quarta-feira, junho 08, 2005

Estou sim

Bem sei que a senhora não se cala e que, regra geral, sem qualquer excepção conhecida, as conversas telefónicas duram para lá de uma hora.
Isto requer que o telefonema seja feito em local confortável, de preferência deitado, com mantimentos suficientes, kit de sobrevivência, algália e arrastadeira ao lado.
Eu nem estava focado no telefonema, vi que A. se deitou no sofá, comando numa mão, telefone na outra, e quando diz "estou M. ?" percebi que era coisa para durar horas.
Estava a trabalhar na sala ao lado e, de vez em quando, ouvia os "hum hum", os "pois claro" e os "sins", que permitem ao interlocutor perceber que está a ser ouvido, enquanto despeja as carradas de informação. Falar com aquela senhora é como fazer download de um ficheiro de vários giga, mas requer que, de vez em quando, se vá dizendo que a informação está a chegar.
Houve qualquer coisa na televisão que me fez sair da secretária, dirigir-me à sala do lado e ir ver o que se passava no pequeno écran. Fiquei uns cinco minutos e quando me desconcetrei percebi que não só a A. tinha deixado de fazer "Hum huns" como estava a respirar com algunm ruído a tender para o ressono. Do lado de lá da linha ouvia-se "Estou ! Aaaaaa. Estouuuu. Oh Aaaaa."
"Desculpa acordar-te A., mas não estás ao telefone?"
"Hum ... Ahhhhh Pois estou. Aiiiii desculpa M. Adormeci"
Depois deste incidente, que levou algum tempo a contextualizar, seguiu-se uma hora de download.

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