Fui educado com alguns cuidados, a menos daquela questão de oferecer o lado de dentro do passeio às senhoras, sem que nunca me explicassem o que fazer no caso de um piano ou de um cofre cair do lado de dentro esmigalhando a respectiva e deixando-me intacto mas sem companhia.
Neste processo cognitivo, aprendi, penso eu, a saber ganhar com modéstia e perder com sabedoria (o Benfica tem contribuído muito neste último aspecto). Mais ainda, aprendi que, em competição, devemos com cuidado, evitar ruídos desnecessários focando-nos no essencial, sem subestimar nem sobrestimar o nosso valor ou o valor do adversário. A arrogância, o cantar de galo, o excesso de confiança, a desculpa de mau perdedor e a fanfarronice do mau vencedor dão, regra geral, mau resultado. Para não dizer que são características dos estúpidos, diria que o são dos pouco inteligentes, de visão turva e enevoada pela vontade de vencer. Vencer ou perder com postura são atitudes que, são tão simples quanto sábias.
Por um tremendo azar o presidente do Benfica assim não pensa. Faz do presidente do Porto o seu cavalo de batalha sem se focar nos seus verdadeiros problemas. E quando faz isto garanto-lhe que envergonha muitos Benfiquistas, por muitas e boas razões que me atrevo a recordar:
- O presidente do Porto não diz “hã” nem “hum”, no meio de cada frase;
- O presidente do Porto consegue ser mais irónico, mais acutilante e venenoso, mais sarcástico e tem muito mais razões para actualmente estar satisfeito com a equipa que o senhor presidente do Benfica;
- O presidente do Porto não concorre à presidência do Benfica;
- Não se conseguem contrariar frases do estilo “o Benfica está cheio de incompetentes porque esta época já perdeu quatro vezes por 3-0, tem um quarto da equipa lesionada e os restantes três quartos divertem-se a acumular cartões amarelos e vermelhos, está prestes a ser eliminado da liga dos campeões e nem consegue calcular um deadline para a solicitação de bilhetes ao adversário”.
- Os verdadeiros cavalos de batalha do Benfica devem ser a indisciplina, a falta de ambição, a irregularidade, o desequilíbrio do plantel, o departamento médico, o passivo gigantesco, a falta de pontos na liga dos Campeões e o preço exagerado dos bilhetes;
Posto isto sugiro ao Luís Filipe Vieira alguma contenção verbal, e muito, mas muito maior elegância na postura. Nestas condições, sr Filipe Vieira, asseguro-lhe que, no caso de vitória, esta saberá exactamente ao mesmo e que na eventualidade de uma derrota a amargura nunca será tanta. E a atitude é certamente muito mais sábia e educada e diatante da do Sr Pinto da Costa.
Já me basta ser católico, e ouvir, de vez em quando, as barbaridades que ouço, ditas por quem tem sérias responsabilidades. Poupe-me lá a sentir o mesmo nesta Catedral.
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