terça-feira, abril 12, 2005

Despedidas

Aí há uns dias atrás, antes de umas compras atribuladas, jantámos num restaurante franchisado indiano e ficámos relativamente perto (quase ao colo) de dois casais. Um desses casais tinha dois filhos e outro se os tinha, deixou-os sabiamente ao cuidado de alguém. O João e o Manel também ficaram com a avó e connosco só estava o António, que não sendo propriamente bonito, acaba por chamar a atenção por ser bébé.
Dez minutos depois de nos termos sentado já sabíamos o nome de toda a família e já tínhamos anunciado que o António era o mais novo de três. Quando os casais se levantaram para sair, desejaram-nos felicidades, que nós obviamente retribuímos, e partiram.
Ora este é um estranho fenómeno. De repente as pessoas que conhecemos acidentalmente, deixam de se despedir com uma Boa Tarde, ou Boa Noite ou Bom Fim de Semana e passam a desejar felicidades. Isto começou a notar-se quando nos preparavamos para casar e agravou-se com o aparecimento dos filhos. Existem duas teorias sobre o assunto:
Teoria I
As pessoas desconfiam dos projectos de vida a dois e ainda desconfiam mais se envolverem descendência. Quando se despedem de pessoas nestas condições dizem "Felicidades", mas o que querem dizer é "Felicidades. Vão precisar delas, casados e com crianças. Se pudesse ficava aqui a desejar felicidades o resto do dia, mas infelizmente não posso e mesmo que pudesse não ia adiantar grande coisa. O vosso destino já está traçado. Imaginem. Casados e com filhos." Nestes caso os votos de felicidades são dados do fundo do coração, com conhecimento de causa, mas escondendo a razão pela qual precisamos tanto dela.
Teoria II
As pessoas preferem desejar felicidades a quem aparentemente já se encontra numa das rotas certas para a felicide e dizem-no por redundância. Neste caso o que querem dizer é "Mesmo que eu fique para aqui caladinha, já nada vos safa da felicidade, portanto olha. Felicidades"´. Os outros que não dão sinais externos de rumo à felicidade, que não aparentam ter encontrado as almas gémeas ou que não ostentam crianças ao colo, continuam a levar com o boa tarde, boa noite e bom fim de semana.
Isto se tiverem sorte, porque se derem sinais externos de infelicidade, um sem abrigo por exemplo, arrisca-se a ser ignorado ou pior ainda maltratado. Segundo esta teoria deseja-se felicidade a quem menos precisa e deseja-se ver pelas costas quem mais precisa de votos de felicidade.

Não sei qual das teorias é a correcta, mas estou muito tentado a acreditar na primeira. A segunda é tão absurda.

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