segunda-feira, abril 29, 2013

Cão como nós

... depois de muito resistir e fartos de tantos anos sem noites mal dormidas à conta de choros acedemos à vontade da troika de Marias cá de casa. Não querendo que este blog seja um d(l)og parece-me pertinente apresentar o Matias. Meigo, obstinado e energético, este coisa que faz xixi e cocó de forma mais ou menos aleatória converge a passos largos para a algália e arrastadeira. Se ainda assim continuar a chatear, empalhá-lo afigura-se como um cenário possível. Acresce que não usa máquina de calcular e nunca foi presidente de câmara.

terça-feira, abril 23, 2013

O derby dos nossos clubes

Se a jornada futebolística começa à Sexta e termina à segunda, os debates televisivos sobre tema começam ao Domingo e estendem-se até, pelo menos, Terça Feira. São programas onde se analisam lances polémicos durante horas a fio, vistos por todos os ângulos e a várias velocidades. Mais do que discutir futebol, discutem-se arbitragens. É o equivalente a ter um programa de sexologia, com um painel de convidados em que pelo menos um é adepto dos homens, e outro é adepto das mulheres, a debater um filme de poucos diálogos, revendo os mesmos planos em várias velocidades, tentando chegar à conclusão sobre se alguém está a fingir ou se tudo é verdadeiro.
Depois do derby, e estando atento ao que se diz nesse rol de programas, já foram perdoados 1273 penáltis ao Benfica, o Maxi deveria ter sido expulso 873 vezes e Miguel Relvas é um menino quando comparado com João Capela, que deve ter ido a uma acção de formação de Subbuteo para obter equivalência a árbitro de categoria internacional.
 Se me perguntam como Benfiquista, se preferia que o jogo não tivesse casos, digo que sim e que a vitória não sabe tão bem como saberia, caso a prestação do árbitro não fizesse lembrar a prestação de Roberto nos seus melhores dias.
Também é verdade que se me perguntarem como Sportinguista, se preferia ter levado dois secos limpinhos, confesso que não. Gosto da atenuante do árbitro-vitor-feitor-pinto. Atenua-me a frustração da derrota em casa do eterno rival.
 Revolta, indignação e frustração são usados por nós Sportinguistas para exprimir os sentimentos face ao que se passou no jogo contra o nosso clube, o Glorioso. E como se não bastasse, nós sportinguistas estamos muito atentos a este escândalo que é o branqueamento que a comunicação social pratica com os actos do nosso Benfica, apelidando de grande feito o que deveria ser considerado como uma verdadeira espoliação. Por ser o clube que maior base de apoio possui, o nosso Benfica é apontado como beneficiando de um estatuto de impunidade aos olhos de toda a comunicação social. Acontece que a dimensão da base de apoio nunca foi razão para preferências da comunicação social, veja-se o bloco de esquerda que sempre foi tão acarinhado pela classe jornalística e que nunca chegou às pré-eliminatórias da liga dos campeões: o melhor que conseguiu foi um 4º lugar. Posto isto, se quiser cair nas boas graças da imprensa, o que o nosso presidente tem que fazer é levar o nosso clube pelos caminhos do futebol-caviar e não há-de tardar muito para que o nosso Sporting seja acarinhado até pela Bola.
Finda esta jornada que podia ter corrido muito melhor, mas que também podia ter sido bem pior restam quatro jornadas para o fim do campeonato e espero muito sinceramente que o nosso Benfica alcance o título e o nosso Sporting um lugar na liga europa. Quanto ao árbitro, o senhor Capela, que arranje um cão guia à altura e uma bengala vermelha e branca porque ele tem um grande futuro na carreira da invisualidade.

quarta-feira, abril 17, 2013

Onde o espaço é quase tudo e o tempo é quase nada

Já estive em jantares de amigos em que as pessoas estão menos próximas que naquele restaurante ínfimo. Mesas encavalitadas a convidarem à conversa entre os fregueses. “Negócio de família e olhe que a sala já foi metade do que é agora”. Uma cerveja e tremoços enquanto se espera que a família do canto liberte a mesa. Conversas à solta. Ainda mal chegada, recebida com entusiasmo pela família, a senhora de cabelo curto e corpo deformado não se coibia na conversa com quem queria. O casal do lado, generoso na disposição, pareceu gostar da disponibilidade para a conversa. A senhora elogiava o tamanho do cabelo da mulher. “Com esse comprimento, deve ter pelo menos dois anos sem ver tesoura. Só aparar as pontas, presumo”. A mulher sorriu e confirmou algum tempo sem um corte drástico. “Um milímetro de dois em dois dias. É essa a velocidade a que cresce o cabelo. Este aqui já tem dois meses.” Exibiu com orgulho quase três centímetros de cabelo. Não era difícil adivinhar-lhe a recente quimioterapia. A mesma cruel e puta doença de sempre. Maldita seja. E ainda assim, os olhos dela brilhavam e ainda assim a energia contagiava quem a ouvia. A família mimava-a com elogios à beleza, ela assumia a personagem e mimava-se também. O casal do lado, apanhado na onda de elogios, ofereceu-se à conversa, quase cúmplice. A gargalhada do homem, inconfundível para quem o ouve na rádio, denunciava-o em cada momento de boa disposição. No final do jantar, por alturas da sobremesa, a senhora de cabelo curto anunciou o truque para que o bolo de bolacha ganhasse outras dimensões: umas gotas de água do vimeiro. Tirou da mala uma pequena garrafa e abençoou o bolo com algumas gotas. O homem do casal do lado, pediu licença e cheirou a garrafa: “Olhe que eu estive no Vimeiro, e não me lembro desta água por lá”. E assim foi o jantar. À pressa porque a hora do concerto a trazia, devagar porque cada frase ouvida parecia querer ficar, depressa porque quando assim é nem se dá pelo passar do tempo. O concerto não foi assim tão bom, só que da noite ficou o jantar. No tempo apertado, no espaço tão curto, as cumplicidades nascem depressa, quando regadas, quando risadas, quando alegrias de viver.