segunda-feira, janeiro 09, 2006

O Restaurante no Fim do Universo (*)

... parece-me ter sido o cenário escolhido para o jantar de ontem. No início nada fazia prever que aquele restaurante fosse sofrendo mutações ao longo do jantar, mas na realidade, acabei por sair de um restaurante que nada tinha a ver com aquele onde tinha entrado.
Em princípio não seria mais que um dos restaurantes da moda em Lisboa. Quando entrámos, por volta das 21:30, havia casais com crianças e famílias a saborearem a refeição. Sentámo-nos na mesa redonda e fomos tratanto das escolhas e de colocar conversas em dia. O primeiro sinal, que nunca relacionei com a mutação, vinha da lareira que estava com tremenda dificuldade em escoar o fumo. Volta não volta a sala era invadida por uma espessa nuvem de fumo, capaz de camuflar todas as alterações que ocorriam à nossa volta.
Quando demos por nós as crianças e as famílias tinham sido eliminadas. Agora as mesas eram ocupadas por grupos de seres tendencialmente vestidos de preto e quase todos pareciam perder bastante tempo a arranjar as sobrancelhas. Foi então que nos lembrámos que a dada altura, a música tinha estado muito alta ao ponto de ser difícil manter a conversa na nossa mesa. A haver algum ataque teria sido nessa altura. Os empregados que inicialmente nos atenderam foram dizimados e substituidos por outros exactamente iguais, mas que comunicavam entre si através de sons iguais a beijos repenicados.
Há quem defenda que o som do beijo repenicado, é dos que melhor se ouve, em ambientes ruidosos. Esta teoria chegou à nossa mesa durante a sobremesa, e desatámos a emitir sons de beijos repenicados, o que deixou os empregados em completo reboliço. Sem qualquer intenção, tínhamos pedido uma dose de morcela com grelos e outra de bacalhau à zé do pipo e estes pratos estavam longe de pertencer à ementa e à linha editorial do restaurante. Empregados e cozinheiros não sabiam o que fazer e caos tinha-se instalado.
No meio desta confusão, alguém da nossa mesa comentou o facto, que naquele restaurante, acabava sempre por aparecer alguém conhecido. Foi aí que olhámos em volta e já havia sósias do Herman José e do Paulo Portas espalhados por tudo o que era mesa. Não demorou um minuto até surgirem pessoas que conhecíamos do nosso local de trabalho e que nos comprimentavam efusivamente. Por fim apareceram jornalistas de televisões privadas.
Não havia tempo a perder, tínhamos que sair dali e depressa, antes que já não estivessemos na nossa galáxia ou, pior que tudo, antes da previsível chegada das drag queens. O fumo da lareira, que não parava de invadir a sala, acabou por nos ajudar na fuga. Ainda estávamos na Via Látea e melhor ainda, ainda estávamos no sistema solar.
O regresso foi tranquilo. Uma paragem num bar para um gin tónico e conseguir recuperar alguma tranquilidade.

Se estiverem num restaurante, e se num repente, a música ficar muito alta e muito diferente, estão perante um de dois cenários.
1º Cenário: Foi parar a um restaurante com Karaoke e teve o tremendo azar de marcar jantar para o mesmo dia do Jantar de Natal dos patinadores do feira nova. Uma das patinadoras resolveu cantar "Quando cai a noite na cidade" ou "Fado".
2º Cenário: Encontra-se num restuarante mutante. Mantenha a calma e saia depressa para o bar mais próximo. Evite sentar-se nas mesas do bar, mais vale deitar-se numa qualquer cama que encontre por lá.

(*) este é o título do segundo de quatro volumes da triologia de Douglas Adams - "O Guia Galáctico do Pendura"

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