Não gosto de ficar de costas para a agitação de um restaurante. Não sofro de nenhum trauma mafioso, nem dou particular atenção à possibilidade de ser assassinado pelas costas enquanto como uma pizza. Para falar com franqueza, a ser assassinado em actividades gastronómicas, que seja com um conceito culinário duvidoso – como Carpaccio de Polvo. Enfim, decididamente não gosto de estar de costas para o movimento de um restaurante.
Pela ignorância, pelo ar entusiasmado com que a pessoa que está comigo olha para a acção que eu perco, e pelos torcicolos.
Cabendo-me a mim o papel de interagir com o empregado, fico sempre naquela postura a três quartos, sem estar realmente virado para coisa nenhuma. Uma perna debaixo da mesa, a outra para o lado, o braço em cima da cadeira do lado e a cara à procura do empregado. Parece que estou sempre à espera de uma oportunidade para fugir do restaurante, ou para ir vomitar à casa de banho.
O que gosto mesmo, é de ficar ao lado da(s) pessoa(s) com quem partilho a refeição, assistir à mesma realidade, e ir comentando tudo o que se vê. De preferência fazer Corte e Costura, inventar histórias sobre os outros casais, descobrir assassinos em série e testemunhas de Jeová entre a restante população. Acho que foi isso que se passou na última ceia. Todos se recusaram a ficar de costas, tal não era o espectáculo que perderiam. Daí aquela agitação toda. O foco da última ceia está atrás da câmara, quero dizer, do pincel de Da Vinci. Aí é que está a animação, o frenesim, o forrobodó. Isso mesmo, nas costas do pintor. Aqueles rapazes mais não fazem que comentar e dizer piadas sobre o que se passa. O barbudo do meio deve ter muita graça, já que todos os rapazes parecem estar interessados na piadinha que ele está a mandar.O que é que realmente se passou à frente daquela mesa ? Que restaurante é aquele ? Que outras pessoas participaram na última ceia ? Acho que vou escrever um livro sobre este assunto e criar um novo código de Da Vinci.
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