Olhar em volta
Entre a serra e o mar agitado, depois de Colares, ao virar para a praia que é grande, encontra-se a casa, o ribeiro e a velha ponte. Na casa, o início das escada, anuncia a chegada ao mundo da minha infância. É lá que a Graça Pinto Basto mostra os seus quadros, e a sala no fim das escadas, além das linhas e das cores, expõe as minhas memórias.
Até aos meus 6 anos, a Graça sempre foi para mim, a polícia sinaleira que ri. No quintal lá de casa ocupava o redondel e dirigia o trânsito por aquelas bandas. A minha irmã de bicicleta, e eu de carrinho de pedais. Nunca chocámos. Graças à perícia da polícia Graça (gosto do som desta frase).
Uns anos mais tarde, ia com os meus pais visitá-los a uma pequena casa em Campolide. É daí que vêm as memórias do estirador no fim do corredor, e de todas as tintas e pincéis ao dispor da nossa imaginação. Por uma noite eu e a Maria éramos pintores. A casa de Campolide era engraçada e tinha encanto. Tanto mais que um cavalo nas traseiras vinha comer à nossa mão. O jantar, muitas vezes era fondue e isso era genericamente considerado muito bom.
Na sala, lá estão as memórias. A polícia sinaleira que ri e os pincéis de Campolide. A polícia sinaleira recebe-nos e entrega-nos um guião feito postal. Palavras doces para reconcilio de traços e cores em telas. Palavras que “com as cores se confundem tal e qual o camaleão”. Muitas Dulcineias para um só D. Quixote. Revelam-nos segredos que imaginei contados, paixões, cenas criadas, cumplicidades com as cores. Revelam-nos livros. O que eu gosto do cheiro dos livros. Prendeu-se a Ana à senhora do romance. Tenho a impressão que a hei-de ver mais vezes. Eu ficava com o segredo e guardava-o para sempre.
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