e Moral mas que afinal não era professor do bochechas e portanto voltei para a fila. Seguiu-se História e Geografia, Inglês, Matemática e Educação Musical.
Além das mensagens importantes, que deram direito a uma sessão de auto avaliação enquanto tratava do jantar, descobri a existência de uma diferença entre o que se passa na escola e o que é contado em casa. Nem comento, só relato:
O que se passou na escola:
Prof – É natural que tenhas dificuldade em aperfeiçoar o teu desenho. Tens uns lápis de cor muito rijos que dificultam a pintura. Era bom se pudesses ter outros mais moles.
Bochechas - Neste momento vai ser difícil comprar. Tenho muitos encargos financeiros com os hamsters.
O que chegou a casa:
Bochechas – A professora disse-me que se não comprar lápis bons, nunca vou conseguir ter boa nota a EVT.
Nós – Vamos ver o que se conseguimos comprar. Mas não é para estragar tudo na primeira aula.
O caso encontra-se em análise em conselho familiar. Os bichos até podem não ter culpa, mas era um bom pretexto para ver como se safam no remoinho do autoclismo.
sexta-feira, janeiro 22, 2010
Escresafio-me
Gosto das escritas, das palavras, palavra que gosto, do seu gosto, do seu agre do seu doce, adoço-me na textura das palavras escritas em papel, ou das cores de palavras pintadas nos muros, das palavras de ordem, da ordem trocada nas canções, das palavras gritadas em uníssono, gosto de "Golo "e de "Liberdade", decoro-as sem saber. Sabes que gosto das palavras ditas, gosto do som que lhes dá forma, gosto do som da palavra índole e da palavra resenha e das que me fazem atrapalhar a língua como "displicência" ou "Massachusetts". Gosto de as ver reféns na métrica de um poema, gosto de poemas sem métricas, gosto de palavras cúmplices das pontuações, do ponto de espantação como o'Neil lhe chamou, das reticências, da interrogação e da palavra vírgula. Gosto das palavras novas, googleio-as com gosto. Gosto da escrita criativa, e dos seus tantos escritores. Um dia ao calhas, Agosto, a gosto, escrevo uma canção.
quarta-feira, janeiro 13, 2010
Querido Pai Natal:
E eu sou obrigado a aturar isto? Não me parece. Esquece a argumentação que também tens renas porque isso é uma opção tua. Tal como os ratos lá de casa. Portanto, neste contexto, sugiro que os substituas por uns que trabalhem a pilhas e que não se urinem. Para perceberes o desespero, confesso que já pensei em empalhá-los e transformá-los em capas para os ratos dos computadores. Também já pensei em comprar uma cobra para por no aquário e resolvia de uma só vez o problema da trabalheira que tratar dos aquários, o problema dos ratos e o problema da alimentação da cobra.
Grato pela atenção.
terça-feira, janeiro 05, 2010
Regressos
No Domingo, em fim de férias, contagem decrescente para as azáfamas, uma ida a Mafra visitar o convento, aposentos reais e a biblioteca.
Desde a altura da recruta, chegar a Mafra dá-me um nó no estômago. Aquela puta angústia de Domingo à noite a tentar adivinhar a semana seguinte, mal disfarçada em graças cretinas de caserna. Sempre que chego a Mafra, faz-se esse nó no estômago, como o despertar um cheiro escondido num recanto longínquo da memória. Parece-me sempre que estou lá outra vez, enfiado naquela farda e naquelas botas, a passar o portão para a parada. O que acontecia até à sexta feira seguinte ainda hoje me provoca sentimentos contraditórios, entre o inútil e o útil, o exagero e o necessário, o estúpido e o pedagógico, o ridículo e o sensato, o execrável e o lúdico. À distância de todos estes anos, pareceu-me boa ideia mostra-lhes a zona militar do convento. Sobretudo o refeitório dos frades que faz lembrar o salão dos filmes do Harry Potter. Autorizados a fazê-lo pelo oficial do dia, regresso passadas duas décadas, aos corredores de pedra da área militar. Estava deserto e eu a lembrar o frio, os cheiros, os sons, os gritos de ordem unida, os gestos, os nomes em cada corredor como se fossem ruas. Os marias a inundarem o cabo de serviço com perguntas e um turbilhão de memórias na minha cabeça. Chegados ao refeitório e o aspecto simples mas imponente confirma-se. Tudo igual. E a marmelada que ao pequeno-almoço era mau sinal para o esforço que a manhã traria ? E os copos e pratos de alumínio alinhados milimetricamente com a ajuda de cordas esticadas para que tudo parecesse uma formatura? E os soldados a distribuir terrinas e travessas de comida como se de uma parada se tratasse? Depois do refeitório, mais corredores, e salas, e a parada. Agradecimentos feitos ao oficial de dia de acordo com o protocolo. Há tanto tempo que não me punha em sentido. Que coisa. Faria sentido? Gostei de vos levar lá. Gostei de lá voltar.
Na Segunda, sempre a mesma coisa primo Gonças, só nos encontramos nestas merdas. A tua mãe, que porra. É inevitável a viagem no tempo. Estavam lá os teus outros primos, os Geadas e depois é só puxar o fio para virem todas as meadas. O Pipas e o Ricardo e a Rita também lá estavam e faziam parte das histórias todas. Campo de Ourique parecia nosso. O Campo de Ourique de quando éramos super heróis sobre os telhados dos prédios dos Geadas, aqueles em frente à igreja, ou de quando tínhamos a banda. Os Puts. O Rock do Dentista. É a Milú que tem a tape que gravámos naquele estúdio. Cabra. A esta hora deve estar a ganhar milhões com direitos de autor. Havíamos de nos juntar sem ser assim. Que coisa. A tua mãe Gonças.