quarta-feira, outubro 20, 2004

Celebridade

A Carlota simpaticamente e embebida de amizade profunda a uma das assistentes, foi assistir às gravações do “123”. Concurso já apresentado por Carlos Cruz e agora apresentado por Teresa Guilherme, essa sim com fama de ter alguma preferência por homens muito mais novos que ela.
Ora as gravações do 123 são algo tão chato que é difícil explicar. O programa é enorme e não é em directo, o que dá direito a repetições e ensaios e sei lá mais o quê. Assistir a uma gravação do 123 é pior que assistir à transmissão na íntegra de um jogo de xadrez. É muito chato, são muitas horas e o estômago normalmente encontra-se vazio. Com a agravante de aquilo se perpetuar à medida que se aproxima do fim. Se os primeiros cartões demoram minutos a ser rejeitados, os últimos demoram séculos. Posto isto cabe-me aqui elogiar a paciência da Carlota, e atenção que a paciência não é propriamente a primeira qualidade que vem à cabeça quando me lembro da Carlota.
Posto isto, e merecidamente, durante a emissão do programa, a Carlota lá apareceu durante alguns momentos na televisão. Não se trata de uma estreia, mas sim de uma confirmação, já que a nossa estrela televisiva já tinha sido difundida com algum ênfase por alturas do início do “levanta-te e ri”. Acontece que esta reaparição da Carlota em tão ilustre meio me recordou a minha brilhante carreira televisiva. Além das normais aparições em programas como o 123 de Carlos Cruz e n’ “O passeio dos Alegres” do grande Júlio Isidro, eu tive o privilégio de aparecer em dois “70x7” uma delas de costas em contraluz e outra de joelhos a fazer o presépio com o João Maria, que na altura tinha dois anos e chamou cão ao burro (já nessa idade o rapaz era um génio).
Para além destes momentos televisivos também fui estrela em dois anúncios e numa noite eleitoral.
Disney - O meu primeiro papel Principal.
Um anúncio para a Câmara Municipal de Lisboa, uma lição de civismo para que se usassem as papeleiras da cidade e não se atirasse lixo para o chão. Três estrelas e eu sou uma delas. Infelizmente estava dentro do fato do Pato Donald e ninguém nunca me reconheceu na rua. Além disso, tive que vestir collants cor de laranja, andar com uma espécie de barbatanas e tinha um rabo do tamanho do pavilhão atlântico que rodava 180 graus cada vez que eu avançava com uma das barbatanas para a frente com a intenção de andar. Desse “dar ao rabo” toda a equipa de filmagem se lembra e ainda hoje me falam disso, cada vez que encontro alguém do meio.
Ciclista – O meu Segundo papel Principal.
Um anúncio para a Rexona, na altura Rexina por causa dos abusos nas rimas. Eu era o ciclista.. Bem, na realidade o ciclista era o Joaquim Agostinho e eu, por questões de cachet, só ia fazer planos em que não fosse essencial ser ele a aparecer. No fundo ia ser o duplo do Joaquim Agostinho. Na realidade eu nem cheguei a aparecer. Era necessário filmarem uma bancada a acompanhar o movimento de um ciclista, com toda a gente a virar a cara ao mesmo tempo quando o ciclista passasse. Eu era o ciclista, mas só filmaram a bancada onde estava a assistência Talvez algum assistente tivesse óculos e reflectido nas lentes se consiga ver que sou eu.. Foi uma pena.
Legislativas – O meu momento de glória
Aquando da derrota eleitoral de umas legislativas, fui alegremente com a Ana apoiar a família próxima do candidato derrotado. Eis que chega a altura das declarações do candidato a primeiro ministro derrotado e a família, para prestar apoio, lá foi até à sala onde o evento acontecia. Havia na sala um cantinho discreto para o efeito e lá decidimos que era o melhor local para assistir ao evento. Na minha boa educação deixo toda a família passar à frente e sou o último a percorrer aquele difícil trilho entre pessoas, cabos e repórteres para alcançar o desejado local de discrição. A meio do trajecto, entra o candidato, grande frenesim, as pessoas à minha volta sentam-se todas, o trilho desaparece, todos os familiares já estão no cantinho escolhido. Olho para a frente, e vejo que o candidato vai começar a falar. Olho para trás e vejo as câmaras a começarem a acender a luz de indicação de estarem no ar. Não consigo avançar, não consigo recuar. Os pés estão presos a milhares de cabos de televisão. Não me consigo mexer. Estou à frente de todas as televisões. Estou em directo. Chegaram finalmente os meus segundos de glória:
“Saia da frente se faz favor”
“Sente-se que o homem vai falar”
“Sai daí palhaço”
“Baixa-te ó careca”
“Querem lá ver que temos outro emplastro ????”.
Ainda hoje me comovo cada vez que me lembro daquela noite.

Esta é, resumidamente, a minha longa e invejável carreira televisiva, não contando com as câmaras de segurança espalhadas um pouco por todo o lado e as das montras da Singer.

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