quinta-feira, setembro 15, 2005

Alvorada

Pareceu-me ouvir o mais novo a refilar, na cama de grades mesmo ali ao lado. Levantei, a custo, uma das pálpebras e tentei focar o despertador. Vi um 6 e nem olhei para os outros dois algarismos.
“Cala-te António. Ainda é cedo” Com 9 meses ainda tem graves lacunas na comunicação oral. Talvez tenha sido por isso que não me obedeceu. Continuou a fazer barulhos e a palrar. Se ele vê alguém a debruçar-se sobre a cama dele, tem um ataque de alegria, e como os cães que dão ao rabo, o António dá aos braços e às pernas, sem ter conta a madrugada. O melhor era tentar a segunda estratégia. Cotovelada na Ana e anunciar-lhe a necessidade de preparar o biberão. “Acorda Ana. O teu filho não se cala parece que quer leite.” Cotovelada. “Ai pai. Tenho frio. Também quero leite”. Afinal não é a Ana que ali está, é o do meio. Puxo os lençóis para cima. O Manel está com frio e não o quero a choramingar àquela hora. Os lençóis vêm para cima a custo. Está alguém aos pés da cama. È a Ana, a minha salvadora que vai tratar dos leites. Não. É o João. Mas afinal ... Cobarde deixou-me ali ao abandono rodeado de selvagens esfomeados. Está a dormir sozinha na cama do João. Abandonou os filhos na calada da noite. Que golpe baixo. Hoje à noite vão todos tomar leitinho para não terem fome de madrugada. E dentro de cada leitinho .... TRÊS COLHERES BEM CHEIAS DE ATARAX.

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