segunda-feira, novembro 15, 2004
Golegã
Descobri a minha alergia aos cavalos num fim de semana de turismo rural no Alentejo. Aquele passeio de charrete de uma hora, ia resultando em internamento hospitalar. Comecei por espirrar e acabei com os olhos tão inchados que quase não via, e com a garganta num estado tal que mal respirava.
Não contente com o sucedido, e levado pelo entusiasmo desmedido, aceitei que, no dia do meu casamento, o percurso entre a igreja e a quinta onde continuaram os festejos, fosse percorrido a cavalo. Cheguei à quinta já a lacrimejar e de lenço na mão. Ainda hoje há quem acredite que eu me comovi mais do que esperado e que os óculos escuros, o constante fungar e o lenço paneleiroso na mão eram sinais exteriores do minha lamechice galopante (só de escrever galopante já estou para aqui aos espirros).
Perante tais sinais de alergia equestre, existem todos os motivos para eu evitar uma ida à Golegã, mesmo que essa ida não coincida com a realização da grandiosa feira nacional do cavalo. Acontece que além dos animais, a feira tem numerosos artigos de grande qualidade, raríssimos e que são uma autêntica pechincha. Sapatos, casacos, chapéus, barbours, sapatinhos cosidos à mão para as criancinhas, são alguns dos argumentos que tornam indispensável uma visita à dita feira.
Durante uns anos ainda consegui contra argumentar, mas há guerras que não se compram nem com a própria vida, e houve um famigerado ano em que lá me puz a caminho até à Golegã. Como que por milagre, chovia como nos filmes, e estive umas boas horas rodeado por cavalos sem que o meu organismo desse sinal de intolerância. Aquilo atrai muita gente e ainda não percebi porquê, tem muito cavalo, muito cavaleiro e muita amazona, todos trajados a rigor, muito atrelado, muita tenda, muita comida, muita pintura e escultura alusiva ao tema "O cavalo", mas a bem da verdade, nada daquilo me parece muito atraente, para tanto desfile de vaidades que por lá passa. Ir à feira da Golegã é uma coisa chique.
Graças a São Pedro parou de chover e o cheiro e os pelos de cavalo começaram a pairar, o que me conferiu rapidamente as alterações mínimas que justificaram o abandono do local. Temo que, se a chuva não tivesse parado e perante a febre consumista que nos assaltava, a esta hora teria lá em casa um parzinho daqueles cavalos muito pirosos para segurar os livros nas estantes, mesmo a jeito para despachar nalguma venda de Natal.
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