segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Aquele abraço
Esqueci o cigarro em cima do cinzeiro, acompanhava-me na contemplação. A música de Jobim, a luz cerrada que contrasta com o elevador de Santa Justa, a silhueta de Lisboa, de formas generosas. Tão sensual a minha cidade.
Nem tinha reparado nele, entregue ao jornal, com a idade e a cadência dos sábios. O rapaz aproximou-se dele quase a pedir licença, sem motivo e sem grandes forças, entregue à vida. Assim que o viu, levantou-se como uma mola, e abraçou-o com tanta força. O rapaz escondeu o rosto no ombro que o consolou. Nada disseram, parecia que não precisavam de dizer nada, tudo se falou no rosto abrigado e no abraço. Quando dois homens se abraçam assim, Deus anda com certeza por perto. Fui-me embora por não me dizer repeito.
Lembrei-me de um abraço antigo que vi há muitos muitos anos atrás por uma porta entreaberta. Era um pai a contar ao filho meu amigo, que a mãe, bem a mãe que estava doente, ... Nunca me vou esquecer desse abraço.

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