terça-feira, outubro 09, 2012

Lost - parte I


O primeiro sinal de alarme veio ao fim da tarde. Procurado em todos os locais possíveis, e mesmo nos menos prováveis, o diagnóstico estava feito: “André, não sei do iPad. Ou o perdi ou roubaram-me.”
A tecnologia tem destas coisas maravilhosas que nos enchem de esperanças e de respostas profissionais, e ainda distante do acontecimento sugeri: “Pega no iPod e usa o localizador de iCenas para ver onde é que ele está”. E a partir desse momento, foi um filme de acção.
“Está na rua. Foi mesmo roubado. Está a andar em direcção à Praça de Londres. É aqui perto. Vou para a rua atrás do ladrão”. Ora, uma vez na rua, o iPod perde o acesso à net. Não fosse o casal de amigos e os filhos e o cão e os iPhones terem aparecido, nunca se conseguiria voltar a localizar o menino. O iPhone tem 3G e inicia-se a perseguição. O larápio continua a andar pela rua com o iPad, mas não larga as vizinhanças. O melhor é telefonar para a polícia para o apanhar em flagrante.
Saio do trabalho à pressa, e pelo caminho, as notícias que me chegam estão longe de serem animadoras. A polícia vai demorar a chegar e o sinal perdeu-se. Por certo, o vil gatuno apercebeu-se das movimentações e desligou o gadget. Mesmo à porta de uma escola. É lá que me vou encontrar com os protagonistas da caçada. Além da minha mulher, os três selvagens, mais o casal de amigos e respectivos filhos, os iPhones essenciais para detectar qualquer movimento da tecnologia roubada, dois polícias e o cão. Um cão é essencial nestas aventuras. A Enid Blyton que o diga.
Os polícias falam com o director da escola e explicam o sucedido. O nosso amigo explica-me o algoritmo para concluir que aquele ponto do mapa só pode ser a escola. Muito solícito, o director da escola deixa os polícias entrarem. Aguardamos com ansiedade o resultado da conversa. Nada. O iPad provavelmente a escassos metros, e nada. Nem com conversa conseguimos recuperar o nosso menino. Vejamos o que nos oferece a tecnologia.
Ah bem. Podemos activar o bloqueio remoto com uma mensagem. Será uma boa estratégia?
“Não actives. Se ele vê que o bloqueio está activo, tem uma fúria, pega no iPad, dá-lhe um pontapé e enfia-o no caixote do lixo.”
“O iPad tem fotos e dados confidenciais. Estão lá fotos de família. Não quero fotos dos Marias na net”
 “Então bloqueia-se.”
“Olha. Dá para pôr uma mensagem.”
Mas que mensagem? “Ó palhaço devolve o iPad antes que a polícia te apanhe” ou algo mais soft “Sr Ladrão. É favor devolver o iPad no seguinte local…”. Optámos pela diplomacia “Este iPad encontra-se perdido. Se o encontrar, devolva-o no seguinte local blá blá blá”
A polícia entretanto solicita-nos que passemos na esquadra a participar o desaparecimento e assim que recuperarmos o sinal do iPad, que lhes comuniquemos a localização. Os miúdos numa excitação com a sucessão de acontecimentos. “Parece mesmo uma aventura. Até temos o cão”.
Agradecemos aos amigos e aos polícias e voltamos para casa para ir buscar a factura da compra. Assim que chegamos, ligamos o localizador. Nem de propósito. O ladrão volta a ligar o iPad. Nunca saiu da escola. Que descaramento. Com a polícia e toda a equipa de buscas ali à porta, deixou-se estar quietinho sem ligar o equipamento, e assim que viramos costas … Estupor. Telefonamos à polícia para relatar a actividade suspeita. Ninguém atende.
“Pega na factura, no iPod e vamos para a esquadra.”
“Queres que ligue os quatro piscas e vá a buzinar assinalando a marcha de emergência?”
“Talvez não valha a pena”
Chegados à esquadra, lá estão os agentes que nos acompanharam. Relatamos as novidades. Dizem-nos que não atenderam porque estavam com outras chamadas e por isso não puderam atender. Fazem uma pergunta preocupante "Mas afinal, explique-me lá. O que é isso de um iPad?". Lá tentei explicar mas acho que a ideia que ficou foi que se tratava de telemóvel gigante, que não faz chamadas mas acede à internet. O Steve Jobs havia de ficar feliz comigo.
Dão-nos um número da patrulha à paisana, para o caso de, durante a noite, detectarmos novos movimentos do artigo furtado.
Entre chamadas de denúncias de violência doméstica e relatos de um tóxico dependente, lá vão tomando conta da ocorrência.
“Então o furto ocorreu a que horas’”
“Foi enquanto estive a trabalhar. Entre as 8:30 e as 18:00”.
“Muito bem, vou pedir ao Gabinete de Segurança do seu emprego, para facultar o visionamento das imagens de segurança recolhidas no seu andar entre as 8:30 e as 18:00”
Pois claro, são só quase 10 horas de gravações. Vai ser fácil.
Um polícia pergunta-me como é que funciona o localizador do iPad. Ligo a net do telemóvel, ligo o iPod ao telemóvel e mostro-lhe a última localização do iPad. Fica maravilhado com a tecnologia.
Eis que chega a hora de dar o número de série do menino, mostro-lhe a factura.
“Este número é muito longo para ser o número de série.” Explica-nos o agente.
Afinal onde está o número de série? A factura tem o número da loja. Telefonema para a loja e a senhora, atenciosa, informa-nos que o número de série está escrito na caixa. A caixa, essa mesma que ficou em casa.
Voltamos a casa e a hora de jantar mais que ultrapassada, o que vale são os dotes culinários do mais velho que asseguram a refeição atempada dos jovens aventureiros. Os mais crescidos regressam à esquadra com a caixa do iPad numa mão e um pacote de batatas fritas na outra. Entramos na esquadra e depois de oferecer batatas fritas aos agentes, acabamos a participação da ocorrência. A patrulha de rua chega à esquadra e informa-nos que estiveram a revirar o lixo em frente à escola e que nada encontraram, a não ser fraldas e outro lixo inerente à actividade pré-escolar.
Regressamos a casa sem iPad e sem esperança. Com a cadência proporcional à angústia averiguo o estado do tablet. Nada. Durante toda a noite o iPad esteve morto … nunca foi ligado. Até que às 7:45 da manhã… (continua)

2 comentários:

G_ticopei disse...

Ai conta lá o resto... Estou super curiosa... A uma amiga minha também roubaram o iPad... Essa coisa da localização é alguma aplicação que vocês tinham ou "vem de série"? Desculpa a ignorância mas não tenho nenhum iPad...:)

petazeta disse...

Então? O resto da história? Não vale deixar neste suspense durante tanto tempo.. :p