Sempre achei Jorge Palma do melhor que por cá se faz, ligeiramente perto da genialidade. A figura decadente, as canções desconcertantes, o piano magnífico, a viola quase tanto, a voz quase nada. Os concertos sempre foram únicos. Saía de lá com uma história para contar mais tarde, como os miúdos que hoje têm direito a uns brindes à saída de uma festa.
Uma vez encntrei-o na feira popular. Estava sentado numa esplanada com um copo de vinho, uns papéis de escritos, um copo de vinho e uma miúda gira. Achei graça. A feira popular era então tão decadente quanto ele. Ficava-lhe bem aquela esplanada. A feira popular acabou, ele nem por isso. Antes pelo contrário. Ainda bem.
Cada vez que ouço "A Carta" dos Toranja, dá-me vontade de lhes bater. O que é aquilo? Parece franchising de uma fórmula de sucesso. Que pobre. Que podre. Qualquer um consegue escrever a imitar Jorge Palma, mas adianta alguma coisa. Acrescenta algo ao que existe? Serve para quê? Vejamos:
Ligo outra vez a televisão
no canal do teu sorriso
no programa de sexta à noite
faço-te lider da audiência
dos meus sonhos
traz-me o comando à distância do teu peito
quero fazer zapping até me tornar
o teu homem mais que perfeito
Isto assim escrito às três pancadas, com um bocadinho de trabalho há-de ficar parecido com uma letra do Jorge Palma, mas não tem nada a ver, não serve para nada. É linearmente dependente de uma coisa que já existe. È fraco. Estéril. Não gosto.
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