Se há coisa que realmente me enerva, é a má criação. É ainda pior que a falta de educação, simplesmente porque, esta última, tratando-se de uma carência, pode ser resultado de uma vida deficitária em quase tudo.
Pelo contrário, a má criação, é o resultado de uma intenção explícita de educar mal, ou de ser mal criado. E os mal criados irritam-me profundamente.
Não concebo que alguém, no seu juízo perfeito, organize um jantar em casa, prepare a refeição, ponha a mesa, sirva as entradas e os aperitivos, e que, na altura de se sentar com os convidados para a refeição, resolva dizer que afinal não lhe apetece jantar e nem sequer se digne a sentar-se à mesa.
Foi isso mesmo que o Benfica fez no Sábado ao Sporting. Resolveu não jantar e assim que terminou o aperitivo, desapareceu sem dar cavaco (ai Jesus que este nome me faz arrepios). Os convidados, coitados, perante tal cenário, atiraram-se à sopa, ao prato e à sobremesa como se não houvesse amanhã. Chafurdaram no creme de alho francês, raparam as travessas de bacalhau espiritual, e encheram o bandulho de profiterolles. Aguados, comeram de boca aberta, bolo alimentar exposto a quem o quisesse ver, enfiaram as mãos alarves em travessas e pratos, babaram-se e arrotaram como javardos. Deliciados e cegos com a fartura do repasto. O dono da casa, ausente, nem se dignou a fazer-lhes companhia. Má criação. Pura e lamentável má criação.
Agora é vê-los inchados, ainda a esfregar a barriga de satisfação, tal a sofreguidão com que se entregaram ao mata bicho. Que vergonha, olhe para aquelas almas Sr Benfica, ainda esquecidas da miséria recente, das refeições mendigadas garante da sobrevivência, alheias, porque de estômago cheio, às dificuldades que se avizinham. Vá lá pedir-lhes desculpa e ofereça-lhes uma refeição quente, quando a fome lhes voltar a colar as paredes do estômago. Desta vez, aproveite e sente-se à mesa também. Até lá aprenda as boas maneiras.
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