sábado, maio 26, 2012
De improviso
Nem se pode dizer que sejamos amigos. Ele foi mais um daqueles miúdos que me habituei a ver lá em casa, a ter explicações de Francês e Português dadas pela minha mãe. Tantos miúdos mais ou menos da minha idade passaram por ali. Duns gostava mais, outros nem por isso. Depois desses tempos, encontrava-o de tempos a tempos no bairro e íamos sabendo da vida um do outro em conversas de poucos minutos. Contava-me das músicas dele, e de quando em vez falava-me do irmão: "O meu irmão Bernardo anda doido com o Jazz e perdeu a cabeça por um piano" Desta frase, dita com um brilho nos olhos e um riso de equidistante entre a alegria a admiração e o entusiasmo, lembro-me. Lembro-me bem.
Já em adultos, por coincidências de amigos comuns, fomos jantar juntos e falámos um bom bocado. Boa onda o raio do miúdo. Finalmente decoro-lhe o nome: Francisco Sassetti. Agora encontro-o todos os anos na festa do colégio dos filhos e lá usamos uns minutos para nos por-mos a par das novidades.
Ontem foi o dia da festa do colégio. E lá estava ele. Nem sabia bem o que lhe dizer. Dei-lhe um abraço e uma palmada amigável na cara. Perguntei-lhe como estava ele e a mãe. Fico sempre fora de pé nestas coisas. Falámos dos filhos e do trabalho de cada um, e aquela merda daquele nó na garganta a insistir. Nunca sei o que fazer. Falta-me o improviso nestes casos. Como o improviso de um músico de Jazz. Como o Bernardo.
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3 comentários:
O nó na garganta
e o silêncio como a melhor palavra
MT
Pois é André, às vezes a Vida é uma merda.
Fica a boa recordação de tudo o que ele fez.
LFR
E como ás vezes o nó na garganta e o silêncio são ensurdecedores...
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