segunda-feira, setembro 27, 2010

Tóbis

Tenho andado de Metro. Já há tanto tempo que não andava em jeito de quotidiano. Os parquímetros e o projecto no centro de Lisboa, fazem-me percorrer as linhas subterrâneas e coloridas.
Hoje fui-te ver ao Hospital. A linha Amarela quase toda. Nem de propósito, a saída do metro mesmo colada à Tóbis. Sabes que só sei da Tóbis, porque me apresentaste ao mundo que sabe o que é a Tóbis. Deixemo-nos de fitas. Bons tempos aqueles. Sem dramas.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Horas de Almoço

Com o início das aulas do mais velho, vieram almoços a dois. De homem para … para pré adolescente. O primeiro sob o pretexto do início da escola, e porque as aulas começavam à tarde, enfim, evitar que ele almoçasse sozinho no refeitório da escola. O segundo, passados poucos dias, porque se queixou de umas cólicas e ameaças de febre, e o melhor mesmo era passar o resto do dia em casa em regime de dieta e de marcação cerrada.
No primeiro, dia de estreia no secundário, na escola oficial, fizemos um programa de hamburgers e fomos a pé até ao liceu. Lá íamos felizes de mão dada até que ao fundo, virada a esquina e a uns 500, metros lá se vislumbrou o edifício do Filipa de Lencastre. Quinhentos metros. Foi esse o perímetro marcado para pôr fim à lamechice. Nada de mãos dadas, nem para atravessar a rua, e nem pensar em desejar-lhe “boas aulas” com um beijo. Aquele metro_e_beca_de_gente interditou qualquer manifestação que indiciasse a presença de mimo perante eventuais olhares de futuros colegas. Estupor do pré adolescente, lá isso é coisa que se faça. Ainda equacionei a possibilidade de o deixar entrar, e quando estivesse rodeado dos colegas na entrada da escola, lhe gritar “Joããããããõoooooooooooooooooooo. Está aqui a mãe ao telefone a perguntar se pode por a lavar o coelho que usas para adormecer !!!”
Deixei-o entrar sossegado, que só me iria perdoar lá por alturas do juramento de bandeira.
O segundo almoço, levou-nos a um tasco da nossa rua. Bifes de peru grelhados, que o pré adolescente estava com as tais cólicas. Pego no Correio da Manhã que estava no balcão e levo-o até à mesa. Vou folheando o jornal enquanto lhe mexo a cocacola para lhe tirar o gás e lhe digo que aquele jornal não é muito bom que só fala de crimes. Nem reparo nas páginas que vou folheando, até que os olhos dele saltam das órbitas. “Estás com cólicas João?” ao que ele me responde. “Estás nas páginas das prostitutas” Rabos para todos os gostos nos anúncios classificados. Entorno a Coca-cola e apresso-me a mudar de página até ao sossego de umas páginas com peças jornalísticas. Mais uma vez os olhos precipitam-se com um ar alarmado sobre o jornal. O que foi agora? Na página da direita um casal que foi preso por promover sexo com os filhos e às vezes até com o cão, na página da esquerda um homem assassinado porque lá na aldeia violava as galinhas e chegou a ser apanhado a violar uma cabra. “Que disparate João, deve-te estar a subir a febre. Não está nada disso escrito. Leste mal. Bebe a coca cola e não faças perguntas que ainda pioras. Desculpe, tem algum jornal de desporto em vez deste? Olhe, deixe estar e traga-me a conta.”

segunda-feira, setembro 20, 2010

Socorro

Procura-se peregrino para integrar esta imensa peregrinação aos hipermercados, lojas de desporto, lojas de material escolar e livrarias, e que arrume de uma só vez as três listas que estão lá em casa em fase de resolução.
* dá-se preferência a candidatos que saibam interiorizar conceitos como lixa de papel, diário gráfico, ângulos de um esquadro e papel de manteiga.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Praia Fórum

Afinal gosto de praia. Está bem que a areia nas virilhas é chata, e o sal na pele também, e a sombra é escassa. Mas tem caipirinhas ao fim da tarde e tem fim da tarde que é provavelmente a melhor altura para lá estar. Mas tinha em mim tratar-se de um local com gente maioritariamente bem disposta, e sem lojas. Bem, na realidade, tem o vendedor das bolas de Berlim que anda com um sino para se fazer anunciar. Uma espécie de badalo. O badalo é, para mim, um som de aldeia. Da altura em que os pastores levavam os rebanhos para a serra e passavam à porta da casa de férias. O vendedor das bolas de Berlim leva cestos com bolas. Sem creme, com creme e com chocolate. Com chocolate ??? Que raio de invenção. Não me convenceu.
Além do homem das bolas (salvo seja, Deus me perdoe), há o vendedor de óculos de sol, e o das túnicas que não tem um ar nada simpático, e ainda o dos relógios e malas de marca, e o dos biquinis brasileiros que até tem um terminal multibanco, e o dos colares e pulseiras e também há chineses que fazem massagens. A praia está carregada de vendedores e isso acontece porque está apinhada de compradores. Até vendedores de pulseiras do equilíbrio aparecem. E logo na praia, em que uma pessoa está quase sempre deitado ou a desequilibrar-se de propósito para cair numa onda ou numa toalha. Há vendedores para quase todos os gostos e a euforia das compras instalou-se.
A praia está a transformar-se numa imensa superfície comercial em que os clientes estão parados e as lojas andam a passear de cliente em cliente, o que é cómodo. Aquela história de andar num centro comercial de loja em loja é muito cansativa e esta versão parece-me muito adequada à preguiça.
Aguardo com expectativa a chegada de outras lojas às praias porque há coisas essenciais que não podem faltar num centro comercial.
Um papelaria/livraria, por exemplo, faz falta. Há tanta gente a querer ler jornais, revistas e livros na praia que não se compreende a inexistência de um desgraçado que os venda praia fora.
Faltam ainda os electrodomésticos, os bancos, as seguradoras, as lojas de comunicações, as de desporto, de animais e manicures e pedicures em fartura. E um supermercado, para fazer compras à saída... ar condicionado se fosse possível também ajudava.