Há coisas que não se explicam ... e isto do Trovante é uma dessas coisas. Para perceberem melhor a dimensão, sou do Trovante como sou do Benfica. Talvez a senhora que esteve ao meu lado no concerto leia este post e me perdoe mais facilmente o facto de ter ido ver um concerto deles e meu e não um concerto só deles. Não me calei pois claro, também não tinha razões para o fazer, não os via jogar há sete anos. Teve azar a senhora, sentou-se ao lado de um diabo vermelho. Também já me aconteceu. É chato, mas não é o fim do mundo, minha senhora.
Juntam-se a pretexto de um evento institucional o que me provoca algumas cócegas. A mudança de imagem do Montepio. Juro que cheguei a temer o pior. Convites para os melhores clientes do banco, ou seja, uma plateia de contrutores civis, produtores de mármore, de importadores de automóveis borrifada com um ou outro excitadinho que tinha suado por um bilhete como eu. No máximo, cheguei a pensar, esta gente vai mexer-se na cadeira no refrão do Timor e pouco mais. Nada disso. Provavelmente a construção civil, a indústria do mármore e a importação de automóveis está muito diferente e quem não souber pelo menos a Balada das Sete Saias, a Saudade, a Outra Margem, a Travessa do Poço dos Negros, a Memória de Um Beijo, o Perdidamente, o 125 Azul e o Timor não consegue singrar nestas áreas.
Restava saber como é que os rapazes lá em cima do estrado iam encarar o evento e se se conseguiam divertir-se por aquelas bandas. Pegue-se no alinhamento do Pavilhão Atlântico de há 7 anos atrás e eliminem-se os riscos desnecessários. Chão Nosso, Aerograma, Linha das Fronteiras e Fim era esticar a corda. Saltam para fora pois então. De resto mantém-se a sequência. Quem lá tivesse estado ou alguma vez ouvisse o disco, ia lembrar-se de algo, à medida que os rapazes desembrulhavam as memórias.
A audiência foi-se deixando conquistar e os rapazes davam sinais de que estavam mesmo com saudades de tocar juntos. Cumplicidades estabelecidas. No palco e entre palco e plateia. Divertem-se todos (talvez a senhora ao meu lado continue de trombas sempre que a minha voz se adianta a uma entrada ou se ouve melhor que a do Luis). A vê-los estava também uma geração que nunca os tinha visto juntos. Os filhos deles e os Joões Marias que existiam entre a assistência. Quem disse que os álbuns de recordações não chegam para gargallhar?
Noite conquistada e o Luis consegue fazer um discurso quase institucional sobre a mudança de imagem. Isto sim é novidade. O homem adquire, ao fim de tantos anos, a competência da expressão oral. Também novidades nalguns arranjos ou improvisos em zonas mais instrumentais de icones de outrora. Refinaram a relação com os instrumentos ao longo destes anos, tocam cada vez melhor. Já com a voz é preciso sabedoria, e ali nunca faltou. Na esplanada, no namoro II e na saudade nota-se a defesa nos muito agudos, ora em forma de mudança de tom ora na gestão da distância entre o microfone e o aparelho vocal (muito bem feita que é para não acharem que as canções são para se cantar entre os 20 e os 30 anos. A esplanada raramente saía na perfeição, mas quem se rala com isso). O João Maria encantado, já canta quase todas as músicas para maior desespero da senhora do lado que certamente pensa - esta merda é hereditária raios os partam.
No fim de festa cabia agradecer a pachorra e a simpatia do João Gil em nos ter arranjado bilhetes. Camarins connosco. Aquela parte gaga de cair no meio de familiares e amigos próximos a provocar uma nesga para dizer obrigado, dar os parabéns e pedir uma assinatura num bilhete. Mas soube tão bem. O João Maria já meio em alfa de centauros, songamongas de sono a olhar por trás das lunetas para Luises e Joões e Manueis e Zés e Fernandos e Artures. No nosso bilhete abraços assinados pelo João Gil pois claro, Manuel Faria, e Luis Represas. Regresso a casa depois uma noite inesquecível.
Parafraseando Manuela Azevedo "Juntem-se mais vezes,..., se quiserem"
Saudades do futuro.
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