segunda-feira, setembro 12, 2016

Drª Constança Engº João

O jantar de ontem foi marcado a contas com o nervoso miudinho. O óbvio nervoso de quem vê os filhos à entrada da estreita porta para novos vôos. Cabeça e coração feitos loucos, porque isto de ser pai é tanta coisa e que de poetas e loucos todos temos um pouco. É que ainda ontem choravam com fome ou com cólicas ou com o que quer que fosse, é que as médias de entrada são altas, é que mal sabem andar, e os exames até trouxeram boas notas, e eles entraram na cresce hoje não foi?, e estudaram tanto estes miúdos, mal chegam às carteiras da primária, são tantos para os mesmos cursos, é que ainda agora … Os pais são assim. Estúpidos, nervosos, preocupados, babados, ansiosos, fanáticos. Vocês fazem-nos assim, nós fizemos-vos assim.
E eis que o calendário do ministério nos troca as voltas, e na véspera do jantar de dois pares de pais, saem os resultados. Telefonemas para cá, mensagens para lá, perguntas, mails, consultas a sites. “No meu tempo era uma interminável listagem nos vidros da reitoria”.  Risos. Entraram. Entraram. Entraram. O jantar da espera dos resultados, fez-se jantar de festejo. Pela Constança da Catarina e do João. Pelo João Maria da Ana e do André.
Ontem festejámos com eles de sorrisos escancarados. Ontem, só por magia, só por um jantar, ela já era médica e ele já era engenheiro. Ontem, só por um instante ela acorda todos os dias com a vontade de salvar vidas e caramba, se ela sabe da importância de uma vida salva, minha querida Constança. Ontem, só por um sonho ele acorda todos os dias com a vontade de fazer um mundo mais feliz e caramba, se há homem feliz nas nossas vidas, meu querido João. Ontem brindámos com copos cheios de orgulho e abraçámo-los como se cada um deles fosse o Éder a marcar à França. Ontem fomos recriminados por eles pela hipérbole dos festejos, como crianças mal comportadas. Ontem fomos metade poetas metade loucos e felizes.

Felizes por inteiro.

quinta-feira, junho 02, 2016

Estes asteriscos e as letras pequenas ...

... dos contratos que nos surpreendem sempre.

O texto original da renovação do contrato era tão bom, e vai daí que tive que me sujeitar a asteriscos. Também não vou embirrar com um ou outro *. O que era assim:
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Renovação



De acordo com os termos definidos a 1 de Junho de 1996, pelos outorgantes do contrato ainda em vigor, nomeadamente nos versículos  4 a 7 do capítulo 13 dos Coríntios:
“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
E ainda pelos termos declarados “até que a morte vos separe”, “cenas na alegria e na tristeza” e “na saúde e na doença” e outros que tais, comprometem-se os mesmos outorgantes a renovar os votos por novo período de duração igual ou superior a 20 anos.
Mais declaram os outorgantes, que não constituem precedência para este novo período, os factos ocorridos na dupla década que antecede a assinatura desta renovação, a saber:
Trocar de casa com a periodicidade com que se troca de carro
Garantir descendência nos primeiros sete anos de vigência à razão de uma unidade por cada período de três anos
Transporte de uma parcela da casa superior a 70% sempre que se vai de viagem mesmo que seja por uma noite
Outros
Por serem a melhor escolha nestas bodas_sai_me_da_frente_que_já_não_te_posso_ver_nem_pintado declaram os outorgantes ser por sua livre vontade a renovação do supra citado contrato celebrado pelos mesmos em 1 de Junho de 1996.

1º Outorgante, benovente e cônjuge                              

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2º Outorgante, benovente e cônjuge

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Lisboa 1 de Junho de 2016

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Ficou assim:


quarta-feira, maio 11, 2016

FMI - Futebol, Malas e Imbecis

À semelhança da grande maioria das mulheres, Portugal tem um relacionamento sério com malas. Perde-se de amores por elas.
Começou com Linda De Suza e a sua "Valise en carton sur la terre de France". Já lá vão tantos anos, tanta valise. Depois, há um par de anos atrás, Filipa Xavier - Pepa e a sua Chanel fizeram furor nos media - redes sociais incluídas.  Finalmente, desde a semana passada e a propósito deste emocionante final de campeonato, um responsável Benfiquista insinuando incentivos financeiros oferecidos pelo Sporting para os adversários do Benfica lhes roubarem pontos, resolveu escrever no Twitter "O jogo da Mala segue para a Madeira".
Esta tradição lusa no que a malas diz respeito, configura um clássico caso de excesso de bagagem, o que em qualquer lowcost dá direito a encargos que ultrapassam o valor da própria passagem.
A Linda de Suza tinha mau gosto mas era esforçada, a Pepa tinha bom gosto e foi descuidada, o responsável Benfiquista limitou-se a ser um responsável de um clube de futebol na época 2015 - 2016. E palavra de honra que se sofresse de vergonha alheia no futebol, teria vergonha da maioria dos dirigentes e responsáveis do Benfica e do Sporting durante este ano. a saber João Gabriel, Pedro Guerra, Rui Gomes da Silva pelo Benfica. Bruno de Carvalho, Inácio e Octávio Machado pelo Sporting.
Meus senhores:
Vivo numa família onde há sportinguistas e benfiquistas. Eu sou do Benfica, a minha mulher do Sporting, os meus três filhos são dois do Benfica e um do Sporting. Se cá em casa fossemos 10 milhões, e mantendo a proporção, seríamos 6 milhões do Benfica e 4 milhões do Sporting. E teríamos alguns 2 milhões de cães. Todos teimosos.
Gosto de ir ao futebol em família, todos juntos ou alguns juntos conforme as possibilidades, mas gosto sempre. Vou à Luz e a Alvalade e torço sempre pela equipa da casa exceto quando jogam uma com a outra e, nesse caso, torço sempre pelo Benfica. A seguir ao Benfica, o Sporting é o meu clube do coração.
Ao longo destes anos todos esforcei-me por ensinar os meus filhos a respeitar os rivais, a defenderem o seu clube, mas nunca retirando valor ao clube adversário.  Insisti no respeito mesmo quando fomos a um derby vestidos a rigor e nos aconselharam a esconder os símbolos do clube visitante e ainda nos sugeriram que víssemos o jogo em bancadas separadas do estádio porque estávamos vestidos de Benfica e de Sporting. Ensinei a orgulharem-se do seu clube sem agredirem o adversário porque afinal de contas os dois clubes têm história e valor suficiente para serem motivo de orgulho dos seus adeptos. E este ano, palavra de honra, merecem estar a disputar o campeonato até ao último minuto, até à última gota de suor. Já festejei e ensinei a festejar campeonatos dos adversários e foi assim desde 2000. Festejamos dois campeonatos do Sporting e quatro do Benfica. Juntos.
Meus senhores parabéns. No que a esta casa diz respeito, vocês tornaram quase impossível a pacífica convivência entre rivais. Acusam, insinuam, insultam, desvalorizam, enxovalham e desrespeitam os vossos adversários como se esse fosse o único caminho para o almejado título para a imensa glória. Se o tema fosse religião, e por vezes até se confunde, o João, o Pedro, o Rui, o Bruno, o Augusto e o Octávio acabariam alistados nas mais radicais facções da sua religião, almejando fazer-se explodir em território alheio. Por mim, meus caros, podem explodir a vossa visão tolhida do que é o futebol e do que é ser do Benfica e do Sporting.
João Gabriel, Pedro Guerra, Rui Gomes da Silva, Bruno de Carvalho, Augusto Inácio e Octávio Machado, às 19 horas de Domingo saberemos quem é o campeão e eu sinceramente espero, que cada um de vós, seja de alegria por ser campeão, seja por desespero pelo adversário ser campeão, bata com a cabeça numa porra de um teto baixo qualquer e fique com uma perturbação de memória que vos faça acordar na pele do mais ferranho adepto do clube rival.
Cá em casa, quem quer que seja campeão, haverá lugar a festejos e vamos todos buzinar por essa Lisboa fora e gritar bem alto "Campeões, campeões nós somos campeões".
Caso não tenham a tal perturbação de memória, lembrem-se, daqui para a frente, que o futebol não é sobre insultar o adversário, é sobre valorizar e festejar o nosso clube. Há muitas famílias como a minha em que benfiquistas e sportinguistas vivem juntos, comem juntos e amam-se. Deixem-se de merdas e cresçam.
Ao campeão desta época. Parabéns.

domingo, março 20, 2016

Cavaco para o Planalto

Em conversa com um brasileiro há muito residente em Portugal, perguntei-lhe sobre estes tempos de conturbação no Brasil. Ele puxou da fácil definição: "O Brasil é um Portugal sem travões". Faltou-lhe dizer que Portugal é um Fiat 500 e o Brasil um Cadillac. Ambos com fugas de óleo, folgas na direção, consumos exagerados e a precisarem de ir rapidamente à oficina, mas a ostentação Brasileira contrasta com a modéstia Lusa.
Nos últimos anos assistimos em Portugal ao mais cinzento período de que tenho memória. Um condutor obcecado pelo consumo, e ao seu lado, no lugar do morto, a figura pálida de um passageiro que alterna entre o dormir e o babar-se durante toda a viagem. Durante esses tempos de governo a preto e branco e de presidência a cinzento claro e escuro, muitos Portugueses contestaram a presença daqueles nos lugares da frente de Portugal. Acontece que, quer um quer outro, foram colocados pelos mecanismos previstos pela nossa democracia e saíram no final dos respetivos mandatos. Hoje, ao volante, temos um condutor que guia de outra forma, contestado por não ter sido o mais votado, lícito por ser escolhido pela maioria dos deputados. Ao seu lado a figura é um atento co-piloto, feito às cores e adepto confesso de afetos. Se o Fiat faz o sinuoso trilho que tem pela frente é uma interrogação para a qual não há certezas, mas caramba, pelo menos o bólide anda. As fugas vão sendo diagnosticadas, algumas descobertas e dessas , algumas são resolvidas com a lentidão de uma oficina pouco ágil e habituada à morosidade da justiça.
No Cadillac do Brasil, espanta-me a possibilidade do condutor ser retirado à força do volante. Há mecanismos previstos para que o presidente seja afastado da presidência, mas a força nunca será um deles. A corrupção devia ser o alvo a abater e os brasileiros andam entretidos em batalhas de rua entre apoiantes da corrupção e apoiantes da corrupção alternativa à corrupção. Diz-se que um povo tem os políticos que merece, mas, palavra de honra mesmo perdendo 7-1 com a Alemanha, o Brasil não merece estes políticos. Nem sei o que diga sobre o que se assiste do lado de lá do oceano. Lula já foi nomeado e suspenso e suspendido na suspensão da nomeação umas trezentas vezes, a justiça participa em manifestações, Lula questiona-se sobre o paradeiro das mulheres de grelo duro e as  pessoas não podem andar de encarnado porque podem ser alvos de violência. Esta é que me deixou de rastos. Eu até pensei que fosse uma espécie de questão futebolística como aqui acontece. Como ser arriscado ir vestido de Benfica para o meio da JuveLeo. Mas não. É só litigio da cor da corrupção. Ainda por cima, num país em que muita gente consegue na mesma indumentária juntar verde e amarelo, com que moral resolvem espancar quem anda de vermelho? Tenham paciência. Com as combinações de cores que se vêem por ali eu acredito que haja gente que só à pancada. Mas por causa do vermelho ?
Eu acho que a solução óbvia é pegar no nosso ex presidente e enviá-lo para o Brasil. Cavaco jamais perguntará "Onde andam as mulheres de grelo duro?" . O máximo que Cavaco pode perguntar é "Aqui não há bolo rei mesmo que seja duro?". Depois Cavaco não é corrupto. Pode ter amigos que são, mas esses têm a mania de fugir para o Brasil, portanto, para Cavaco, ir para o Brasil não é mais que ir visitar amigos. Por último Cavaco é muito amigo do Carnaval, já desde o tempo em que era primeiro ministro e portanto aquilo do País do Carnaval era como peixe na água.
Eu sinceramente acho que ia ser bom para ele, para os Brasileiros e já agora para nós. Assim do ponto de vista do cinzentismo exibicionismo do bolo alimentar.

segunda-feira, janeiro 25, 2016

Só eu sei porque não fico em casa

Quando ontem, as televisões anunciaram quase em uníssono que não haveria segunda volta, milhares de Sportinguistas foram para o Marquês festejar o título. "Contra tudo e contra todos, somos campões. E logo à primeira volta."