As saudades também se abatem (ou não)
Regresso tardio e cansado ao pequeno espaço, num carro a abarrotar de nós e de sono. Forço um desvio e faço o percurso coincidir com o caminho de chegada à antiga casa. Apercebeu-se das ruas e quis saber da razão das tangentes às memórias recentes.
“Vamos passar à porta da casa velha, para matar saudades.” Sempre tomei como axioma “Eu matar não gosto muito, mas saudades é diferente, é como matar pulgas, alivia a gente”. Inquestionável até à última curva de acesso à casa velha. Ouço o JM naquela voz equidistante entre o choro e o sono “Eu não quero matar as saudades da casa velha, eu gosto de ter saudades porque tinha um corredor. Quer dizer, tinha dois.”
Há saudades que se desaparecem, são sintoma de esquecimento e essas, segundo o JM, devem ser preservadas.
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