sexta-feira, novembro 14, 2008

Os Pochetes

A regra está bem definida: "Não se mexe na mala de uma senhora"
A pergunta que fica no ar é: Porquê?
A resposta é simples: Porque se corre o risco de não voltar.
As chamadas malas de senhora, pelas quais tanto sonham e anseiam e se detêm nas montras das lojas mais ou menos especializadas, não devem ser manuseadas por homens porque elas pertencem a um complexo mundo que só agora se começa a revelar.
Nada tem a ver o facto do mulherio guardar, nas ditas malas, objectos de índole pessoal, capazes de criar desconforto ou embaraço ao serem descobertos por um homem. Nada disso. Trata-se de algo realmente assustador. As malas das senhoras são portais para um espaço comum, partilhado por todas e habitado pelos pochetes. Os pochetes são uns seres capazes de ler as mentes das mulheres e encontrar um objecto em décimas de segundo e o enviar para a mão acabada de enfiar na mala. Todas as aberturas das malas vão dar a uma gigantesca sala, imagino que maior que o estádio da luz, onde caiem e são guardados todos os objectos que elas colocam na mala.
No processo inverso, quando elas querem algo da mala, sempre que a mão de uma mulher entra na respectiva abertura, acciona um alarme num pochete que lhe lê a mente, descobre o objecto que ela quer, vai buscá-lo e atira-o para a mão feminina.
Se os pochetes estão todos ocupados na altura em que uma mulher procura um objecto, o sinal que recebemos é uma frase do estilo:
"Adoro esta mala, mas não é nada funcional. Levo horas, cada vez que tento encontrar alguma coisa."
Se um pochete se engana na entrega:
"Tem graça, já nem me lembrava que tinha guardado isto e volta a enviá-lo para o espaço partilhado."
Caso não consigam disfarçar a surpresa, é possível ouvir:
"Mas o que é que isto faz na minha mala???"
Quando o sistema está em ruptura, por excesso de pedidos, inicia-se uma reacção em cadeia e os objectos são distribuídos por todas as malas. Estes momentos são perceptíveis, porque vemos uma mulher a virar a mala do avesso e a despejar uma quantidade inqualificável de tralha (a maior parte não lhe pertence) em cima da mesa ou da cama, ou de qualquer outro local.
Os pochetes, que habitam o espaço partilhado e sabem muito mais sobre as mulheres que nós, sofrem de intolerância à testosterona e se detectam uma mão masculina enfiada no portal tentam sugá-lo. Casos há de desaparecimentos atribuídos a outras causas que não foram mais que tentativas masculinas de procurar algo no portal do mulherio. Suspeita-se Marques Mendes, Luis Pereira de Sousa, Fernando Memede e Rui Guesdes tenham sido vítimas mais ou menos recentes dos pochetes.
Posto isto, meus caros, nunca se deixem levar por qualquer tentativa de irem buscar coisas à mala de uma mulher. A menos, claro, que queiram passar o resto da vida numa imensa piscina repleta de lenços, carteiras, pensos, tickets de desconto das gasolineiras e hipermercados, talões, batons, espelhos, pinças, tampões, escovas, telemóveis, pós, pincéis, telemóveis, frascos, óculos e eventualmente pares de meias suplentes.

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