segunda-feira, maio 03, 2004

Hospital Santa Maria
O João Maria, a contas com umas alergias manhosas que lhe deixaram as pernas em várias tonalidades de vermelho, foi comigo à urgência pediátrica de Santa Maria. A gorda não se calava, e queria saber tudo sobre a vida da cigana e da mulher que dava colo a um quase recém nascido. A cigana, mãe de cinco filhos que, só não tinha mais porque não podia. Mãe coragem com certeza. As perguntas eram cretinas e quase ofensivas. O que é que a gorda tinha a ver com a opção por ser mãe de cinco, até de mais assim pudesse. Perguntava-lhe se gostava de crianças, só dos dela, que idade tinha, que idades tinham os filhos, se iam à escola. À outra perguntava se era o único, porque é que tinha esperado 14 anos para ter o segundo filho, se tinha mais paciência para este do que para o mais velho, se eram parecidos, porque é que eram de pais diferentes, como é que engravidou aos 18 e depois aos 32, se estava à espera de voltar a ser mãe. Estupor da gorda só me apetecia mandá-la calar. Falava o que lhe vinha à parca cabeça. Retardada. Incontinente verbal. Estúpida. Mete-te na tua vida.
A cigana e a mulher respondiam como se falassem para uma assembleia, porque os filhos são a maior riqueza e orgulho de uma mãe e destas riquezas não há que haver receio de anunciar.
Fui-me embora porque o João Maria melhorou e foi mandado para casa. O que iria na cabeça daquela gorda para querer saber assim, da vida dos outros.

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