quinta-feira, setembro 27, 2007

Ditado

Se o que tens para dizer não for mais belo que o silêncio, o melhor é estares calado.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Virgílio e Valentina

Do que ele gostava era a luz a brindar as linhas metálicas até à longínqua curva. Deixava que o sol se aproximasse do horizonte, para que os brilhos se alaranjassem e os trilhos se tornassem oiro. O maior dos segredos da alquimia estava ali aos seus olhos mesmo antes do sol se pôr. A linha de combóio toda ela feita de oiro durante uns minutos. Não pensava em mais nada. Tinha-se habituado àquela vida, guarda cancela num dos tantos fins do mundo, onde tudo acontece à tabela. O combóio correio, o nascer do sol, e ao fim da manhã o regional. A tarde desfaz tudo o que a manhã constrói, e sempre pela mesma ordem excepto em Julho que o pôr do sol tarda. O combóio correio de regresso à capital de distrito, o sol a pôr-se e por fim o regional. A cada passagem do combóio, o mesmo ritual, o apito ao longe, as cancelas fechadas e a bandeira. Se à curva não se notasse pressa na locomotiva, ele adivinhava-lhe a maquinista. Era ela quem guiava o destino da fileira de carruagens, sorriso aberto e olhos pequenos. Jamais lhe dirigiu a palavra, antes o sorriso, sempre retribuído e o brilho nos olhos que só ela percebia na fracção de tempo que a tangente da locomotiva à cancela permitia. Pouca terra, pouco tempo, e o coração compassado com o combóio. Bate que bate, pouca terra pouca terra. Foi assim durante tanto tempo, sempre igual, sempre diferente a cada passagem, a cada sorriso. E quando a chuva lhe abençoava a passagem, escancarava o sorriso molhado.
Hoje, as ervas mal deixam perceber a linha, do casebre sobram as ruínas. O homem que até estudou na faculdade, tinha feito as contas e voltou a fazê-las. Inviabilidade financeira para aquele troço, podia ler-se no relatório de rigor inatacável. Não se referia ao guarda cancela, tampouco à maquinista. Era o número de passageiros e os poucos milhares de escudos dos bilhetes que lhe inferiram o parecer. Mesmo junto à linha, já caída, a placa com o aviso “Pare escute e olhe. Cuidado ao atravessar a linha. Um combóio pode esconder outro.” Um combóio pode esconder um grande amor.

segunda-feira, setembro 24, 2007

A Noite

É sabido que o grupo K muito tem feito pela noite lisboeta e algarvia, e pela promoção de grunhos a porteiros de bares e discotecas, dotando-os da capacidade de distinguir, quem deve entrar ou ser barrado à porta dos respectivos. O poder de análise e decisão destes rapazes continua a surpreender-me. Escolhem clientes com a mesma mestria que o PSD usa para escolher lideres. Acertam uma vez de 10 em 10 anos.
O Kais, a Kapital, a Kasa da Praia, o Kasablanca, o Klube, o Konvento, o Kremlim, o Kubo e os Skones são o paraíso destes grunhos de ego e musculos inflados.
Não me querendo alongar sobre o tema dos moços, gostava de partilhar a ideia que se me deparou para a abertura de um novo espaço em Lisboa ou na Linha: o Konas da Tia. O nome tem tudo para dar certo e pode ser uma tasca, uma casa de fados, um bar de alterne ou a um casino de jogo ilegal.
Além destesucesso garantido, estou também a pensar am abrir o Katanus, o Kamandrus, o Kabroes (bar de divorciados) e um bar de swing o "Kônjuges Kornudus".

quinta-feira, setembro 20, 2007

Quem é quem

Passatempo.
Para a Ana, o André, o João, o Manel e o António, quem é que fez o quê?

Um de nós fez-se convidado(a) para tomar chá e bolachinhas com uma enfermeira.
Um de nós vê um lagarto da Imaginarium no chão e quando o vai arrumar descobre que é uma osga vivinha da silva (paz à sua alma, porque o animal teve um enfarte quando viu o tubo do aspirador a dirigir-se a ele).
Um de nós dorme agarrado a um homem bem constituído e musculado.
Um de nós anda feliz com um novo gadget que chegou lá a casa no final da tarde de ontem.
Um deles disse-me “Não sei porque te penteias. Não há nada para pentear.” e ficou com uma escova de cabelo entalada na garganta.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Sugestão

Para a equipa dos Lobos.
Bem sei que a Nova Zelândia vai ser a modos que para o impossível, daí que na última meia hora de treino diário desta semana, aproveitavam para ensaiar os pauliteiros de miranda. Sempre ficava bonito. Quando os gorilas fizessem o Haka, os nossos Lobos dançavam os pauliteiros de miranda.

terça-feira, setembro 11, 2007

Desce e Sobe


A inconsciência do ciclista existe no prazer das descidas. O prazer do vento e da velocidade, a inconsciência da queda, esquecem a previsível penosa subida do regresso. Também de que valeria a vertiginosa descida, ensombrada pela contrapartida? Cada qual a seu tempo. Primeiro deixem-nos ir à beira mar sem esforço, só mesmo o cuidado da velocidade a que se corta o vento, e os risos e as alegrias. Depois, para o regresso, olhar de frente a inclinação que nos contraria a vontade, pedalar de pé, gerir o esforço e a certeza que uma vez lá chegados, estamos em casa. Só mais um pequeno esforço. És o maior. Não há descida que dure sempre, nem subida que nunca acabe.
No Domingo, do alto da casa de São Martinho até às Dunas de Salir. Ir e voltar. Só os mais velhos. Uma e outra vez. Afinal as descidas fazem-nos rir e as subidas nunca nos fizeram chorar.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Frase

ontem, no pessoal e transmissível, esta frase (ou algo que se assemelha a ela) deixou-me inquieto:
"Mal está o país onde há mais astrólogos que astrónomos"

terça-feira, setembro 04, 2007

Pino Cambalhota


Fazia-lhes bem a ginástica, daí a visita ao ginásio para saber os preços e os horários.
Ir a um ginásio faz-me entrar nos sentidos contrários das sensações. Saudades, mas sobretudo vontade da ardósia nas mãos, da pirueta, do mortal empranchado, a certeza de gargalhar e depois. Bem, depois vem aquela sensação de que há movimentos presos que não valem o risco de os tentar. Foi numa aula de ginástica, depois de algo que ficou equidistante entre o mortal e o duplo mortal, que aprendi, que a seguir à falha, se repete o gesto, para que o medo não nos assalte. Aquele dia vem tantas vezes à memória, quando fico a meio de um salto. É também isso que lhes quero ensinar, a fazer flique-flaque quando é necessário, ou uma dupla pirueta. E depois nunca se sabe quando é que um pino faz a diferença.
Por mim eles vão. Deixa-me cá olhar para os eurários.