segunda-feira, abril 25, 2011

Dia da Liberdade

"Conta-me como foi" levou-me ao 25 de Abril de 1974. Já aqui o disse como foi o meu 25 de Abril. Da alegria de não ir ao colégio, a um certo nervoso da tia Zé ter ido para a rua ver a revolução.
Estar colado ao rádio como os meus pais, não era para mim. Eu queria acção. Fui direitinho para o quintal lá de casa, e com a ajuda da estrutura de um baloiço, montei ali mesmo, uma bateria anti aérea capaz de eliminar qualquer avião cheio de Pides que ousasse entrar no espaço aéreo de Campo de Ourique.

sábado, abril 23, 2011

Também me mata Barcelona

Há algo que não se explica nesta cidade. Porto de sonhos erguidos em arquitectura, em formas pintadas na tela, em entrelaçadas de tapeçaria, em bronze de tantas estátuas. Arte, magia, traço de arquitectos. A inacabável obra prima a roçar o impossível céu. E uma diagonal como o jogador a rasgar a defesa, e um arco como o golo do génio e um estádio imenso em festa como uma rambla. Esta cidade das marcas ímpares dos atletas, do facho olímpico, do mercado em exageros de cores e formas. A cidade das paisagens todas, do fora de jogo impossível, de um número 10 em cada rua, no topo de cada edifício.
Ainda me lembro da provas de saltos para a água e de me como te impressionava a cidade como pano de fundo. Fui lá ver e era mesmo assim. A cidade cenário das múltiplas piruetas com duplo mortal empranchado. Entrar na água como uma lança num movimento traçado por Gaudi.

sexta-feira, abril 15, 2011

Regressos

Há muitos anos atrás, uma aventura nas férias. Cinco amigos, vinte dias em autocaravana de Lisboa a Itália. Arles, Avignon, Marselha, Cannes, Mónaco, Porto Fino - o lugar mais improvável para uma autocaravana, Pizza, Florença, Siena, Roma, Veneza, Lago do Como. Um turbilhão de emoções e peripécias, 20 dias inesquecíveis com o Marce, a Sofia, a Fátima e a Cristina.
A primeira paragem de todas: Barcelona. Uma noite inteira a conduzir, em turnos bem organizados, sempre alguém a fazer companhia ao condutor, com turnos de duas horas. A cidade recebe-nos imensa e genial. Amor à primeira vista. Estacionamos a autocaravana e antes das descobertas, um duche para disfarçar o sono:
- Andrééééé ! Pára o duche a água está a escorrer pela autocaravana.
- Porra estamos numa subida e o ralo está para mais acima.
- Agarra-te que virar a caravana para baixo.
Foi a única vez que tomei banho durante uma inversão de marcha (e isto nem soa muito bem mas foi literalmente assim).
Passados todos estes anos, regresso hoje à cidade de tantos encantos. Barcelona!!!

segunda-feira, abril 11, 2011

Sugestões

10 locais onde Fernando Nobre pode estar e bem
1. à porta de Portugal a receber os senhores do FMI
2. na TVI a fazer o programa "As tardes do Nando"
3. no Sporting a dirigir o departamento do Chinês
4. na RTP a apresentar o preço certo em Euros
5. na presidência da AMI
6. na reunião de condomínio
7. no programa de férias da Inatel
8. no facebook
9. aos comandos da água e da luz do estádio de Benfica
10. na kidzania

sábado, abril 09, 2011

Havia de voar na bicicleta


Subimos a medo, cada um na sua bicicleta com asas, e já lá em cima encontrámos um velho hábil nas engenhocas , curioso da dimensão do tempo. E eis que nos transporta ao passado recente: a 27 de Abril de 74 o Expresso respira liberdade, e a edição sai das rotativas ali mesmo à nossa frente. Feitiço do tempo e a pequenez das nossas questões perdidas na imensidão do universo a chuva e o limoeiro que dava papel. As laranjas podem ser de ananás mas o sumol deve ser de laranja.
Hoje levaste-me a um cinema paraíso, onde há uma livraria e na livraria um velho com máquinas de sonhar. Reparei que se fuma na imensa livraria. Havíamos de gostar de o levar ali. E ele havia de gostar de por lá estar. Dois anos caramba.

quarta-feira, abril 06, 2011

Redes Sociais

... são mais rápidas nestas noites agitadas. Na contrapartida, dificultam este estranho hábito de reler o que já se leu ou se escreveu.
Do Facebook de hoje à noite, a propósito da ajuda financeira pedida por Portugal:
"Vai vir charters de ajudas" do Rui Gasparinho
"PS apaga as luzes da assembleia e liga o sistema de rega"
"Se fosse o Sócrates, punha o Futre a negociar as medidas de austeridade !!!"
"Acho mal estarmos como a Grécia, mas sem o caneco do Euro2004"
Do Twitter
"Pergunta da noite: o primeiro-ministro fica bem ou não, afinal?" do Dita Dura
"Cada vez mais acredito que o Sócrates deve acreditar naquela treta do calendário dos Maias que ia até 2012..." do Nuno Cardoso

terça-feira, abril 05, 2011

Ninguém me passa a bola ...

Meu querido Sirenes, bem sei que não era suposto ouvir a entrevista do demissionário Sócrates, mas verdade é que ouvi e por um infortúnio lembrei-me de ti quando jogas futebol. O pai também é um nabo a jogar futebol, com a agravante que não tem seis anos, pelo que não se espera vir a melhorar muito neste campo. E como nabo que é, também faz asneira atrás de asneira dentro de campo e por isso escolheu uma carreira longe dos relvados. Quando joga, faz o melhor que sabe e diverte-se com a própria nabice. Ora essa tua postura de acumular a nabice com o amuo, logo seguida de um "Ninguém me passa a bola" balbuciado entre soluços e cara fechada, lamento informar-te, mas é igual à do Sócrates. Ele também é assim um tanto quanto nabo, e faz asneiras atrás de asneiras. Acresce que, ainda assim, resolveu fazer carreira na área em que é nabo (a bem da verdade há uma história sobre uma possível carreira de engenharia, que também não parece ser muito feliz), e por fim, equidistante entre a irritação e a postura Calimero, vem dizer "Ninguém me passa a bola !!!", "Os outros são maus. Não dialogam comigo!!!", "Eu faço o meu melhor."
Eu amo-te do fundo do meu coração Sirenes, e sei que o Loiro e o Bochechas te torram a paciência, mas não gostava nada de ter um mini Sócrates em casa, pelo que te peço para abandonares essa postura (ou levas um par de estalos no meio do relvado que é coisa que por vezes apetece fazer ao outro). Joga com alegria se faz favor e vais ver que aos poucos vais ficar um craque e que a bola, como que por magia, vai parar aos teus pés.
(Nota Mental que surgiu a escrever este post: "Sócrates prefere a posição demissionário")

domingo, abril 03, 2011

São os trapos ...

É o cabelo. É aquela gadelha imoral, que lhe retira mais que uma década ao que consta no bilhete de identidade. E as horas de ginásio caramba. A mise-en-scène, parecendo que não, também ajuda. Isso mesmo, os adereços de adolescente, compõem o ramalhete. É pá mas o cabelo, aquela farta cabeleira, ninguém me convence que não é o cabelo. E o tipo não stressa com nada !!! Vive tudo como se nada fosse. Ele vive numa eterna adolescência, e isso conta. E a quantidade de comprimidos que ele toma. Só vitaminas são mais que as letras do abecedário, e os cremes e os revitalizantes e os energéticos. É tudo isso. Mas o cabelo, caramba. Não fosse o filho da puta daquele cabelo.
Dissertávamos sobre o elixir da eterna juventude de um Sansão grisalho, e por pouco não tropeçámos nas banalidades do que o que conta é a idade de espírito, e que o bilhete de identidade nada determina. Resvalou a conversa para zonas menos óbvias e mais interessantes. Afinal quando nos apercebemos que estamos velhos ? Haverá uma idade a partir da qual é óbvio ?
Mas se hoje em dia, homens e mulheres mais que feitos, sentimos o mesmo de há vinte anos atrás, recém saídos de adolescências animadas, será que daqui a vinte anos a sensação vai ser a mesma? A julgar pelo eterno adolescente grisalho gadelhudo, não há-de ser grande a diferença.
Não é possível. Alguma vez daremos por ela. Alguma vez havemos de dizer: estou velho.
A velhice não parece ser fácil de detectar. Não se chega lá por auto-exame. Li uma vez que o que mais custa no envelhecimento é perder um gesto todos os dias. Como se em cada dia, nos despedíssemos de um gesto, que não mais conseguiremos fazer. Como atar os cordões do sapato, ou subir degraus de dois em dois, ou saltar um obstáculo. Mas há-de haver algo mais. Talvez o gesto do sonho e do futuro. Poderão ser esses os limites? Se calhar é isso mesmo. Estar velho é despedir-nos de um gesto maior. Como o de nos preocuparmos com o futuro. Estar velhos é esquecer-mo-nos de sonhar.