segunda-feira, abril 17, 2006

Bofetão

Desta arrependo-me.

Eu sou daqueles tarados que paga para ver a  Sport TV. Digo isto, porque aquilo não vale um décimo do que se paga e quando peço aos senhores da TV Cabo para deixar de pagar, preciso de assinar um papel, e mesmo assim eles insistem em cobrar e em descodificar o sinal. Deixa chegar ao fim do campeonato para lhes pedir de volta o dinheiro desde Junho de 2005, data do meu último pedido de cancelamento da Sport TV. A verdade é que quando pago, espero ser compensado por exibições de luxo e resultados a condizer. O pior é que os resultados aceitáveis são escassos, e as exibições de luxo são uma ténue miragem.

Foi numa dessas tardes em que eu assistia a uma gloriosa exibição do Benfica no estádio da Luz, contra uma qualquer equipa que lutava para não descer de divisão. Faltavam cinco minutos para o fim e a goleada já se cifrava num generoso 0 a 0. Nisto, entra o Manel na sala, com uma espada do Peter Pan e desata à espadalhada à televisão. Ora, aquelas espadas são a brincar, mas ainda eram capazes de lesionar algum jogador. Vai daí digo eu:
“Manel não espadalhes a televisão”
E o Manel não parava de espadalhar a televisão
E o Benfica não marcava
“Manel já te disse para saíres daí e não espadalhares a televisão”
E o estupor do miúdo ali à frente do Mantorras à espadalhada à televisão.
E o Benfica não marcava a porcaria do golo.
“Manel Maria vai para o teu quarto brincar com a porcaria da espada antes que eu me chateie”
E o Paços de Ferreira a ganhar a bola.
E o Manel a espadalhar a televisão.
“Manel, sai já daí.”
E a espada, à frente do contra ataque da capital do móvel.
E num repente, já em tempo de desconto, golo do Paços.
Nem pensei duas vezes, uma grande palmada no rabo do Manel, que acabou por ser, mais a sua espada, projectado para longe dali.
O miúdo aos berros por causa da palmada.
Eu aos berros “Eu já te tinha avisado Manel Maria”
Felizmente chegou a mãe para serenar os ânimos:
“O miúdo não tem culpa do Benfica estar outra vez a perder”
..... ai minha nossa senhora do Móvel ... lá me acalmei ...

Esta foi uma palmada de que me arrependo. Porque saiu com força demais, porque havia alternativa mais saudável para ele aprender a não espadalhar o Mantorras, e porque não me garantiu os três pontos que, na altura, era o que me vinha a calhar.

Outras houve, que resultaram, e que não sendo com força, pareceram mais eficazes que conversas, castigos ou acções pedagógicas. Sei que há muita gente que opta por nunca dar um açoite ou uma palmada, percebo que o façam, mas não é assim que faço com os Marias. De vez em quando dou. Às vezes acho que são inevitáveis, outras vezes acho que escolhi a maneira mais fácil, às vezes porque já cheguei ao limite da paciência, outras porque acho mesmo que devo dar.
Não me configuro, portanto, num padrão de negligência educacional, à luz da douta opinião de um magistrado, a propósito do julgamento a uma funcionária de uma instituição que aplicava castigos físicos a crianças deficientes. Não conheço o suficiente sobre o caso. Mas na sequência deste caso, salta para a praça pública a discussão sobre se é legitimo, ou não, o uso das palmadas e dos açoites nas nossas crianças. Acho que não é grave se for a excepção à regra. Confesso que há alguns de que não me orgulho, mas também não me parece motivo de penitência.    

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