Ontem foi dia de Todos os Santos. A tradição familiar sediada em casa dos Pais. Antes era na da avó Céu, mas depois do avô morrer e da avó evitar que as festas fossem lá na Estrela, a mãe pegou no dia de Todos os Santos.
A casa da avó Céu era o lugar predilecto para as reuniões de primos. Um quarto andar na última fila do anfiteatro de Lisboa. O Castelo, o Terreiro do Paço, a Baixa, o Rossio, Santos e Cais do Sodré. Tudo se via daquela marquise. Então se subíssemos ao ponto mais alto do telhado. O prédio tinha um túnel que lhe passava por baixo, e dava acesso às aventuras, tinha a nespereira boa de trepar e que se ficava pelo segundo andar, tinha os quintais cheios de muros mesmo ao nosso alcance. Tinha dois terraços, e todos os esconderijos estavam lá. E a caixa de ferramentas do avô ? Sempre arrumada à nossa chegada, e descaradamente caótica quando saíamos. A caixa de ferramentas do avô tinha tudo o que precisávamos para os carrinhos de rolamentos. Depois era pegar neles e descer do miradouro do Jardim da Estrela. Granda pintarola. E as idas à Baixa de eléctrico ? Sempre tão cheio, que quase não conseguia chegar ao Camões. Armazéns do Grandela para comprar brinquedos. Pistolas e fulminantes para os rapazes e bonecas para a Maria. Transformava-mos a casa no velho Oeste e as fitas de fulminantes marchavam todas. Depois apareceram as argolas que davam um estoiro enorme. E os avós aturavam-nos tudo isto. Santa pachorra.
Isto que estava para ser um post sobre o dia de Todos os Santos, transformou-se neste novelo de lembranças. Coisas da memória. Parece esparguete cozido sem gordura. Quando se puxa por uma ponta, vem o tacho todo atrás.
Sem comentários:
Enviar um comentário