quarta-feira, junho 07, 2006

Aula Magna 1983



Procuro na gaveta dos CD’s companhia para as próximas horas. Livre Trânsito 1983. Longínquo registo de um concerto do Trovante. Eu fui. E depois da ida, as memórias até ao próximo. Desde aí o Combóio como preferida “Cada apitadela tem uma história para contar ...” e uma outra canção a que me habituara o Sérgio. O Namoro. Teve direito a lado B de single e usei-a para pedir namoro à minha primeira namorada. Ela ia numa viagem de estudo de camioneta. Gravei uma cassete e fiz um cartão “num canto sim noutro canto não”. Com a cumplicidade de um amigo comum, a cassete foi parar ao som da camioneta e o cartão às mãos dela com anúncio do remetente. E no canto do sim dobrou.
O Viriato da Cruz é o culpado pela letra, o Fausto pela música, o Sérgio por tantas canções e o Trovante por esta e por outras boas lembranças os tais “sorrisos que queremos rever devagar”. Fica aqui a letra do Viriato da Cruz

"Namoro"

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, cheirando a rosas
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
Pedindo e rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram a rumba e dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim

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