terça-feira, novembro 11, 2003

Cores
Desconfio que a palete a que o canto do sofá se refere é sobre a minha casa nova. Não sei, é uma espécie de pressentimento. Há alguns dias que o tema das cores é abordado de forma muito subtil nas conversas de casal. Frases como:
- O João adorou ter o Gui cá em casa.
têm respostas como
- Gostou muito, têm muito espaço para brincar. O quarto está muito alegre e colorido. É pena, o nosso quarto e o escritório estarem tão sóbrios.
Parece-me ouvir entre dentes
- Um framboesa era capaz de ficar bem catita.
- Diz amor.
- Não disse nada, andas a ouvir coisas.
Quando se juntam as três, a coisa tende a piorar. Devem recordar as recepções na embaixada de Espanha. A sala verde, a sala azul, a sala amarela, a bebida, as batatas fritas, a bebida, o pata negra, a bebida e as caixas de chocolate. O sermão do Garimpo aos Peixes. A bebida.
Ora com casas mais modestas o melhor é fazer a sala verde, a sala azul e a sala amarela tudo na mesma sala. E quem diz verde, diz verde mar caraíbas, e o azul amaciador confort também é lindo, e o rosa José Castello Branco, o laranja cherne, o anil cabelo de professora primária. Temo chegar demasiado tarde. Hoje nem quis saber a que horas é que eu chego. O que vale é que, ao que parece, a vítima vai ser o escritório. Sempre fico com o refúgio do quarto, que está em branco marfim, imaculado e lindo.

Sem comentários: