segunda-feira, julho 17, 2006

Devotos

Quem sai do meu prédio, se virar à direita e andar uns cinquenta metros, depara-se com as IURD (ex cinema Império) frequentada maioritariamente por brasileiros e africanos, se virar à esquerda e andar uns cinquenta metros, depara-se com uma igreja ortodoxa frequentada por maioritariamente por emigrantes de leste. Esta última, tem mais ar de igreja que a primeira, e fica em frente às paragens de autocarro.
Foi na paragem de autocarro, que encontramos a vizinha e que nos detivemos uns minutos à conversa. O António ao nosso colo, o João Maria e o Manel com alguma soltura de rédea. Resolveram entrar na igreja e ficaram-se pelos primeiros metros do templo ainda ao alcance da vista, de quem conversa junto à paragem. A conversa distrai-me dos Marias mais velhos. Retomo-lhes a atenção porque já os ouço a discutir quase a roçar a agressão física. Discutem alegremente os rituais religiosos. “Primeiro tens que te benzer” Grita o João “Fazes assim. E lá ensina o Manel a benzer-se”. O Manel está ajoelhado já de mãos unidas, à entrada da Igreja e respondia-lhe “Não é preciso nada disso. É assim que se reza.” O João insistia que ele é que sabia porque ele é que ia à catequese. Interrompi a discussão e levei-os dali para fora antes que as posições se extremassem. Ainda tentei dizer-lhes que a forma não era muito importante e que mais importante para o Jesus era eles não discutirem tanto e serem amigos. O Jesus é um personagem estranho para eles, porque além de ser o rapaz que teve aquele azar da cruz, também é o homem da muleta que arruma carros lá na rua e que de manhã está sóbrio, mas à tarde nem por isso. Depois, o João insiste que a catequista Gina, lhe diz que a forma é importante e que se deve benzer. Eu nem sabia que era permitido às catequistas chamarem-se Gina, e não confio muito naquela mulher de óculos. As catequistas deviam chamar-se Marta, Maria, Maria de Fátima, na pior das hipóteses Madalena. Gina não. Gina é o nome da histórica revista, totalmente impressa a cores, que durante décadas, antes dos canais da TV Cabo, da Internet, e dos festivais eróticos, manteve acesa a chama da pornografia em Portugal.
Para o ano ou a mulher muda de nome, ou a paróquia muda de catequista ou o João muda de paróquia. Amen.

Sem comentários: