quarta-feira, março 22, 2006

Noves fora nada

Com uma cadência preocupante, os media lançam taxas de penetração de determinada realidade na população portuguesa. De dois em dois dias ficamos a saber que a diabetes afecta uma fatia da população, que outra percentagem tem acesso à Internet em banda larga, que outra percentagem prefere a TVI a qualquer outra das ofertas e que os restantes ou são homossexuais ou sofrem de disfunção eréctil ou que tendo uma mama maior que a outra, tendem a sofrer de cancro da mama.
Sou contra.
Definitivamente sou contra a publicação inconsciente destas extrapolações. Eu não quero pertencer a fatias e se pertencer não quero saber a que bolos elas pertencem.
Eu que tenho ADSL com 2 mega (aldrabadíssimos), que vejo a TVI e que tenho mamas do mesmo tamanho não quero saber mais nada.
Qual é a graça de saber que um quinto dos trabalhadores por conta de outrem têm contratos precários, que 62 % dos portugueses não receiam a gripe das aves, que a maioria dos portugueses nunca tomou genéricos, e é favorável à despenalização do aborto, que 85 % dos portugueses folheia jornais, que 57 % é favorável à energia nuclear, que 6 em cada 100 mil lusos se suicida, que metade dos portugueses não conseguem decorar os códigos do Multibanco e que metade receia erros médicos, que 14 % tomam drunfos para dormir, que um milhão são homossexuais e que um milhão e setecentos mil já enviou MMS’s, 30 % enviam formulários do IRS pela NET, outros 30 estão pessimistas e que outros 30 compram DVD’s. E quantos são assinantes da TV Cabo? E dos que são, quantos se suicidam depois de falar com o apoio ao cliente? E dos que não se suicidam, quantos decidem tomar uns drunfos para dormir? E esses drunfos são genéricos? E quantos portugueses com contrato precário, asseguram o suporte da TV cabo? E destes, quantos conseguem decorar um código de Multibanco?
Havia tanto para saber e o melhor é não começarmos a pensar nestes números que nos entram pela cabeça dentro.
Em Portugal só há um número que interessa. É o número seis milhões. É o número de benfiquistas e provavelmente o número de marquises que existe no país. Com os restantes números, por favor, não me chateiem.
Obrigado.

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