terça-feira, novembro 26, 2013

Noves fora tudo

Cheguei atrasado à natação para te apanhar e levar para casa. Já estavas de banho tomado, vestido e de cabelo mal seco. O progenitor de um outro miúdo perguntou-me se era eu o teu pai. Palavra de honra que pensei “Estupor do fedelho já asneirou. Ou se esticou no vernáculo com os amigos, ou foi malcriado com algum adulto.” Tenho-te em boa conta já se vê. Preparo-me então para o discurso evangelizador sobre o respeito com os outros, e eis que o pai do outro miúdo me dá os parabéns. Não pelo teu nono aniversário, mas pela ligeireza a resolver um problema de matemática, em que te mostraste lesto onde muitos adultos se atrapalham. Desarmei-me da pose autoritária, suspirei de alívio e inchei de orgulho, só não comentei o milagre da herança genética porque a modéstia fica quase sempre bem. Orgulho-me da tua agilidade com o raciocínio, orgulho-me dos teus nove anos, da tua persistência, da tua alegria, do teu sorriso, do teu mimo, da tua autonomia, da paciência com os teus irmãos e dessa deliciosa insistência em ser o eterno bebé da casa. Afinal ainda só tens nove anos, nem duas mãos completas para mostrar a tua idade. Desespero nos teus exageros, nas tuas birras, nos teus amuos, na tua autonomia, da falta de paciência com os teus irmãos e nessa estranha insistência em seres o bebé lá de casa. Afinal já tens nove anos, quase duas mãos completas para mostrar a tua idade. Afinal já sabes tanto, afinal já és tanto, afinal imenso. Afinal noves fora tu, noves fora tudo. Parabéns meu Amor.

domingo, novembro 24, 2013

Nem o pai morre nem a gente almoça

Hoje surgiu na agenda dos jornais e das televisões, a crescente e preocupante dimensão da geração nem-nem. Uma geração algures entre os vintes avançados e os trintas iniciados de gente que nem estuda nem trabalha. Corolário da conjuntura, da crise, das escolhas, do mercado, da cultura e da troika assistimos serenos ao crescimento desta geração de nem nem. Estou em crer que esta geração congrega pessoas de vários perfis e encerra vários "nem-nem". Há os "nem-nem" do lado "Nem tenho idade nem feitio para trabalhar nisso, nem que me paguem o meu peso em ouro" resignados e de tímida iniciativa e há os "Nem que fechem todas as portas, nem que me esgote de todas as forças eu vou desistir" lutadores, combativos e persistentes. O futuro, se colocar de lado uma certa ironia tantas vezes atribuída ao destino, há-de tratar cada um destes casos com um presente coerente com cada nem-nem.
No entanto, em consciência, não se pode falar do futuro destes nem-nem sem referir que quer eles, quer o futuro por que lutam ou esperam é o resultado de uma geração política sem-sem ou sem-nem. Sem alma nem escrúpulos, sem eira nem beira, sem critério, sem palavra, sem honra nem glória, sem ponta por onde se lhe pegue, sem ideias, e pior ainda, sem ideais nem ideologias, sem coração, sem solidariedade, sem vergonha na cara nem peso na consciência, sem pingo de decência, sem coragem, sem sabedoria, sem soluções, sem respeito e sem qualquer valor. Esta geração política é sem-sem, e temo que continue a ser sem-nem até que o país fique assim, sem rei nem roque.