segunda-feira, novembro 19, 2007

Pirilampos


Hoje é que foi um fartote. Não há nada que chegue a um dia de chuva depois de umas semanas de seca. O povo diz e é verdade, não há fome que não dê em fartura.
Isto é que foi dar uso aos coletinhos. Ali há semanas pendurados nas costas dos bancos do condutor e do pendura, prestes a perder a fluorescência. Já tão murchinhos, coitadinhos dos coletes. Aposto que alguns até estavam no porta luvas, ou esquecidos na bagageira, sujeitos a ganhar fungos, os coitadinhos. Eis que uns aguaceiros mais persistentes os fazem desabrochar. Raros os cruzamentos em que não apareceram dois ou três coletinhos florescentes, envergadinhos pelos seus donos, a darem luz como os pirilampos. A A5 parecia a via láctea, até brilhava em amarelo fluorescente.
Só há uma coisa que me deixa confuso. Aqui há uns anos, quando os automobilistas tinham um acidente, falavam entre eles. É certo que não brilhavam no escuro, mas falavam uns com os outros, para tratarem da declaração amigável, ou para se insultarem ou mesmo para chegarem a vias de facto. Atitudes sensatas e de estreita comunhão de um problema a resolver em conjunto. Hoje em dia, estão vestidos com os coletes brilhantes, mas falam ao telemóvel, e raramente passam cartão aos restantes acidentados. Será que estão a falar uns com os outros ?

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