segunda-feira, fevereiro 20, 2012

A gente não semos a Grécia

Sempre assim foi, desde pequeno. Cada tentativa que fazia de me comparar com quem quer que fosse para justificar comportamento ou desempenho, morria à nascença com uma frase tipo "As comparações não servem de argumento" ou "Acontece que o x não é nosso filho" se a comparação fosse do tipo "Mas o x pode fazer isto". Aprendi e pratico regularmente. Evito sempre na vida pessoal ou profissional, fazer comparações. As variáveis são tantas que as comparações com uma variável, só dão argumentos a quem as ouve e nunca a quem as faz. Se algum dos meus selvas se tenta fazê-las para justificar uma acção, uma nota na escola ou para enquadrar um pedido sobre o qual tenho dúvidas, já sabe que o mais certo é a nega.
Nos últimos tempos, a comparação pela negativa tem aparecido entre os nossos governantes e a vítima é sempre a mesma: a Grécia. Cavaco, Passos, Portas e seus discípulos têm insistido na lógica do “Nós não somos a Grécia”. A propósito disso, um grupo de personalidades lançou um manifesto contra a tendência cada vez mais recorrente em Portugal de fugir às críticas com a frase «nós não somos a Grécia».
Eu também sou contra esta argumentação. Primeiro por uma questão linguística, depois por uma questão desportiva e por fim por uma questão cultural.
Do ponto de vista linguístico, e aproximando-me da linguagem popular, é mais que sabido que a frase “Nós não somos a Grécia” não tem qualquer efeito sobre a opinião pública. A não ser a exclamação: “Que vergonha!!! Este primeiro ministro não sabe falar. Parece que não foi à escola. Coitado, vive em Massamá, já se vê. Então, está-se mesmo a ver que o que ele quer dizer é ‘ A gente não semos a Grécia’ . E é este ingnorante nosso Primeiro Ministro”
Desportivamente “Nós não somos a Grécia”, corresponde a mexer numa ferida ainda não cicatrizada. A do Euro2004. Pois não somos, não. Se fossemos, tínhamos ganho o caneco. Não tínhamos passado por aquela vergonha na Catedral. Estádio cheio, ruas inundadas de gentes que aguardavam explodir o golo do Rui, do Luís ou do Cristiano. Ao invés, implodiram de desilusão para casa. Não sermos a Grécia, relembra-nos o fracasso e isso é desnecessário nos tempos que correm.
Finalmente, “Nós não somos a Grécia” é culturalmente uma verdade La Paliciana. Os Gregos têm muito mais orgulho do Sócrates deles, que nós do nosso. E com toda a razão.

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