quarta-feira, janeiro 12, 2005

Pois tremo ...

Veio o tema à baila agora mesmo no café da manhã. O meu tremor essencial que faz com que, por defeito, as minhas mãos oscilem ora para a esquerda ora para a direita. Acho que nunca o disse de uma forma muito explícita aqui na Caixa de Costura. Digo de forma explícita porque volta não volta acerto na tecla ao lado daquela que quero acertar. Addim nesmp. São tremeliques e não há muito a fazer sobre o assunto. Isso afasta-me de algumas actividades como a da neurocirurgia (esta estória fica para outro post), a da electrónica e a de cortar as unhas ao bébé já que provavelmente lhe cortaria as pontas dos dedos.
Por outro lado tem imenso potencial. Consigo mexer o café, fazer gemadas, bater claras em castelo, tocar ferrinhos com destreza e sem grande esforço. Outras facilidades que a puberdade me foi revelando. Acho mesmo que deveria ter enveredado pela carreira da ginecologista e que se o fizesse ia ter uma carreira de sucesso.
Isto veio a propósito de termos falado do hino da alegria e de me ter lembrado de uma magnífica actuação, pela altura do sexto ano, comigo no xilofone. Três meninos com três xilofones. O si-dó-ré-ré-dó-si-lá sol sol lá si si lá lá a mim saiu-me um bocado fora de tom. Por certo o xilofone não estava bem afinado, mas , bem vistas as coisas, foi um momento raro de criação em contra melodia. Já depois disso vieram os tempos de geometria no quadro, com uns esquadros e umas réguas com dois metros de comprimento e um compasso que numa ponta tinha um prego e na outra uma garra para colocar o giz. Outro momento de glória. Ia matando metade da turma. As aulas de desenho e de trabalhos manuais também me conferiram algum protagonismo. Continuando a saga resolvi que no nono ano a opção mais adequada às minhas qualidades era de certeza a Quimicotecnia. Acho que a ainda hoje a professora se lembra de mim. Engraçou comigo, já se vê. Ainda devo estar a pagar a conta do laboratório. Semana que não desse direito a dois ou três tubos de ensaio e um termómetro partidos, não era semana não era nada. Depois do nono ano houve uns tempos sem grandes incidentes. Um jantarito ou outro em que, a comer sopa, espalhava algumas pinguitas num raio de dois metros, mas nada de muito relevante.
Finda a faculdade, já estava eu a trabalhar, veio a inspecção para o serviço militar obrigatório. Eu lá expliquei aos senhores Médicos Tenentes que tremia das mãos. Ora os senhores responderam-me que sim senhor, que nos dias que corriam todas as pessoas têm os seus tremeliques. Tenho a sensação que não ligaram muito à questão. Passado um ano dava entrada na Escola Prática de Infantaria em Mafra e aí sim. Já ligaram bastante. Não foi preciso muito tempo para ser chamado ao comandante de companhia para explicar a razão pela qual todo o pelotão se sentiu ameaçado aquando da minha magnífica prestação no tiro com pistola. Aquela coisa parecia ter vida própria e queria porque queria disparar em múltiplas direcções. Desconfio que também na tropa toda a gente engraçou comigo, e que ainda hoje sou recordado com muita saudade.
Esta coisa dos tremeliques às vezes não dá muito jeito, outras vezes não sei como há quem consiga viver sem eles, mas uma coisa é certa, faz com que a minha passagem por certas circunstâncias se torne inesquecível. Como daquela vez em que eu menti e disse que era neurocirurgião...

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