Nunca coloquei aqui a cara dos Marias, porque não acho uma boa ideia. Coloco uma foto de há um anos atrás, para contextualizar tanto orgulho ... O João, o António e o Manel.
terça-feira, novembro 29, 2005
segunda-feira, novembro 28, 2005
Primeiro
O primeiro choro, o primeiro beijo, o primeiro abraço. Agora o primeiro Ano. Cheio de estreias e de emoções como todos os primeiros anos. O primeiro banho, o primeiro dia em casa, o primeiro passeio. Que susto o primeiro susto, do primeiro febrão por alturas do primeiro Natal. A primeira ida de férias a cinco, as cadeiras de todos encastradas no banco de trás. Apertadas te tal maneira, que cada vez que aperto os cintos, parto dois ou três dedos. De tal maneira apertadas que quando fecho a porta do carro, tenho que o fazer com força, o que provoca sempre um salto ao desgraçado da ponta oposta. Nada a fazer, as cadeiras são largas e o banco só chega para 2,93.
Grandes aventuras portanto, senhor António. Há um ano atrás (leia-se 26 de Novembro 2004) estava eu naquela figura ridícula com a bata e touca verde já colocadas. Preservativos para os sapatos postos. Máscara prontinha nas orelhas, sentado à espera de entrar em campo. Tu e a tua mãe já lá estavam há algum tempo, e não havia maneira de me chamarem. O outro bébé já estava cá fora e o pai dele já tinha entrado há imenso tempo.
Nisto chamam-me:
“O Pai faça o favor de entrar”
Entro na zona só permitida a pessoal autorizado.Percorro o corredor e a enfermeira conduz-me à sala do fundo
“Estão a começar a cesariana, pode entrar na porta ao fundo”
Assim que entro está um sujeito fardado como eu, meio atrapalhado a sair da sala.
“Desculpa lá. Já ia para a tua cesariana. Ainda mal me estou a refazer da minha. Já sou pai. Ouvi alguém chamar pelo Pai, achei que era comigo e entrei na sala. Afinal era para ti. O meu já cá está. Boa sorte. Desculpa lá esta invasão”
“Parabéns então” Respondi-lhe
E lá fui eu assistir à cesariana. A primeira, a do João Maria, só vi a cara da mãe e a do João, quando nasceu. Havia um lençol a separar-me dos eventos. Na segunda, não me deixaram ir para o topo norte, porque estava lá o anestesista. Fiquei na bancada central mesmo em cima do acontecimento. Não achei piada nenhuma assistir a tanto corte e costura. Desta vez, contigo, senti alguma curiosidade e vi tudo com muita atenção. O médico até elogiou o estado de útero da tua mãe insinuando que ainda aguenta uma quarta jornada. A mim também me pareceu em bom estado, mas confesso-te que não faço a menor ideia como seria um em pior estado.
E lá chegaste. Lindo e desejado. Enfim. Com cara de joelho como todo o recém nascido que se preze. Pronto para o mundo. Pronto para nós os quatro que te esperávamos há tantos meses. Parabéns meu amor.
Só mais uma coisa António. Evita comer o sabonete do bidé. Não é higiénico, se bem que bem treinadinho, podias fazer bolas de sabão com os puns. Os teus irmãos iam achar o máximo.
Grandes aventuras portanto, senhor António. Há um ano atrás (leia-se 26 de Novembro 2004) estava eu naquela figura ridícula com a bata e touca verde já colocadas. Preservativos para os sapatos postos. Máscara prontinha nas orelhas, sentado à espera de entrar em campo. Tu e a tua mãe já lá estavam há algum tempo, e não havia maneira de me chamarem. O outro bébé já estava cá fora e o pai dele já tinha entrado há imenso tempo.
Nisto chamam-me:
“O Pai faça o favor de entrar”
Entro na zona só permitida a pessoal autorizado.Percorro o corredor e a enfermeira conduz-me à sala do fundo
“Estão a começar a cesariana, pode entrar na porta ao fundo”
Assim que entro está um sujeito fardado como eu, meio atrapalhado a sair da sala.
“Desculpa lá. Já ia para a tua cesariana. Ainda mal me estou a refazer da minha. Já sou pai. Ouvi alguém chamar pelo Pai, achei que era comigo e entrei na sala. Afinal era para ti. O meu já cá está. Boa sorte. Desculpa lá esta invasão”
“Parabéns então” Respondi-lhe
E lá fui eu assistir à cesariana. A primeira, a do João Maria, só vi a cara da mãe e a do João, quando nasceu. Havia um lençol a separar-me dos eventos. Na segunda, não me deixaram ir para o topo norte, porque estava lá o anestesista. Fiquei na bancada central mesmo em cima do acontecimento. Não achei piada nenhuma assistir a tanto corte e costura. Desta vez, contigo, senti alguma curiosidade e vi tudo com muita atenção. O médico até elogiou o estado de útero da tua mãe insinuando que ainda aguenta uma quarta jornada. A mim também me pareceu em bom estado, mas confesso-te que não faço a menor ideia como seria um em pior estado.
E lá chegaste. Lindo e desejado. Enfim. Com cara de joelho como todo o recém nascido que se preze. Pronto para o mundo. Pronto para nós os quatro que te esperávamos há tantos meses. Parabéns meu amor.
Só mais uma coisa António. Evita comer o sabonete do bidé. Não é higiénico, se bem que bem treinadinho, podias fazer bolas de sabão com os puns. Os teus irmãos iam achar o máximo.
quinta-feira, novembro 24, 2005
quarta-feira, novembro 23, 2005
Nestialac
Tanto frenesim só porque o leite líquido das embalagens de cartão pode ter um bocadinho de tinta. Sinceramente não entendo. O António já deve ter bebido litros desse leite e o cocó nunca mudou de cor à conta do leite.
O mais novo dos Marias lambe as paredes, come terra, come o chão de madeira, come os livros e as revistas lá de casa, come as canetas dos irmãos, e em princípio parece desenvolver-se normalmente. Até já comeu a edição especial comemorativa do aniversário da Caras e a milésima Nova Gente sem que isso lhe afectasse o cérebro. Perante isto, haverá necessidade, de tanta agitação por causa do Nan I e II ?
Qual vai ser o próximo alarme ? “A Robialac retirou do mercado todas as latas de tinta Tartaruguinha – verdeazeitonadelvas depois de terem sido detectados indícios da presença de nestum mel na sua composição” ?
O mais novo dos Marias lambe as paredes, come terra, come o chão de madeira, come os livros e as revistas lá de casa, come as canetas dos irmãos, e em princípio parece desenvolver-se normalmente. Até já comeu a edição especial comemorativa do aniversário da Caras e a milésima Nova Gente sem que isso lhe afectasse o cérebro. Perante isto, haverá necessidade, de tanta agitação por causa do Nan I e II ?
Qual vai ser o próximo alarme ? “A Robialac retirou do mercado todas as latas de tinta Tartaruguinha – verdeazeitonadelvas depois de terem sido detectados indícios da presença de nestum mel na sua composição” ?
terça-feira, novembro 22, 2005
Início de Época
- PAI, PAI, PAI. Pode ...
- Calma. Ainda agora cheguei a casa. Nem recebi beijo de boa noite e já estou a ouvir pedidos.
- Chuuuuuaaaaaaaccc. Paiiii. Pode ir buscar a árvore de Natal ?
- Posso sim João. (nem imagino quem é que te encomendou esse pedido)
segunda-feira, novembro 21, 2005
Trocas
- Desculpe mas esta casa de banho é de senhoras.
- Também já me tinha passado essa ideia pela cabeça. Por causa do boneco com saias que está pespegado na porta. Mas este bebé tem um feitio tramado. Para já, resolveu fazer cocó na fralda, o que é inadmissível num rapaz de 11 meses, e depois quis porque quis vir ao fraldário trocar de fraldas, porque o cocó lhe faz impressão. Vejam lá se lhe fura a tripa. Eu também já lhe disse que não era suposto ele estar aqui, mas não o consigo convencer. Acho que o vou levar ao psiquiatra, não é normal um bebé desta idade insistir na casa de banho das senhoras, só porque a dos homens não tem muda fraldas.
- O senhor não viu que esta casa de banho é de senhoras ?
- Olhe minha senhora a casa de banho dos homens não tem este muda fraldas. Fazemos assim: Eu estou lá fora à espera e a senhora trata de lhe mudar a fralda. Boa? Está aqui o bebé, o creme, o sabonete liquido e a fralda nova. Tem que lavar o rabo com água e com o sabonete. Não pode usar toalhetes porque ele está tão assado que acaba por sangrar com os toalhetes. Até já.
- Esta casa de banho é dos homens?
- Não minha senhora. É das senhoras. Mas a dos homens não tem estas modernices para mudar a fralda aos bebés.
- Esteja à vontade. Eu é que pensei que me tinha enganado.
Foi o terceiro diálogo que aconteceu. Mesmo assim não custa nada colocar um muda fraldas na casa de banho dos homens.
sexta-feira, novembro 18, 2005
Bye Bye Lisboa
(a propósito desta semana parca em escritas e descaradamente como o bye bye Brasil)
O fim de semana a chegar
Nem sei p’ra onde me hei-de virar
O trabalho ainda vai aumentar
O projecto finalmente no ar
Não há isto que se lh’aponte
O Natal já está no horizonte
O ano prestes a terminar
Não vejo que isto tenda a acalmar
Os professores voltaram à greve
Este ano não vai dar para a neve
Eu sonho que estou a esquiar
Lamento vou ter que acordar
O almoço irreal sobre a família
Quero acalmar com chá de tília
O PIB foi revisto em baixa
Há tempos que não escrevo na Caixa
A confiança que volta a cair
Outras eleições estão pra vir
Quem vai pr’o palácio em Belém
Os putos não jogam nada bem
Por pouco falham o europeu
O preço do crude desceu
A carta do outro lado do mar
Quase a conseguir desarmar
De igual para igual já se vê
Gostei dessa forma de ser
As crianças andaram doentes
O mais novo com a história dos dentes
O Joao anda um cabeça no ar
Eu já lhe pedi pra mudar
Falhei a hora do Euromilhões
Outra vez a contar os tostões
Eu ontem fui desopilar
Beber uns copos no bar
Conversas, cigarros e o som
Rever os amigos é bom
Afinal o Simão vai jogar
O Braga no primeiro lugar
Morreu um sargento em Cabul
A chuva volta ao centro e ao sul
O fim de semana está aí
Nestes dias quase que fugi
não pude escrever como queria
a lufa lufa do dia a dia
Prometo voltar a postar
Assim que o ritmo abrandar
Agora eu quero é o abraço
Eu vou é matar o cansaço
Marquei uma mesa para dois
O descanso fica para depois.
Alguém vai ficar com os Marias
Adeus até daqui a dois dias
O fim de semana a chegar
Nem sei p’ra onde me hei-de virar
O trabalho ainda vai aumentar
O projecto finalmente no ar
Não há isto que se lh’aponte
O Natal já está no horizonte
O ano prestes a terminar
Não vejo que isto tenda a acalmar
Os professores voltaram à greve
Este ano não vai dar para a neve
Eu sonho que estou a esquiar
Lamento vou ter que acordar
O almoço irreal sobre a família
Quero acalmar com chá de tília
O PIB foi revisto em baixa
Há tempos que não escrevo na Caixa
A confiança que volta a cair
Outras eleições estão pra vir
Quem vai pr’o palácio em Belém
Os putos não jogam nada bem
Por pouco falham o europeu
O preço do crude desceu
A carta do outro lado do mar
Quase a conseguir desarmar
De igual para igual já se vê
Gostei dessa forma de ser
As crianças andaram doentes
O mais novo com a história dos dentes
O Joao anda um cabeça no ar
Eu já lhe pedi pra mudar
Falhei a hora do Euromilhões
Outra vez a contar os tostões
Eu ontem fui desopilar
Beber uns copos no bar
Conversas, cigarros e o som
Rever os amigos é bom
Afinal o Simão vai jogar
O Braga no primeiro lugar
Morreu um sargento em Cabul
A chuva volta ao centro e ao sul
O fim de semana está aí
Nestes dias quase que fugi
não pude escrever como queria
a lufa lufa do dia a dia
Prometo voltar a postar
Assim que o ritmo abrandar
Agora eu quero é o abraço
Eu vou é matar o cansaço
Marquei uma mesa para dois
O descanso fica para depois.
Alguém vai ficar com os Marias
Adeus até daqui a dois dias
terça-feira, novembro 15, 2005
Skyline
Vistos assim. Ao longe escancarados para o sol laranja. A lua descarada e cheia revela-se aos poucos atrás da silhueta. Subúrbios imensos da cidade grande. Vistos assim quase parece bonito. Quem lá vive? Quem dorme lá ? A quem dão guarita ? Que histórias encerram ? Rastilhos ...
Manual de Instruções
Não percebo a confusão e a irritação sobre o assunto. É só uma televisão que está lá em casa há imensos anos. A televisão tem um comando que liga e desliga. E que muda de canal. E que põe o som mais alto e mais baixo. E que muda o canal para o canal de Extensão1, onde está ligada a caixa da televisão digital. O que é bestial. Porque uma vez ligada a televisão e colocada no canal Extensão1 basta pegar no comando da caixa para mudar de canal e para tratar do som. Pode acontecer o comando da caixa estar a dar ordens à televisão e nesse caso é preciso carregar no botão que diz TV CABO do comando da caixa. Outras vezes, à conta dos arremessos dos Marias, as pilhas do comando da caixa desviam-se dos polos e o comando não faz nada nem à caixa nem à televisão. Nesse caso, é abrir o compartimento das pilhas do comando da caixa e acomodá-las devidamente. Nada mais simples. Depois há o DVD que ainda é mais simpático. Nem é preciso fazer nada à televisão. Ele apodera-se da emissão, a não ser que se ligue a televisão depois do DVD. E o som está espalhadinho pelos quatro cantos da sala. Chama-se surround e não morde a ninguém. Também se pode ouvir a televisão através do surround. Neste caso para ligar a televisão é no comando da televisão, para mudar de canal é no comando da caixa e para tratar do som é no comando do DVD. Simples não é? Então se é simples, para que é que te irritas com as coisas simples ? Guarda a irritação para coisas verdadeiramente complicadas, como as fraldas do António que andam com umas fugas para as costas que me deixam em ponto de rebuçado.
sexta-feira, novembro 11, 2005
Ó Faz Favor
Sr Provedor
dos calendários semanais:
Por motivos estritamente profissionais a segunda feira que vem só deverá aparecer dentro de dois dias de trabalho, não me parecendo viável a utilização de Sábado e de Domingo para o efeito. Neste enquadramento, solicito, com carácter excepcional, o adiamento do início do fim de semana por um período de 48 horas.
Com os melhores cumprimentos
dos calendários semanais:
Por motivos estritamente profissionais a segunda feira que vem só deverá aparecer dentro de dois dias de trabalho, não me parecendo viável a utilização de Sábado e de Domingo para o efeito. Neste enquadramento, solicito, com carácter excepcional, o adiamento do início do fim de semana por um período de 48 horas.
Com os melhores cumprimentos
quinta-feira, novembro 10, 2005
Oooohhhhhh
E logo hoje que ia ao encontro sobre blogues, a R., que ajuda nos banhos e na jantarada dos Marias, resolveu ficar doente. Resultado: baldo-me ao evento e vou para casa mais cedo.
Totobelém
Cavaco – 45%
Soares – 20 %
Alegre - 18 %
Jerónimo – 9 %
Louçã – 8 %
O que é que acham ? Qual é a vossa aposta ? Andem lá, digam qualquer coisa.
Soares – 20 %
Alegre - 18 %
Jerónimo – 9 %
Louçã – 8 %
O que é que acham ? Qual é a vossa aposta ? Andem lá, digam qualquer coisa.
quarta-feira, novembro 09, 2005
Geninha
Hoje, pela manhã, surpreso por ouvir Eugénia Melo e Castro. Música antiga em dueto com Ney Mato Grosso.
Ao que parece, a Eugénia prepara-se para perfazer 25 anos de carreira. Lembro-me do seu primeiro disco "Terra de Mel". O meu pai adorava-a. Eu e a Maria oferecemos-lhe o disco por alturas do Dia do Pai. Ficou babado e comovido. A minha irmã pegou nos títulos de cada uma das canções e escreveu-lhe um texto com todos eles. Eu não me lembro bem do que escrevi.
A Terra de Mel era um álbum muito bom, e avoz da Eugénia era clara. Cristalina sem pingo de rouquidão. Era uma miúda humilde e cheia de sonhos. Confesso que agora não a tenho em grande conta, mas continuo a achar que a Terra de Mel foi um grande álbum.
É desta Eugénia que me lembro, que me quero lembrar, e é esta Eugénia que deixava o meu pai com os calores.
COMEÇO DE MAR
Música: Yório Gonçalves
Letra: Eugénia Melo e Castro
No meio daquele reflexo de água
No centro de um repuxo de vento
Parada numa corrente de mar
Estou dentro do que quero estar
Há sempre uma gota de vento maré
Provoca a seca em que perco o pé
Entre um corpo que circula
Entre um ângulo que tem fim
A parede e o espaço
Entre um grito e um cansaço
está um som que reconheço
Está tão lento
Já não esqueço
Está tão velho
Recomeço
No meio deste reflexo de tempo
Entre um corpo que trabalha
Parada numa corrente de ar
Entre a parede e o cansaço
Estou no fim de um repuxo lento
Estou entre um passo que tem espaço
Dentro do que quero estar
Entre um grito e um começo de mar
está um som que reconheço
Há sempre uma gota de vento maré
Provoca a cheia em que ganho o pé
Ao que parece, a Eugénia prepara-se para perfazer 25 anos de carreira. Lembro-me do seu primeiro disco "Terra de Mel". O meu pai adorava-a. Eu e a Maria oferecemos-lhe o disco por alturas do Dia do Pai. Ficou babado e comovido. A minha irmã pegou nos títulos de cada uma das canções e escreveu-lhe um texto com todos eles. Eu não me lembro bem do que escrevi.
A Terra de Mel era um álbum muito bom, e avoz da Eugénia era clara. Cristalina sem pingo de rouquidão. Era uma miúda humilde e cheia de sonhos. Confesso que agora não a tenho em grande conta, mas continuo a achar que a Terra de Mel foi um grande álbum.
É desta Eugénia que me lembro, que me quero lembrar, e é esta Eugénia que deixava o meu pai com os calores.
COMEÇO DE MAR
Música: Yório Gonçalves
Letra: Eugénia Melo e Castro
No meio daquele reflexo de água
No centro de um repuxo de vento
Parada numa corrente de mar
Estou dentro do que quero estar
Há sempre uma gota de vento maré
Provoca a seca em que perco o pé
Entre um corpo que circula
Entre um ângulo que tem fim
A parede e o espaço
Entre um grito e um cansaço
está um som que reconheço
Está tão lento
Já não esqueço
Está tão velho
Recomeço
No meio deste reflexo de tempo
Entre um corpo que trabalha
Parada numa corrente de ar
Entre a parede e o cansaço
Estou no fim de um repuxo lento
Estou entre um passo que tem espaço
Dentro do que quero estar
Entre um grito e um começo de mar
está um som que reconheço
Há sempre uma gota de vento maré
Provoca a cheia em que ganho o pé
segunda-feira, novembro 07, 2005
Paris
Preocupa-me a leveza de espírito com que se olha para os trágicos acontecimentos de Paris. Como se de um fenómeno isolado se tratasse, ao qual fossemos completamente alheios. Mais uma vez, um insistente e autista olhar para a árvore sem se dar conta da floresta.
Lembro-me de uma tira da Mafalda, em que esta passeava pela rua com a Susaninha e cruzavam-se com um pobre que pedia esmola. A Mafalda dizia que, cada vez que via um pobre, sentia um nó garganta. A Susaninha concordava. Depois a Mafalda defendia que se devia tratar melhor dos pobres. Garantir-lhes alimentação, saúde, habitação e educação. A Susaninha responde-lhe:
Os governos preocupam-se muito com o défice e com a contenção de despesas, muito pouco com a criação de receitas, e praticamente nada com o aumento do desemprego, o crescimento da miséria, a exclusão social e o desrespeito pela natureza humana.
A nós, a cada um de nós, chateiam-nos os pedintes que nos interrompem o café na Mexicana, a quem damos uma moeda para que aquela interrupção acabe depressa mais do que pela intenção de ajudar. A nós chateiam-nos os shoppings cheios de grupos de pretos, capazes sabe-se lá do quê, e os ciganos que nos semáforos nos querem encher os vidros de um detergente que tresanda a pobreza. Mais a merda dos pensos rápidos ou dos lenços de papel que compramos 10 vezes mais caros que no super, só para nos livrarmos rapidamente do problema que é, para nós, ter aquele clandestino do Leste por perto. Queremos lá saber da sua miséria, se não têm emprego, se são ilegais, se não têm dinheiro, se não têm futuro nem no futuro o irão alguma vez ter. Têm tão bom corpo para trabalhar, nem percebo o que é que ali andam a fazer. Há aí tanta obra a precisar de força bruta, tanta escada por lavar. Queremos é que não nos chateiem, e sobretudo, que os filhos deles se afastem dos nossos. Se eles não se confinarem aos guetos, criamos guetos só para nós. Bairros onde se possa respirar à vontade. Melhor ainda, condomínios fechados.
Somos Susanas insuportáveis que exclamam de horror, indignados perante a atrocidade que cometem na cidade luz. No coração da velha e sábia Europa. Perguntamo-nos o que querem, o que ganham com toda aquela violência. Pergunto-me o que é que têm a perder? O que têm a perder aqueles que, mais do que arredados do sonho, lhes é negada a possibilidade de algum dia poderem sonhar ?
Criamos continuamente barris de pólvora à nossa volta, deixamos que os rastilhos se espalhem à nossa volta e soltamos exclamações sonoras quando um destes barris explode. A Europa Social não existe, estamos numa Europa obcecada pelas casas decimais dos rácios económicos, pelo défice, pela normalização dos bidés e pela proibição da colher de pau nas cozinhas dos restaurantes. Vivemos uma paz social podre e, pior que isso, uma paz interior em putrefacção.
A propósito do que se passa em França, mas que era possível passar-se em quase toda a dita civilização dita ocidental, li hoje uma frase que me levou a esta escrita.
“Quando a ordem é injusta, a desordem é, por si só, um factor de justiça.”
Lembro-me de uma tira da Mafalda, em que esta passeava pela rua com a Susaninha e cruzavam-se com um pobre que pedia esmola. A Mafalda dizia que, cada vez que via um pobre, sentia um nó garganta. A Susaninha concordava. Depois a Mafalda defendia que se devia tratar melhor dos pobres. Garantir-lhes alimentação, saúde, habitação e educação. A Susaninha responde-lhe:
- P’ra quê tudo isso? Basta escondê-los.
Os governos preocupam-se muito com o défice e com a contenção de despesas, muito pouco com a criação de receitas, e praticamente nada com o aumento do desemprego, o crescimento da miséria, a exclusão social e o desrespeito pela natureza humana.
A nós, a cada um de nós, chateiam-nos os pedintes que nos interrompem o café na Mexicana, a quem damos uma moeda para que aquela interrupção acabe depressa mais do que pela intenção de ajudar. A nós chateiam-nos os shoppings cheios de grupos de pretos, capazes sabe-se lá do quê, e os ciganos que nos semáforos nos querem encher os vidros de um detergente que tresanda a pobreza. Mais a merda dos pensos rápidos ou dos lenços de papel que compramos 10 vezes mais caros que no super, só para nos livrarmos rapidamente do problema que é, para nós, ter aquele clandestino do Leste por perto. Queremos lá saber da sua miséria, se não têm emprego, se são ilegais, se não têm dinheiro, se não têm futuro nem no futuro o irão alguma vez ter. Têm tão bom corpo para trabalhar, nem percebo o que é que ali andam a fazer. Há aí tanta obra a precisar de força bruta, tanta escada por lavar. Queremos é que não nos chateiem, e sobretudo, que os filhos deles se afastem dos nossos. Se eles não se confinarem aos guetos, criamos guetos só para nós. Bairros onde se possa respirar à vontade. Melhor ainda, condomínios fechados.
Somos Susanas insuportáveis que exclamam de horror, indignados perante a atrocidade que cometem na cidade luz. No coração da velha e sábia Europa. Perguntamo-nos o que querem, o que ganham com toda aquela violência. Pergunto-me o que é que têm a perder? O que têm a perder aqueles que, mais do que arredados do sonho, lhes é negada a possibilidade de algum dia poderem sonhar ?
Criamos continuamente barris de pólvora à nossa volta, deixamos que os rastilhos se espalhem à nossa volta e soltamos exclamações sonoras quando um destes barris explode. A Europa Social não existe, estamos numa Europa obcecada pelas casas decimais dos rácios económicos, pelo défice, pela normalização dos bidés e pela proibição da colher de pau nas cozinhas dos restaurantes. Vivemos uma paz social podre e, pior que isso, uma paz interior em putrefacção.
A propósito do que se passa em França, mas que era possível passar-se em quase toda a dita civilização dita ocidental, li hoje uma frase que me levou a esta escrita.
“Quando a ordem é injusta, a desordem é, por si só, um factor de justiça.”
Estremunhado
Da minha janela logo pela manhã... o sol escancarado. O prédio em frente demasiado perto para o meu gosto.
Ó vizinha deixe-me fumar o meu cigarro em paz, não sei se sabe mas na primeira meia hora, gosto pouco de conversas, e se o tema é o dos seus filhos adolescentes e das suas desventuras, menos interessado eu estou. Eu quero lá saber dos seus filhos. Os meus vão ser sempre bebés e nunca me hão-de dar maçadas nem preocupações. Está com vontade de largar tudo e ir viajar sozinha ? Então vá e poupe-me à conversa. Ainda deixo de fumar à sua conta.
Ó vizinha deixe-me fumar o meu cigarro em paz, não sei se sabe mas na primeira meia hora, gosto pouco de conversas, e se o tema é o dos seus filhos adolescentes e das suas desventuras, menos interessado eu estou. Eu quero lá saber dos seus filhos. Os meus vão ser sempre bebés e nunca me hão-de dar maçadas nem preocupações. Está com vontade de largar tudo e ir viajar sozinha ? Então vá e poupe-me à conversa. Ainda deixo de fumar à sua conta.
sexta-feira, novembro 04, 2005
Partyland
A MTV fez a festa aqui, pá. Enche-se o pavilhão da gente, das estrelas da música, da televisão e do futebol. Cidadãos do mundo. Festejam a música. Enche-se o pavilhão de cúmulos e pasma-se o país de tanga com a tanga dos pedidos excêntricos. Das velas perfumadas, dos quilos de maquilhagem, das unhas e pestanas postiças, do champanhe aos milhares, dos quartos de hotel às centenas. A produção de encantar a megalomanizar desencantos. Tanto que se lhes é permitido. São os estrangeiros a festejar. E a nossa música, pá ? E o nosso som, vizinho? Nem um acorde para não destoar. Dêem-nos lá um rebuçado, um presente, um gift, que nós prometemos portar-nos bem. Um prémio para o melhor artista português ? Tá bem, fica descansado que não levamos o adufe. Postiços mesmo.
quinta-feira, novembro 03, 2005
quarta-feira, novembro 02, 2005
São Bernardo
Ontem foi dia de Todos os Santos. A tradição familiar sediada em casa dos Pais. Antes era na da avó Céu, mas depois do avô morrer e da avó evitar que as festas fossem lá na Estrela, a mãe pegou no dia de Todos os Santos.
A casa da avó Céu era o lugar predilecto para as reuniões de primos. Um quarto andar na última fila do anfiteatro de Lisboa. O Castelo, o Terreiro do Paço, a Baixa, o Rossio, Santos e Cais do Sodré. Tudo se via daquela marquise. Então se subíssemos ao ponto mais alto do telhado. O prédio tinha um túnel que lhe passava por baixo, e dava acesso às aventuras, tinha a nespereira boa de trepar e que se ficava pelo segundo andar, tinha os quintais cheios de muros mesmo ao nosso alcance. Tinha dois terraços, e todos os esconderijos estavam lá. E a caixa de ferramentas do avô ? Sempre arrumada à nossa chegada, e descaradamente caótica quando saíamos. A caixa de ferramentas do avô tinha tudo o que precisávamos para os carrinhos de rolamentos. Depois era pegar neles e descer do miradouro do Jardim da Estrela. Granda pintarola. E as idas à Baixa de eléctrico ? Sempre tão cheio, que quase não conseguia chegar ao Camões. Armazéns do Grandela para comprar brinquedos. Pistolas e fulminantes para os rapazes e bonecas para a Maria. Transformava-mos a casa no velho Oeste e as fitas de fulminantes marchavam todas. Depois apareceram as argolas que davam um estoiro enorme. E os avós aturavam-nos tudo isto. Santa pachorra.
Isto que estava para ser um post sobre o dia de Todos os Santos, transformou-se neste novelo de lembranças. Coisas da memória. Parece esparguete cozido sem gordura. Quando se puxa por uma ponta, vem o tacho todo atrás.
A casa da avó Céu era o lugar predilecto para as reuniões de primos. Um quarto andar na última fila do anfiteatro de Lisboa. O Castelo, o Terreiro do Paço, a Baixa, o Rossio, Santos e Cais do Sodré. Tudo se via daquela marquise. Então se subíssemos ao ponto mais alto do telhado. O prédio tinha um túnel que lhe passava por baixo, e dava acesso às aventuras, tinha a nespereira boa de trepar e que se ficava pelo segundo andar, tinha os quintais cheios de muros mesmo ao nosso alcance. Tinha dois terraços, e todos os esconderijos estavam lá. E a caixa de ferramentas do avô ? Sempre arrumada à nossa chegada, e descaradamente caótica quando saíamos. A caixa de ferramentas do avô tinha tudo o que precisávamos para os carrinhos de rolamentos. Depois era pegar neles e descer do miradouro do Jardim da Estrela. Granda pintarola. E as idas à Baixa de eléctrico ? Sempre tão cheio, que quase não conseguia chegar ao Camões. Armazéns do Grandela para comprar brinquedos. Pistolas e fulminantes para os rapazes e bonecas para a Maria. Transformava-mos a casa no velho Oeste e as fitas de fulminantes marchavam todas. Depois apareceram as argolas que davam um estoiro enorme. E os avós aturavam-nos tudo isto. Santa pachorra.
Isto que estava para ser um post sobre o dia de Todos os Santos, transformou-se neste novelo de lembranças. Coisas da memória. Parece esparguete cozido sem gordura. Quando se puxa por uma ponta, vem o tacho todo atrás.
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