quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Zeca

Aquele 45 rotações, guardado no meio de tantos outros no dossier dos discos pequenos, é das poucas memórias da censura, que tenho comigo. Aquele single, em particular, não devia ser mostrado a ninguém, nem devia ser cantado fora de casa. Diziam-me que a polícia não gostava que as pessoas o tivessem em casa, e podiam prender quem o tivesse.
Num dos lados, o homem que cantava numa voz transparente e numa sonoridade diferente, falava de uns vampiros que comiam tudo e não deixavam nada. Do outro lado do vinil, o mesmo homem, numa música que ainda hoje me prende a atenção, cantava a condição dos meninos dos bairros de lata. Os meninos do Bairro negro.
Final feliz, o desta história, porque passado pouco tempo, já se podia cantar à vontade.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Lisboa Antiga

Hoje vi uumas fotografias da zona do aeroporto de há alguns cinquenta anos atrás. Comecei-me a lembrar da Lisboa da minha infância. As amoreiras eram um estacionamento para os autocarros da Carris. O largo do rato não tinha socalcos. Só havia um ou dois túneis - em Entrecampos. As ruas quase todas em paralelo. O Chiado e os armazéns do Grandela. Um teatro meio em ruinas onde o meu pai nos levava à saída da Brasileira. O Dona Maria no Rossio antes de recuperado. As luzes e o frenesim do Parque Mayer. O prédio das Franjinhas com um ar novo e moderno. Eléctricos por todo o lado. Uma enorme rotunda em Alcântara onde, no verão, se apanhavam boleias para a Caparica. Tantos cinemas. O cinema Europa, lá do bairro, o cinema Paris, o Jardim Cinema, o Monumental - foi na sala pequena que vi o primeiro filme da Guerra das Estrelas, o São Jorge, o Império, o Estúdio que sempre foi tabú lá em casa (havia quem tivesse pânico de um terramoto), um cinema na igreja da Nossa Senhora de Fátima, o Star na Guerra Junqueiro, o cinema Alvalade. O Apolo 70 e o restaurante lá de baixo que parecia um labirinto. O moderníssimo Imaviz. O avião no parque do alvito e Montes Claros. Os corredores por baixo das bancadas do pavilhão dos desportos, onde aquecíamos para o Sarau do Ginásio Clube. Desculpem lá este post, que mais parece uma lista de entradas na memória, mas entusiasmei-me à medida que a fui percorrendo.
Mudaste tanto, mas ainda tens todo o encanto.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Ser benfiquista ...

Eu, às vezes, sou sócio do Benfica. O que quer dizer que outras vezes não sou. Intermitente portanto esta minha relação mais próxima com o glorioso, mas sempre leal. Agora estou numa fase de não sócio até que me dê na bolha mudar de estatuto mais uma vez. Foi já na adolescência que me fiz sócio pela primeira vez e fizeram-me esperar umas semanas para receber o meu primeiro cartão.
Recebi-o em dia de Benfica - Liverpool . Nessa altura, os jogos começavam às 9 da noite, mas ao início da tarde já eu lá estava para viver todo um dia de emoções. Se bem me lembro, o Liverpool jogou de amarelo, e a coisa correu muito mal para quem se estreava como sócio do Benfica. Hoje, na qualidade de não sócio, tenho a certeza que tudo será diferente (claro que se não for, acabo por vir aqui dar uns toques a este post). Viva o Benfica !!!

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Redescobrir



... contam-se pelos dedos as vezes que a vi cantar. Sempre por lembrança de alguém na RTP, sempre o mesmo concerto, preto e branco cheio de cor, a mesma roupa, as mesmas músicas.
Não existem mãos para contar as vezes que a oiço, sempre a redescobrir algo de novo, de cada vez que a escuto.
Apareceu à minha frente um DVD de um concerto que eu nunca vira. As músicas que eu conheço de tanto as ouvir e de a imaginar nessa entrega. Não consigo descrever o que sinto ao vê-la assim. Sempre a mesma pergunta a chatear. Afinal porque é que num repente tudo parou ...

Peúgas

Afinal que fenómeno é este ? Que secretismo envolve tantos desaparecimentos, ao ponto de silenciar todos aqueles que sofrem o horror deste flagelo ? Ninguém comenta em público este drama, mas estou convencido que ele é conversado em surdina na privacidade de cada lar. Porque é que os media não mencionam este fenómeno ? O que receiam ? Que poderes instalados são cúmplices destes desaparecimentos ?
Estou a falar dos pares de meias que deixam as outras na solidão da gaveta. Onde é que andam os pares de meias que saem das nossas casas sem sequer avisar ? Todas as semanas desaparecem milhares de meias e ninguém fala do assunto. Porquê? Onde é que elas estão ? Não se vêem meias na rua abandonadas. Mas elas existem aos milhares. As que ficam estão destinadas aos caixotes de lixo ou a fazer de trapo. As que têm sorte ficam para fantoches ou para bola de trapos, mas a maioria está destinada ao abandono. As pessoas perdem carteiras, chaves, animais e meias. Das carteiras, das chaves e dos animais acaba por se ter notícias. Nem sempre boas, mas têm-se notícias. Das meias não. E nós encontramos, ao longo da nossa vida, animais, carteiras e chaves perdidas por outros. Meias nunca encontramos. Se toda a gente perdesse um cão ou um gato por semana, a rua estava atafulhada de cães e gatos sem paradeiro. Todas as famílias perdem pelo menos uma meia por semana e elas não estão em lado nenhum.
De um episódio do Ren & Stimpy vem a explicação para o fenómeno. Todas as meias que desaparecem deixando o seu par na terra vão parar a um planeta distante formando uma enorme montanha de peúgas. O cheiro a chulé desse planeta é insuportável  e ninguém se consegue aproximar dele. Eu acredito nesta teoria, e acredito que as máquinas de lavar roupa e os cestos da roupa são extraterrestres provenientes desse planeta capazes de desmaterializar peúgas. Infelizmente a tecnologia deles não está bem apurada e  não as conseguem enviar aos pares. Ou então são extraterrestres daltónicos e enviam sempre duas de pares diferentes.
Agora já sei o que fazer às peúgas coloridas da feira. Vão andar sempre algures entre o cesto da roupa e a máquina de lavar para enganar os extraterrestres. Pode ser que deixem em paz os meus parcos pares em uso.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Feira (continuação)

Por motivos óbvios, resultado de um planeamento rigoroso, há uma pessoa da família que sabe exactamente o que quer fazer e onde se deve dirigir: a todas as bancas sem excepção vasculhar tudo. Eu e os Marias andamos aos ziguezagues estimulados por guinchos que anunciam maravilhas a poucos aéreos. Mais um encanto daquele local. A unidade monetária. A unidade monetária de qualquer feira é o aéreo. É em quase tudo semelhante ao Euro mas só vai até cinco. Nada na feira custa mais que cinco aéreos, e se se encontra alguma coisa mais cara que cinco aéreos, deve ser motivo para desconfiar. Cada vez que ponho os olhos nalguma destas maravilhas de poucos aéreos, perco a atenção sobre os restantes elementos da expedição. E o mais ridículo é que sei que me vou perder da guia, e vou deixar fugir os Marias todos. Tenho um vendedor à frente que me demonstra que aquele maço de peugos foi feito exclusivamente  a pensar em mim, e eu, em vez de lhe dar atenção, estou a pensar “Não devia ter feito isto. Quero lá saber dos peúgos. Já não sei dos meus filhos e da minha mulher. Vou morrer aqui isolado. Onde é que eles  se meteram? Estou a ficar mal disposto.” O homem pergunta-me quantos maços de peúgos quero levar. Desato aos berros “Annnnnnaaaa. Joããããããõoooooo Maaannnneeeelllll”. Acabo por levar dois maços de peúgos de várias cores que nunca irei usar. Talvez os vermelho-sangue-de-boi tenham algum uso. Ainda não os encontro. Ir à feira é como ir para à Caparica em Julho. É preciso atar-nos uns aos outros ou usar pulseiras electrónicas.
Como é que eu vou encontrar a Ana e os meninos? Não que a Ana seja baixa, mas a maior parte das pessoas que frequentam as feiras é em média 20 cm’s mais altas. Este facto dificulta a pesquisa. Acabo por a encontrar porque me acena com três sweat-shirts iguais, imitação de GAP para os meninos que em São Martinho, em Agosto,  nunca têm nada para o frio da noite quando vamos até à vila. Dada a perigosa proximidade de Agosto e a manifesta carência dos meninos, concordo com a ideia. Ai que saudades. As idas à noite à rua direita de São Martinho do Porto em Agosto. A confusão é tanta que me lembram as idas à Feira de São Pedro de Sintra.
Reunido novamente o grupo, já a cesta vai cheia e os miúdos têm muitos brinquedos com uma esperança de vida média inferior a três horas. Tomo a dianteira da expedição e em dois raids compro uns DVD’s a poucos aéreos e mais um porta-chaves com lanterna e alicate e chave de parafusos e mais importante que tudo, com abre cápsulas. Desconfiei que havia algo de errado com os DVD’s porque a senhora que os vendia, tinha-os  escondidos dentro do soutien e, para escolher os filmes desejados, praticamente era preciso enfiar a cabeça dentro da camisola dela. Éramos alguns dez a olhar para a invulgar montra de DVD’s. Atrapalhado, mas com um ar triunfante, acabei por trazer os primeiros que me vieram parar às mãos.
Por fim, todos nós temos as compras feitas e regressamos a casa satisfeitos. A manhã na Feira de São Pedro acabou às seis da tarde numa fila de quilómetros para regressar ao lar.
Hoje somos todos mais felizes. Os meninos têm o que vestir nas noites frias de Agosto em São Martinho, o António tem uns sapatos novos para deitar sanita abaixo, a Ana tem umas pantufas e um saco de água quente novos e eu tenho dez pares de meias às cores e DVD’s sem nada gravado mas que têm as capas do King Kong, do Munich e do Crime do Padre Amaro. Se alguém lá em casa quiser ver algum daqueles filmes respondo que o leitor de DVD’s está estragado. Restava-me o consolo do porta-chaves com abre cápsulas. Hoje ao tentar abrir a carica da garrafa de leite de chocolate da UCAL, parti-o. Que falta de jeito.
Adoro a Feira de São Pedro de Sintra. Pena é que só exista no segundo e no quarto Domingo de cada mês. Seria uma angústia no primeiro e no terceiro, não fosse a feira de Cascais.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Feira

Não fosse eu um homem objecto, ficava em casa a jogar Pro Evolution Soccer 5 on-line. Mas não. Resolvi participar, muito de corpo e muito menos de alma, no projecto Domingo de manhã na feira de São Pedro de Sintra. Afinal trata-se de um programa familiar e a adesão deve ser unânime e incontestável. “Vai ser tão bom sairmos os cinco, e dar um saltinho à feira para ver uns sapatinhos para o António que já só tem as botinhas, mas como as atirou para dentro da sanita o menino, coitadinho, praticamente não tem o que calçar.” Como é possível, alguma coisa ser muito boa, numa saída com três crianças que a única coisa que partilham é a necessidade de correr na direcção contrária à dos restantes. Existe outra questão. Nestas Feiras nunca se dá um saltinho. Dão-se no mínimo uns trezentos saltinhos com duas passagens minuciosas por cada banca, não se vá perder alguma oportunidade de comprar uma coisa que não serve para nada, 10 vezes mais barata do que cá fora. Por último, se o menino deitou as botinhas na sanita, que enfie os pézinhos nas botinhas encharcadas que mal não lhe há-de fazer.
Uma ida à feira de São Pedro de Sintra ao Domingo de manhã é um acontecimento marcante e que não se cinge à manhã propriamente dita. Nos dias que a antecedem, aquela cabeça produz em segredo uma lista de tópicos e de artigos. Para evitar interrogatórios, discussões ou conversas estéreis essa lista nunca é divulgada, muito menos escrita em papel como as restantes listas de compras do lar. Não vale a pena querer antecipar as intenções com perguntas do estilo “O que é que estás a pensar comprar ?” Isso não é uma pergunta. É uma tentativa clara de me imiscuir em assuntos que não são da minha competência. A resposta vem tendencialmente em tom acusatório:
“Vê-se mesmo que não és tu tratas das roupas deles. O João não tem calças decentes, estão todas rotas. O Manel parece um desgraçadinho, está tão grande que não há calças que não pareçam bermudas e o António coitadinho, também tem que ter roupa própria, não pode estar sempre a usar a roupa dos outros. Logo vejo o que é que vou encontrar. A feira é uma  caixa de surpresas e eu adoro surpresas apesar de já estar meia esquecida do conceito, já que ninguém me faz nenhuma já vai para algum tempo.”
Mais vale não perguntar coisa alguma. Mesmo que os sinais sejam preocupantes, não se fazem perguntas. “A cesta das compras também vai?” Isto não é uma pergunta. É uma perca de tempo e uma estupidez. Então se a meio da noite a cesta, capaz de levar um roupeiro lá dentro, foi parar à porta de casa é porque vai à feira com a família. E há-de regressar carregadinha de compras.
Lá vamos então para a feira. Como em todas as feiras, é impossível chegar até lá. Horas em pára arranca que permitem a cada um, ir identificando os diversos pontos de interesse e escolher o itinerário pretendido. Nenhum dos itinerários é compatível com o dos restantes mas isso também não é interessa nada. Mais meia horinha para estacionar e lá vamos ao café à cunha tomar uma bica e comer um travesseiro.  Nesta altura, já os miúdos andam ao estalo no âmbito da temática “Quantas castanhas assadas são para cada um e eu sou maior e mais velho do que tu e portanto como mais”.
É então que acontece o pior. O mais temido dos cenários começa a revelar-se “Tu também devias ver umas coisas para ti...” Neste momento abandono a figuração e passo a ser protagonista nesta odisseia. Não vale a pena queimar energia a discutir nem tentar contrapor. Se eu devia ver umas coisas para mim, então, decididamente, vou ver umas coisas para mim. Vou naquele passo de procissão em multidões entre bancas, a ouvir “Vá lá ver amori” em surround e a olhar  atentamente para o que é que os meus amoris ciganos têm para me mostrar.
(a continuação deste texto será enviada em exclusivo para a visita 50 000 da caixa de costura)

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Marias em Fim de Semana

(JMª sobre os filmes em exibição)
- Manel. Sabes o que são Cowboys Gays ? São meninos que dão beijinhos na boca a meninos.

(MMª a simular conversa num telemóvel do homem aranha)
- Estou. Daqui fala o Manel. Como é que ‘tão? ‘Tomos bem sim, quer dizer, o António está com tosse.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Jogos Olímpicos

Não sei se é a primeira vez, mas Portugal vai participar nos Jogos Olímpicos de Inverno em Turim. O nosso atleta, Danny Silva, vai participar numa prova de ski de fundo de 15 kilómetros para a qual se preparou, em Almeirim, da forma possível. A diferença entre um treino do Danny Silva e qualquer um dos outros concorrentes, seria constrangedora, não fosse por si só um icon, da lusa capacidade do desenrascanso, que tantas vezes nos dá créditos.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

QI

Uma bomba de gasolina tem, genericamente, memória. Quer isto dizer que consegue registar e guardar os vários abastecimentos que realiza. Além disso tem alguma inteligência. Consegue saber, para cada abastecimento, quais os que foram pagos e quais os que ainda não foram.
Considerando estes postulados, existirá uma razão óbvia para, depois de abastecer a respectiva viatura, deixá-la em frente à bomba obrigando as pessoas que se seguem a esperar pelo regresso do condutor à mesma após ter efectuado o pagamento, tomado o café e o pastel de nata e consultado as gordas da imprensa? Mesmo quando há lugares vazios para os condutores que já abasteceram, estacionarem as respectivas viaturas ?
È tão triste ter um QI inferior ao de uma bomba de gasolina.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

5 hábitos estranhos

A convite daiaNa, aqui estão, cinco dos meus hábitos estranhos
- ao pequeno almoço e ao lanche não intercalar comida com bebida. Primeiro o leite até ao fim e depois a sanduiche. Ou vice versa. Aquela história de uma dentadinha e a seguir um golinho, é coisa de larilas.
- adormecer na fronteira do colchão. Metade do corpo (mais uma percentagem difícil de precisar) em cima da cama e o restante pendurado.
- escolher trajectos em função dos termómetros que estão espalhados pela cidade. Adoro termómetros.
- ler jornais do fim para o início. Acho que este é capaz de não ser estranho porque já ouvi dizer que um jornal imprimiu uma edição da última para a primeira página, por saber que muitas pessoas os lêem assim.
- enrolar o fio do telefone até ficar tipo renda de bilros.
- escolher a caixa do supermercado pela copa do soutien da operadora. Normalmente coincide com a caixa onde as pessoas à minha frente escolheram produtos sem código de barras, ou pretendem facturas separadas para cada produto, ou só têm saldo na conta do 10º cartão Multibanco.
- exceder-me sempre nas respostas.
O meu convite vai direitinho para a Carlota, para o Giz, para a Dina, para a Bree e para a M&M.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Ainda

... sobre o mesmo assunto.
Os dinheiro que gasto no Euro Milhões, é largamente compensado com a proliferação das conversas, das risotas, dos sonhos e da imaginação sobre uma eventual partida da sorte.

A carta de demissão enviada antecipadamente, para poupar no tempo que se deve dar à empresa, tem escrito no envelope:
“Só abrir este envelope se a chave do concurso do euromilhões for  * * * * * + * *
Srs Palhaços:
(...)”

A conversa com o director de pessoal no caso de perca do boletim:
-  Mas repare que o termo palhaços com que começa a carta é no melhor dos sentidos. Palhaço no sentido de pessoa que transmite alegria aos outros. Boa disposição contagiante (...)

Quem será o próximo ...

excêntrico?

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Não se enerve

(ou resposta atrasada a um post bimbystico da meia-volta)
O meu casamento sobreviveu a aventura igual: ficar em casa a fazer uma sopa na Bimby, e venham cá os anti heterosexuais dizer que isto não é um casamento que eu mando-os para o raio que os parta.
Acontece que perante a acusação de que faço sempre meia bimby de sopa, resolvi descascar tudo o que era legume disponível. Foi um festival de verduras. Era ver, a cada volta das pás, batatas, cenouras e alho francês a saltar cá para fora. Cosa ma' linda, parecia um vulcão de leguminosas. Para evitar que saltasse tudo cá para fora, tive que tirar quase toda a água que tinha posto. No fim, deu quase 3 litros de concentrado de sopa, a nossa Bimby.
Cada concha, após adicionar água, dava para quatro doses bem aviadas. Um festim.

T11

Hoje sonhei com a compra de uma casa. Mais uma vez ideia tua, pois claro, e como tal, uma casa em segunda mão. Comprámo-la à Marta, a mãe da Rita e amiga da Teresa. Era uma imensa moradia em Lisboa, com alguns 10 quartos. Lembro-me que tinha coisas horríveis. Tecto falso de lã de fibra de vidro, como o da faculdade, paredes tartaruguinha, e chão de madeira muito escura, naqueles tacos ínfimos. A fechadura da porta parecia um tubo de escape preso a uma corrente. Por outro lado tinha uma sala gigante e um jardim infinito. Foi o jardim que me fez concordar com a compra. Era o jardim da Gulbenkian e portanto tínhamos que deixar passar toda a gente na alameda de árvores e relva (que não existe mas existia no sonho). Não cheguei a perceber se tínhamos lugar para o carro, mas suponho que podíamos estacionar no parque da Gulbenkian.

Raios partam o Noddy

Depois do Chapi-Chapo que consumi em pequeno, e dos Teletubbies que o Maria mais velho também consumiu, tinha eu em crer que possuía anticorpos para qualquer série infantil.
Pois é mentira. Cada vez que vejo o Noddy, sobe-se-me uma irritação pela espinha acima, instala-se-me uma camada de nervos a toda a volta e incham-se-me as glândulas alérgicas, que só consigo acalmar desligando a televisão e espetando um pontapé no Noddy de peluche que está lá por casa.
O boneco, que até cheguei a considerar simpático, está cheio de brilhos e de animação por computador. Está mais parvo que nunca, e é insistentemente ingénuo. Não é nada ingénuo, ele é mas é parvo. É burro. Há anos que o boneco é enganado pelos vilões, e não há forma de aprender a não lhes dar ouvidos. E ouvidos e orelhas é coisa que não falta na porcaria da série. Por amor de Deus. O boneco do chapéu do guizo nada deve à inteligência, e ameaça transformar a geração dos meus filhos, não na geração rasca, mas na geração mosca morta. É muito triste.
Agora, quando começa um episódio, já cantamos todos em coro:
“Raios parta o Noddy, já não posso ouvir o Noddy ....”
A seguir, desligamos a televisão.