domingo, novembro 28, 2010

Bincadeiras com as vogais "a" e "i"

A vida
à vida
há vida
ávida
dádiva
há diva
diva
iva
vai
havai
ai vai
ai vai à vida
ai a minha vida
ai a ida
aia ida
aida
à ida
à vinda
à vida
a vida

Numerus Clausus

Assim de repente este é um pensamento que de vez em quando visita esse lugar estranho que é a minha cabeça. É sobre pessoas que daqui a uns tempos serão médicos e médicas neste país. A nota de entrada no curso de medicina é tão alta que me questiono quanta daquela gente, que acaba o secundário com médias a rondar os 19, é emocionalmente equilibrada ? Eu lembro-me de cada um com média de 19 a quem, juro pela minha saudinha, era incapaz de entregar os meus filhos ou a minha mulher para diagnóstico médico. Tomara que a percentagem de distribuição de gente normalzinha seja semelhante à dos restantes cursos, mas por vezes tenho tantas razões para achar o contrário.
Uns psicotécnicos se calhar ajudavam. A nota de entrada ser ponderada com a inteligência emocional também não me parece má ideia. Aposto que todos ficávamos a ganhar com uma bitola assim mais... coiso.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Diz-se que não escolhe idades

"Uma mulher com esta idade já não vive assim uma paixão. Já não é tempo de perder o apetite, de não conseguir trabalhar, de contar minutos como os reclusos contam dias para a liberdade, de me deliciar nos olhos e nas mãos de um homem, de sentir a euforia e a angústia a diluírem-se intermitentes no sangue, de sentir na extensão de toda a pele a atracção dos ímans, da ideia dele adormecer depois de mim e despertar antes que eu o faça, de perder quilos sem explicação porque o espaço que me ocupa entre o peito e o estômago não se concilia com ingestões e digestões, de euforias com quase nada e de receios com insignificâncias. Já não tenho trinta anos. Mulheres da minha idade não perdem o apetite em paixões, antes engordam atafulhadas em açúcares e gorduras para equilibrar a autoestima desfeita por terem sido preteridas a favor de uma outra qualquer, sem qualquer graça aparente a menos de um par de mamas mais firme. Mulheres da minha idade já não se sujeitam a isto. Então foda-se o que é que se passa comigo ?"

segunda-feira, novembro 15, 2010

Cimeira

uma ova !!! Um gajo acorda mais cedo porque vem trabalhar para a zona da cimeira. Depois das comunicações internas a anunciar cortes e restrições no transito, múltiplos perímetros de segurança, obrigatoriedade revista e verificação de identidade, pareceu-me obrigatório preparar muito bem a ida até ao local de trabalho.
Bilhete de identidade actualizado - confere.
Cartão da empresa com morada - confere.
Cartão de funcionário - confere.
Cartão da fundação Luso Americana - confere.
Pino com o símbolo da Nato - hummm, se calhar é melhor tratar de arranjar um.
Ora então e para a revista caso seja mandado parar
Tudo bem lavadinho atrás das orelhas - confere
Roupa interior decente sem buracos, costuras impecáveis e elásticos tensos - confere
Unhas dos pés cortadas - Elááááá. Agarrar o corta-unhas e tratar de nivelar os excessos
Depois disto encetei a minha jornada até ao local de trabalho pronto para qualquer abordagem de todo o tipo de forças.
E não é que nem uma merda de uma operação STOP me fizeram ? Cheguei praticamente à FIL sem sequer me pararem para perguntar onde é que eu ia, que é para eu responder "vou trabalhar que alguém neste país tem de o fazer".
E fui cortar as unhas dos pés para quê?

quarta-feira, novembro 10, 2010

O diálogo

Percebeste que estava a brincar quando disse aquilo. Afinal foram as últimas palavras que te dirigi e o humor sempre fez parte. Estavas a respirar tão mal e a fazer imenso barulho.
"Pai, a respirar assim parece o Darth Vader. O que me transforma numa espécie de Luke Skywalker. Estou mesmo a ver sacar do sabre de luz aí debaixo dos lençóis e tentar limpar-me o sebo."

Escrevo-o aqui porque quero lembrar-me.

terça-feira, novembro 02, 2010

Para lá da história

Já aqui falei sobre aquela nossa ida ao cinema. Quando eu tinha 10 anos, ou coisa que o valha, e tu me falaste de conseguir ver para lá do que o filme mostrava, de tentar perceber-lhe a mensagem. De ir à busca dessa mensagem como se buscam tesouros. E eu a ouvir-te incrédulo e desconfiado "Que disparate de conversa. Então para lá das imagens.... Mas que raio de mensagem falas tu?"
Depois, e aos poucos, fui percebendo o que me querias dizer e lá fui sabendo descobrir, aqui e ali, a mensagem para lá das imagens. A história para lá da história.
E hoje pai? E hoje à frente de tanta gente que te homenageava na partida, e eu a precisar tanto de conseguir perceber para lá das imagens. E hei-de consegui-lo, mas por ora a imagem é só a ausência de ti e o vazio imenso.