quinta-feira, maio 27, 2004

Gil


"Lembro com muito gosto o modo como ela se referia a ele. pelo menos ela o fez uma vez e isso ficou marcado muito fundo, dizendo: caetano, venha ver o preto que você gosta. isso de dizer o preto, sorrindo ternamente como ela o fazia, o fez, tinha, teve, tem, um sabor esquisito, que intensificava o encanto da arte e da personalidade do moço no vídeo. era como se se somasse àquilo que eu via e ouvia, uma outra graça, ou como se a confirmação da realidade daquela pessoa, dando-se assim na forma de uma benção, adensasse sua beleza. eu sentia a alegria por Gil existir, por ele ser preto, por ele ser ele, e por minha mãe saudar tudo isso de forma tão direta e tão transcendente. era evidentemente um grande acontecimento a aparição dessa pessoa, e minha mãe festejava comigo a descoberta."
Excerto do livro "Verdade Tropical" de Caetano Veloso

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