sexta-feira, outubro 31, 2003

Peça de Puzzle


... do puzzle da memória claro está. De uma zona onde não costumo encontrar muitas peças. Esta, de contornos perfeitos, foi pretexto de tantas brincadeiras de criança, com castelos e bandidos imaginários. De repente, numa pesquisa pouco empenhada pela rede, encontro-lhe o rasto. A história de um grupo de rapazes e raparigas que descobrem e salvam uma criança, raptada por perigosos bandidos e presa no castelo. Numa página pouco visitada, mas cheia de memórias, ali estão à  nossa disposição, os "Pequenos Vagabundos".
Um dia destes procuro "Os dois anos de férias", outra peça de puzzle guardada bem perto desta.
Pedaladas


Ainda contas os dias para os cinco anos e já dou por ti a juntar números, e agora, mais recentemente, letras.
Um "O" com um "I" faz "OI".
Um "A" com um "I" faz "AI".
Falta-te um "P" para me descobrires numa só palavra.
Andas a pedalar tão depressa que por vezes temo não ter fôlego para te acompanhar.

quinta-feira, outubro 30, 2003

Jantar
Recebo um telefonema preocupante. "O arroz de tomate está muito escuro, quase preto. E ainda por cima os pastéis de bacalhau dissolveram-se no óleo e está tudo transformado numa pasta com um estranho odor".
Perguntas pertinentes:
1. Quanto tempo demorará o odor a sair daquela casa?
2. Será fácil vender uma casa com odor a pasteis de bacalhau?
3. Qual é o telefone da Pizza Hut?
talvez não seja má ideia dar um pulo até casa para verificar umas coisas que me andam a preocupar,
Carenque
Vejo um arco-íris lá por fora, brincadeiras de luz e água, decomposição em cores. Completo. Princípio, meio e fim. Diz-se que o fim do arco-íris guarda um caldeirão de ouro. O fim deste parece ser na CREL. Será que além das pegadas de dinossauro e da Tota, Carenque ainda nos reserva um caldeirão de ouro. Se Fátima tem três segredos, porque não há-de Carenque, para além de um túnel tendencialmente engarrafado, ter três tesouros?

quarta-feira, outubro 29, 2003

Publicidade Enganosa
Logo pelas primeiras horas da manhã recebo um mail curioso. A minha mulher resolveu publicitar este site. Divulgou-o por um restrito circulo de amigos, e para o fazer não se lembrou de frase melhor que esta:
“Mas o meu marido tem uma coisa boa que resolvi dividir com os meus amigos... “
Mais atrapalhado fiquei quando olhei atentamente para a lista de destinatários do mail.
Com tão ilustres convidados, parece-me que a Caixa de Costura de hoje se assemelha a uma festa em casa, sem crianças pois claro (ainda alguém se lembra como era?). Organizem-se e tragam cervejas, gin, água tónica e croquetes que a Caixa de Costura não tem espaço para estas mordomias. Para começar podemos brindar à Maria Costa.

terça-feira, outubro 28, 2003

TIC TAC

Perto do coliseu, esplanadas de turistas com empregados à porta que publicitam pratos mais ou menos típicos. Nada disso era muito importante. Deram as mãos, entrelaçaram dedos e vidas. Deram corda ao relógio de emoções. A cada volta do ponteiro grande de pequenos gestos, um imperceptível avanço do ponteiro pequeno de grandes sonhos.
Tic tac tic tac, dá-se corda, dá-se força, dá-se raça, dá-se amor, dão-se risos, dá-se espaço para crescer, dá-se tempo só a dois, tic tac, tic tac, dão-se os beijos que se quer, dá-se a volta por cima, dão-se mimos, dão-se as mãos, dá-se um dia depois do outro, tic tac tic tac, dá-se o corpo, dá-se a vida, dá-se conta que há sempre espaço para tudo o que se vai receber, tic tac tic tac tic tac tic tac

segunda-feira, outubro 27, 2003

Nem bons ventos...

Nunca me hei-de habituar à mudança da hora. Embora inclua uma hora de oferta, este pacote do Outono é a mais ingrato que o da Primavera. A criançada, pois claro, não tem o menor respeito pela regra e a alvorada das 8 transforma-se rapidamente na alvorada das 7. O primeiro dia após a mudança é vivido numa luta permanente contra o que nos diz o instinto. A hora de almoço aparece primeiro no estômago dos príncipes, depois no nosso e por fim no relógio. Idem para o jantar. O convite ao descanso é prematuro e roça o ridículo. Dez da noite e já me deitava?
O primeiro dia útil é ainda pior. Sempre a sensação de estar atrasado para tudo. Levanto-me com a claridade típica de um dia começado com atraso e assim prossigo. Acho que estou atrasado para a reunião das dez, para o almoço, para as tarefas da tarde, para o regresso a casa. Para ajudar à festa, telefone, carro e computador mantêm a hora antiga, pelo que quando tento confirmar o atraso, estes relógios confirmam-no, cúmplices da minha desorganização.
Para me habituar, imaginei que no Sábado à noite viajei para Espanha. Regresso à pátria lusa lá para a primavera, mesmo a tempo do Euro 2004. Seis meses em Espanha. Pode ser que me escape da ida ao IKEA. Olé!!!
O trânsito caótico de arranque de semana, aguaceiros. Gosto do ruído que fazem as gotas que se estatelam no meu carro, um rádio sintonizado para notícias recorrentes, mais do mesmo dos últimos tempos, e as que o não são, não trazem nada de bom. Resolvo trocar de modo e deixar-me enCaetanear por outras palavras.


Nada dessa cica de palavra triste em mim na boca
Travo trava mãe e pai alma buena dicha louca
Neca desse sono de nunca jamais nem never more
Sem dizer que sim pra Silu pra Dedé pra Dadi e Dó
Crista do desejo o destino deslinda-se em beleza:
Outras palavras
Todo seu azul, todo céu, todo azul e furtacor
Tudo meu amor tudo mel tudo amor e ouro e sol
Na televisão na palavra no átimo no chão
Quero essa mulher solamente para mim mas muito mais
Rima pra que faz tanto mas tudo dor amor e gozo:
Outras palavras
Nem vem que não tem vem que tem coração tamanho
trem
Como na palavra palavra a palavra estou em mim
E fora de mim quando você parece que não dá
Você que diz que diz em silêncio o que eu não
desejo ouvir
Tem me feito muito feliz mas agora minha filha:
Outras palavras
Quase João Gil Ben muito bem mas barroco como eu
Cérebro máquinas palavra sentidos corações
Hiperestesia Buarque voilá tu sais de cor
Tinjo-me romântico mas sou vadio computador
Só que sofri tanto que grita porém daqui pra frente:
Outras palavras
Para fins gatins alphaluz sexonhei la gerrapaz
Ouraxé palávoras driz okê cris expacial
Projeitinho imanso ciumortevida vidavid
Lambetelho fruturu orgasmaravilha-me Logun
Homenina parais de felicidadania:
Outras palavras”

[Caetano Veloso]

E assim a trabaconduzi pela musalegrestrada multiplentupida.

sexta-feira, outubro 24, 2003

Praia da Luz
Jornal de Domingo debaixo do braço, repleto de suplementos e de assuntos distantes da ordem do dia. Desceu as rampas e escadas desenhadas entre as árvores e apreciou o silêncio alterado por ondas e rochas. Ainda alguma névoa quase de brincadeira. Coltrane anunciou-lhe a proximidade da esplanada. Escolheu uma espreguiçadeira na primeira fila da plateia. O gigante atlântico feito palco . De um lado a mesa modesta, do outro, ligeiramente avançado, o conforto da salamandra.
Pediu um cacau quente e um torrada. Colocou a manta escocesa sobre as pernas, percorreu o jornal como lhe apeteceu. No fim de cada parágrafo lido ou página virada, dava a vez ao cacau quente ou ao pedaço da torrada.
Sol. O que perdeu em timidez ganhou em conforto. “Um Cimbalino por favor”.
Olhou a praia de todas as luzes. Falou com as marés “Não há-de faltar muito para destruírem quase tudo. Todos os invernos é a mesma coisa.”
Um novo som, das conversas por perto. Imperceptíveis, mas estupidamente cómodas de escutar. Deixou-se levar pelo convite à preguiça. A última coisa que pensou antes de adormecer “Todas as esplanadas deviam ser assim".

quinta-feira, outubro 23, 2003

Carrilho II
Que o herpes é um fungo chato ninguém tem dúvidas. O que o torna um fungo filho da mãe é o oportunismo. Normalmente espera por estados febris, ou de excesso de frio ou calor para iniciar a sua fase activa.
Carrilho
- Bááááááárbara.
- Sim querido.
- Está leite estragado no frigorífico.
- Ai isso é que não está, lá está o Manuel Maria com o seu mau feitio. Sabe muito bem que uma mulher grávida precisa de tomar leite enriquecido.
- Eu sei meu doce. Cálcio e Vitaminas não acho mal, mas Ferro ???!!!

quarta-feira, outubro 22, 2003

Manel
És pequeno, estás tão grande, és meigo, és bruto, és ainda tão bebé, és loiro, és um querido, és maluco, és insuportável, és meu, és independente, és obediente, és lindo, és esperto, és a alegria da casa, és amado, és feio, és doce, és malcriado, és uma ternura, tens boas maneiras, tens normalmente ranho no nariz, tens mau feitio, tens caracóis, tens pinta, tens a mania de nos deixar embevecidos, tens carinha larocas, tens o condão de nos levar ao desespero, tens cócó (?), tens tanta piada, tens um feitio que não existe, tens charme, tens mais olhos que barriga, fazes caretas, fazes birras, fazes as nossas delícias, fazes de conta que não ouves, fazes chorar o João, fazes rir, fazes trinta por uma linha, fazes-nos felizes, fazes chichi na fralda, fazes-nos num oito, fazes tudo o que te dá na bolha, fazes anos, fazes dois. Parabéns meu amor.

terça-feira, outubro 21, 2003

Aniki Bóbó

Simplicidade no cinema, história de meninos da Ribeira, do Carlos e da Teresinha. Uma boneca numa montra, impossível de alcançar com o que guarda o mealheiro de barro. Prende-se à memória a felicidade imensa da Teresinha quando Carlos lhe oferece a boneca, conseguida de forma enviesada na "loja das tentações". Peripécias e mais peripécias e o mais que merecido final feliz. É que no mealheiro, além de moedas, estava uma mão cheia de amor que ninguém contabilizou.

Volta não volta, aparece-nos uma Teresinha de sorriso enorme, sinal que a boneca da montra, tão desejada, lhe tinha sido oferecida. Linhas tortas ou não, valem os escritos mais que direitos. Diz o ditado que Deus, por vezes, escreve-os assim. Gosto tanto das pessoas felizes.

segunda-feira, outubro 20, 2003

Onda Média

“Boa noite. Quando o telefone toca”
“Boa noite. Posso dizer a frase?”
“Faça o favor.”
“Rua dos Fanqueiros, o maior ...”
“... centro ....”
“O maior centro comercial do país.”
“Muito bem, e que disco quer ouvir?”
“O Pensando em Ti dos Gemini”
“Muito obrigado. Adeus e muito ...”
“Queria dedica-la ao meu namorado. Boa noite”
“ Adeus. Muito boa noite.”


Arejar pelas redondezas
Fui visitar a minha vizinhança lá do bairro. Um bairro modesto e honesto, para recém chegados ou para os mais tímidos. Se fosse em Lisboa, seria possivelmente na Alta de Lisboa – que comparação mais triste, mas as alternativas não eram muitas. Encontrei alguns visinhos simpáticos. Umas casas acima mora um guarda redes, umas casas mais à frente existe a Batata Quente, sem pretensões e engraçada, andei um pouco mais e passei por um fast-writing (conceito de fast food aplicado à escrita em blog). Para fast-writing estava até muito bem confeccionada. Amanhã dou mais uma caminhada, talvez desça a rua em vez de a subir.

sexta-feira, outubro 17, 2003

Maria Rita Mariano
Quando recebi a mensagem já estava para lá de atrasado.
Obrigado ainda assim Marcos.
"Desculpe a hora. Maria Rita no Jô Soares"
Maria Rita Mariano apadrinhada por Milton Nascimento é uma estrela em formação na música brasileira. Mais do que qualquer outra, tem que brilhar o impossível para ter direito à própria luz. É que a luz da mãe (Elis Regina) estrela é (ainda bem) tão intensa. "Ouvi dizer que o lugar mais escuro, é sempre debaixo da luz".
Surpresas
Em tempos de novas instalações, cada vez que chego a casa deparo-me com um cenário diferente daquele que deixei pela manhã. Às vezes porque se esvaziaram novos caixotes, outras vezes por pequenos desastres domésticos e ainda outras porque sim.
Ontem entrei em casa e pensei que me enganara. Saí e fechei a porta. Voltei a entrar. Aquela não parecia ser a minha sala, apesar de estar ao lado da minha casa de jantar. Alguém pegou nos sofás e móveis, baralhou e voltou a dar.
A televisão estava de costas para a janela, o que torna desnecessária a própria televisão uma vez que em contra luz é impossível ver o que quer que seja, o cabo da TV estava tão esticado como um ordenado no final do mês, os sofás estavam na disposição de amuo. Quem ocupasse um sofá não conseguia falar com os ocupantes do outro, nem tampouco olhar para a televisão. O CLD - Conselho Local de Decoração que reuniu e actuou pela hora de almoço proporcionou-me uma cansativa e agitada hora de jantar. "Ai as minhas costas."
Pelo andar da carruagem, quando hoje chegar a casa, descubro que pintaram as paredes às riscas.



quinta-feira, outubro 16, 2003

100
100razão aparente, 100nada mudou-se para 100nada. 100darcavaco, bazou da casinha modesta lá das Américas para uma imensa mansão cá na terra. 100vergonha. 100pedirlicença. Espero que a mudança corra 100problemas que isto de mudar deve ser feio 100pressas e 100dramas.
Passo de corrida atrás de mim
Durante o almoço serviram-se à mesa conversas dos tempos de tropa. Desses, tenho saudades dos fins de semana, que mais do que nunca, sabiam a oásis num deserto de coisas sem nexo. É impressionante como a conversa dos tempos de tropa é tão animada entre aqueles que os viveram, e tão desinteressante para os restantes.
As Perguntas Da Manhã
Hoje há escola? Porque é que é Quinta Feira?
Porque é que as nuvens descem e ficam nas ruas?
Estão furiosas ?
Porque é que estacionaste em cima de xixi de cão?
Estou a pensar em limitar o recurso ao ponto de interrogação durante a manhã.

quarta-feira, outubro 15, 2003

EURO 2004
"A China é o terceiro país a mandar um homem para o espaço, depois da ex-União Soviética e dos Estados Unidos (...) “
Com receio do insucesso, e para evitar uma depressão de dimensões nacionais, a emissão em directo foi diferida em 25 minutos.
Neste contexto, e seguindo o raciocínio que me parece por demais válido, proponho que os jogos da Selecção Nacional sejam transmitidos com um atraso de aproximadamente duas horas. Se a coisa der para o torto, e sob o pretexto de dificuldades técnicas, podem transmitir algumas prestações memoráveis de Portugal nos “Jogos sem Fronteiras” com apresentação de Fialho Gouveia ou Eládio Clímaco.
Ilumina-te e ri
O novo estádio da Luz está quase pronto. Fabuloso, mas o exterior fica mesmo em betão. Tosco. Mal comparado, e em jeito de machismo primário, vem-me à ideia a Marisa Orth (Magda em Sai de Baixo). Um corpo invejável mas um rosto de estética discutível. Tomara que a Nova Luz seja palco de tanto divertimento como a série, com dirigentes tão honestos como o Caco Antibes. Para que não se torne necessário “tomar uma atitude gástrica” e “virar tudo de esperma para o ar”.
Nem de propósito, parece que o GNT vai cessar as transmissões dos “Normais”. Histórias hilariantes do Rui e da Vani. Logo agora que vou voltar a ter televisão por cabo. Quem vê, sabe do que falo, quando digo que me sinto como se me estivessem a amputar as Terças Feiras. A todos os que, durante estes meses de cativeiro, fizeram o favor de gravar os episódios dos Normais, os meus mais sinceros agradecimentos.
Ti Nó Ni
O dia de Sexta complicou-se para lá dos limites impostos. A lista de tarefas era longa e longe de estar fechada. De repente, uma daquelas coisas que baralham todas as prioridades. O príncipe menor tinha ido ao hospital para equilibrar o estômago e pulmões e ficou em observação até ao fim do dia. Levar um filho ao hospital envolve estar preparado para esperar, eventualmente para sofrer com as micro maldades inerentes a diagnósticos e curas. Em visitas de toca e foge, as esperas e as pequenas picadas na alma são toleráveis. Quando se sucedem as iterações nos gabinetes médicos e locais de exame e se adensam incógnitas, soltam-se uns fantasmas filhos da mãe capazes de nos tirar fomes e cansaços. Desarmam-nos por completo e ali ficamos por perto a aprender uma velocidade que não é a pretendida, mas a aconselhável. Por todo o lado paciência e ternura dos médicos e enfermeiros e uma espécie de cumplicidade com outros ali mesmo ao lado. Por fim começam sinais indicadores de acalmia, e conselhos sobre os cuidados a ter nos dias que se avizinham. Enfim. Advinha-se a guia de marcha para casa e a fome, o cansaço e boa disposição vêm à tona. “Com tantos fios e esse monitor pareces uma Play Station”. Piada cretina mas antecipa uma noite mais calma e um fim de semana dedicado à recuperação de todas as forças. Nossas e do príncipe que está magrinho que dá dó. “Ana. Se ele vomitar agora à saída tapa-lhe a boca, ou ainda o obrigam a passar cá o resto da noite.”

segunda-feira, outubro 13, 2003

Chuva na areia
Consigo imaginar alguns sítios onde a areia se torna irritante. Vou mencionar três deles. Nos olhos, nas virilhas e nas cadelinhas (ou ameijoas). P.... das bichas tinham mais areia que o deserto. Tinham tanta, mas tanta areia que se podia organizar a próxima edição das construções n’ areia naquela frigideira. Da próxima vez faço algo mais simples. Carne de Porco à Alentejana.

sexta-feira, outubro 10, 2003

Luz
O dia nem começou lá muito bem, e insiste em complicar-se. Por enquanto, vale o instante em que o nevoeiro ameaça ceder à pressão do sol recém chegado.
Shrin Ebadi
Tenho muita dificuldade em perceber porque é que o Nobel da Paz não foi atribuído a Blair, Bush, Aznar e Durão pelo empenho demonstrado e forte determinação em proteger a humanidade contra a incontrolável ameaça iraquiana. Nem o Porto tem um quarteto defensivo tão eficaz.

quinta-feira, outubro 09, 2003

Já agora,
pergunta-lhe se não tem um pincel de cozinha a mais.
Carpaccio
Colocam-se as finas fatias de carne em toda a superfície do prato raso. Tempera-se com sal e pimenta. Cortam-se os cogumelos e o aipo em lâminas, distribuídas uniformemente sobre a carne. Numa taça, mistura-se duas medidas de azeite e uma de sumo de limão. Pincela-se a carne, cogumelos e aipo com o molho e por fim polvilha-se o prato com queijo às farripas. Serve-se frio.
“Importas-te de ir à vizinha de cima perguntar se ela tem um bocadinho de
- carne cortada na máquina do fiambre;
- aipo;
- cogumelos;
- limão;
- pimenta;
- queijo às farripas
que nos possa ceder ?”
Muda I
Pasta e escova de dentes, creme e máquina de barbear, desodorizante, creme de duche, shampô, roupa de dois dias, sapatos, leite, café, batatas fritas, biberões, cerelac, benuron e brufen, toalhetes, fraldas, margarina, sal, esparguete, ovos, fiambre, termómetro, detergente louça e roupa, roupa de cama, almofadas, pijamas. Não falta nada !

1. Toalhetes
“Dá-me o papel higiénico se faz favor, que me esqueci de o trazer para a casa de banho.”
“Não veio? Como não veio? E limpo-me a quê?”

2. Batatas Fritas
.o0O ( o escorredor não veio, mas com jeito consigo tirar a água do tacho do esparguete )
“Há batatas fritas? O esparguete desapareceu pelo cano do lava loiças.”

3. Arrrrrgggghhh !!!!
.o0O (café com leite, que boa maneira de começar o dia)
“Alguém sabe onde guardámos o açúcar?”

quarta-feira, outubro 08, 2003

Arnaldo o governador implacável
Capazes do melhor e do pior, os rapazes do lado de lá do atlântico, elegeram um mau actor para governar. Se a moda pega por cá, o conselho de ministros podia assemelhar-se ao elenco dos Malucos do Riso ou ao de qualquer novela da TVI. Boa dica seria inverter o processo de transformação e obter actores a partir de maus giovernantes, com a vantagem de alguns terem desenvolvido competências nesta área durante o exercício das suas funções. As televisões agradeceriam a receita para a guerra das audiências e finalmente poderíamos sorrir com a prestação de Manuela Ferreira Leite nos episódios da novela “Saber Poupar”, do Alberto João em “Jardim Proibido” ou do Paulo em “Portas de Vidro”. Já imagino comentários “Ai que bem que vai aquele rapaz. Faz tão bem os papeis dos gémeos: o de Paulo e o de Miguel.”

terça-feira, outubro 07, 2003

Aquilo não foi culpa dela.Aquela galinha deve ter morrido com uma crise de pânico. Não há outra explicação para ter ficado com os músculos naquele estado. Tensos e rijos que nem cornos. Nem com duas horas de cozedura o animal relaxou. Eu aposto que mesmo que fizessem hamburgers daquele bicho, iam ficar tão duros como os congelados. Ora a criatura vinha anunciada como sendo do campo, no estado em que a encontrei só se fosse do campo de concentração. Esquálida e escura. O colapso nervoso foi de tal forma que quando fez canja deu letras em vez de arroz.
Os galináceos que povoam as mesas urbanas vêm do aviário, têm uma vida estúpida e curta, e uma morte não anunciada e tranquila. Os do campo pelo contrário têm uma vida invejável, ar livre e comida diversificada. O pior é quando morrem. Uma mulher gorda envergando um enorme facalhão a correr na sua direcção. Qualquer criatura, mesmo desta espécie a quem não se reconhece grande inteligência, paralisava de medo perante o cenário. Foi isso que aconteceu. E quando assim é, não há panela de pressão que valha. O melhor mesmo é pintá-la às cores como fazem em Barcelos, e colocá-la na recém chegada mesinha do hall de entrada.

segunda-feira, outubro 06, 2003

Deixa lá
Caixa, caixote, papelão, conteúdos, pó, prateleiras, choros, escadas, empoleirar, torneira, quente e frio, pó, portas, Portas, risos, estantes, papel, panos, arrasto, soalho, pó, brinquedos, luz e gás, canja, birra, gavetas, golos, sono, telefones, máquina, gente, galinha do campo, quadros, pó, aspira, caixilho, festa, lâmpada, bolos, sonhos, roupas, objectos perdidos, inúteis, pó, temperatura, interruptor, água, acende e apaga, abre e fecha, trabalho, fim, não, miragem, pó.

sexta-feira, outubro 03, 2003

As saudades também se abatem (ou não)
Regresso tardio e cansado ao pequeno espaço, num carro a abarrotar de nós e de sono. Forço um desvio e faço o percurso coincidir com o caminho de chegada à antiga casa. Apercebeu-se das ruas e quis saber da razão das tangentes às memórias recentes.
“Vamos passar à porta da casa velha, para matar saudades.” Sempre tomei como axioma “Eu matar não gosto muito, mas saudades é diferente, é como matar pulgas, alivia a gente”. Inquestionável até à última curva de acesso à casa velha. Ouço o JM naquela voz equidistante entre o choro e o sono “Eu não quero matar as saudades da casa velha, eu gosto de ter saudades porque tinha um corredor. Quer dizer, tinha dois.”
Há saudades que se desaparecem, são sintoma de esquecimento e essas, segundo o JM, devem ser preservadas.

quinta-feira, outubro 02, 2003

Governo admite imposto sobre poluição
A ideia é simples, quase infantil. Pagar a asneirada. Permite-se o deslize e algum descontrolo desde que devidamente recompensado. É urgente generalizar esta prática de comprar falta de virtude:
As televisões pagam pelo lixo que emitem.
Os árbitros pelos erros cometidos.
Os avançados do Benfica pela falta de pontaria.
A defesa do Benfica pelas ofertas aos adversários.
O Porto pela arrogância.
Os governos pela incompetência.
A justiça pela lentidão.
Muitos de nós pelo egoísmo...
Criem-se produtos pré pagos pelas asneiradas a cometer. Os sete pecados mortais não deviam ser filme, ou variedades de Magnum, deviam ser cartões recarregáveis de 25 euros a consumir no futuro. “O seu saldo de gula é inferior a 1 euro”. Vou ter que passar no MB antes do almoço.

quarta-feira, outubro 01, 2003

Internet Mail - Filme
A menina fez-se igual ao irmão, recém chegado da quimioterapia. Abraçou-o e ofereceu-lhe uma madeixa de cabelo acabado de cortar de forma tosca.
Este filme chegou assim camuflado no meio do muito lixo electrónico. Nó na garganta. Que safanão. O que faríamos à realidade sem as vacinas da ficção ?
No acanhado espaço um novo residente. O estendal da roupa para o interior. Ainda pensei em extremar posições. “Ou o estendal ou eu”. Chovia tanto e não ia de todo ser fácil achar abrigo aquela hora. Sou alérgico a gatos e cavalos. Vou acrescentar estendais a esta lista. E GIRAFAS.