Afinal gosto de praia. Está bem que a areia nas virilhas é chata, e o sal na pele também, e a sombra é escassa. Mas tem caipirinhas ao fim da tarde e tem fim da tarde que é provavelmente a melhor altura para lá estar. Mas tinha em mim tratar-se de um local com gente maioritariamente bem disposta, e sem lojas. Bem, na realidade, tem o vendedor das bolas de Berlim que anda com um sino para se fazer anunciar. Uma espécie de badalo. O badalo é, para mim, um som de aldeia. Da altura em que os pastores levavam os rebanhos para a serra e passavam à porta da casa de férias. O vendedor das bolas de Berlim leva cestos com bolas. Sem creme, com creme e com chocolate. Com chocolate ??? Que raio de invenção. Não me convenceu.
Além do homem das bolas (salvo seja, Deus me perdoe), há o vendedor de óculos de sol, e o das túnicas que não tem um ar nada simpático, e ainda o dos relógios e malas de marca, e o dos biquinis brasileiros que até tem um terminal multibanco, e o dos colares e pulseiras e também há chineses que fazem massagens. A praia está carregada de vendedores e isso acontece porque está apinhada de compradores. Até vendedores de pulseiras do equilíbrio aparecem. E logo na praia, em que uma pessoa está quase sempre deitado ou a desequilibrar-se de propósito para cair numa onda ou numa toalha. Há vendedores para quase todos os gostos e a euforia das compras instalou-se.
A praia está a transformar-se numa imensa superfície comercial em que os clientes estão parados e as lojas andam a passear de cliente em cliente, o que é cómodo. Aquela história de andar num centro comercial de loja em loja é muito cansativa e esta versão parece-me muito adequada à preguiça.
Aguardo com expectativa a chegada de outras lojas às praias porque há coisas essenciais que não podem faltar num centro comercial.
Um papelaria/livraria, por exemplo, faz falta. Há tanta gente a querer ler jornais, revistas e livros na praia que não se compreende a inexistência de um desgraçado que os venda praia fora.
Faltam ainda os electrodomésticos, os bancos, as seguradoras, as lojas de comunicações, as de desporto, de animais e manicures e pedicures em fartura. E um supermercado, para fazer compras à saída... ar condicionado se fosse possível também ajudava.