Eu já sabia que era alérgico a cavalos. Ainda assim arrisquei. A princesa, que nesse dia foi rainha, queria mesmo tudo o que uma rainha tem direito e os dois quilómetros de charrete faziam parte dos requisitos. Ninguém contou com a ventania que me atirou o cheiro do cavalo direito às narinas e, findos os tais dois quilómetros, os meus olhos estavam inchados e lacrimejantes e o meu nariz parecia um torneira mal vedada. As velhas tias, ainda hoje, relembram o quanto eu me comovi depois daquele passeio de charrete. Não era para menos. O dia do meu casamento com a agora rainha. Meia hora para me recompor enquanto recebia os convidados. Verdade seja dita que, lamechas como eu sou, já me tinha comovido quando ela entrou agarrada ao braço do baixote bochechudo que também estava a modos que para o nervoso com tanta emoção.
Um de Junho de 1996. Agora, três príncipes depois, chegámos aos 10 anos de casado. A rainha levou-nos a Paris para comemorar. Quando eu digo que nos levou, quero mesmo dizer que nos levou. Literalmente, porque tratou de tudo. Tratou de marcar a viagem, de combinar a estadia, de redistribuir os príncipes na nossa ausência, de perder o BI na véspera de viajarmos e de conseguir um BI novo em menos de 8 horas. 10 anos depois, lá estamos em Paris. É impressionante a capacidade de organização das mulheres e este tema foi, aqui e ali, motivo de conversa. Ultrapassam-se, excedem-se, e isso pode ser considerado genericamente bom.
Nestes dez anos, em vizinhanças tão próximas, tanta mudança. Afinal aquela história de “na alegria e na tristeza” não é invenção. É mesmo a sério. O homem das vestes estranhas que celebrou o nosso casamento, bem que nos avisou que esta coisa da felicidade não eram favas contadas. O Chefe dele que está em todo o lado e sempre por perto, tem um sentido de humor difícil de entender. E tem aquela mania irritante de ora fechar portas, ora abrir janelas, e a malta que se aguente a evitar as correntes de ar. Isto de ver chegar e partir pessoas de quem gostamos tanto dá cabo dos nervos a qualquer um.
A viagem a Paris há-de dar ainda que mostrar e escrever aqui na Caixa. Ficam, por ora, alguns agradecimentos pertinentes. Aos avós Tó, Guga, Tété e Manel a quem fizemos uma distribuição equitativa da criançada e que os devolveram, tal qual a selecção, com excelentes níveis anímicos e de confiança. Aos tios M. e E, nossos anfitriões, que sábia e simpaticamente nos receberam e acolheram na cidade luz, e que nos fizeram sentir como rei e rainha. Enfim, estragaram-nos com mimos. Ainda há o Gastão, meu cúmplice das cigarradas nocturnas, sempre pronto a ir passear à rua.
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