terça-feira, janeiro 03, 2006

A Nova República

Meus senhores. De uma vez por todas, vejam se entendem, o Presidente da República não é o timoneiro deste navio. Na realidade não se trata de um navio, antes uma embarcação que na maioria das vezes está submersa e que raras vezes se digna a  flutuar. Se Portugal fosse um navio, a sua história era mais triste que a do Titanic. Um passado distante cheio de glória, actualmente um trambolho dentro de água, com tiques de novo riquismo à tona. A saber, quem nos visse à superfície ia encontrar a mais alta árvore de natal da Europa, o maior centro comercial da Península Ibérica, e os estádios do Euro 2004. Símbolos da nossa tendência para ser os melhores na categorias das “coisas que não servem rigorosamente para nada”.
Dizia eu, que o PR não determina o rumo desta embarcação. A ser alguma coisa o PR será figura de proa. Adorna a embarcação e leva nas trombas com as águas agitadas pelas quais vamos navegando. Faz tudo isto com cara alegre e sem mudar de expressão.
Se na parte de não mudar a expressão Cavaco é imbatível, já na cara alegre, poucos haverá piores que ele. Talvez o General Eanes lhe faça alguma concorrência neste ponto, mas sejamos francos, foi uma década bem sisuda. Nesses tempos, as poucas alegrias vindas de Belém eram todas asseguradas pela performance da Manuela nas aparições públicas. Mas nem sobre a primeira dama devemos acalentar grandes esperanças. A Maria é menos espampanante e será com certeza, mais discreta. O que nos resta então? Uma figura de proa que não conhece nada a menos de rácios e indicadores financeiros, que confunde cultura com o Filipe la Féria e que acha que, no fundo, o Bush é um gajo porreiro.
A solução, meus caros, está na Endemol. Ponham a Endemol a produzir estas eleições e o resultado será com certeza outro. Primeiro de tudo, isolavam os candidatos do mundo, juntavam-nos na mesma casa e transmitiam-nos um resumo de uma horita sobre os acontecimentos do dia anterior. Transformavam os tempos de antena, em idas a um qualquer confessionário, para desabafarem com a Júlia Pinheiro e com a Constança Cunha e Sá. Aí confessariam as suas angústias, os seus amores e desamores. Podiam-lhes arranjar provas a superar. A preparação de uma recepção a uma comitiva Chinesa, a comemoração do Vinte e Cinco de Abril, o discurso de Ano Novo, uma audiência com um Primeiro Ministro corrupto, a recepção da notícia da tomada da Madeira pelos espanhóis e a necessária conversa com o Alberto João.
Posto isto e perante o sucesso televisivo, haveria que garantir uma segunda volta. Use-se então a receita do costume. As pessoas votavam naqueles que queriam ver eliminados e não nos que quisessem eleger. Cavaco por  ser o inimigo de todos os outros, Soares por ser o inimigo do Cavaco, Alegre por ser o inimigo do PS e Louçã por ser o inimigo do PCP estavam decididamente condenados a ficar pelo caminho. Resultado: a finalíssima era disputada entre Jerónimo de Sousa (no final de contas, foi quem melhor recebeu os Chineses) e Garcia Pereira  (está sempre a refilar e a atacar o Moniz mas no fundo é a alma do programa). O fim destas eleições seria com certeza uma surpresa para todos nós e para o mundo. Seríamos  notícia de abertura em todas as cadeias televisivas internacionais. Não pela maior árvore de natal, ou pelo imenso centro comercial, ou pelos incêndios de verão, mas pela descoberta de um sistema claramente melhor que a democracia, que não o sendo, parece ser fiel aos seus princípios. Viva a Endemol. Viva Portugal.

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