domingo, dezembro 11, 2005

Presidenciais

No dia de hoje: "Ex-combatente insulta e agride Mário Soares."
O que me espanta é que este tipo de episódios são isolados. Sejamos francos. Quantas horas por ano perdemos nós a elogiar a classe política ? Uma no máximo e mesmo assim essa hora é dedicada a um ou dois políticos por quem, nutrimos alguma admiração. Dos restantes passamos a vida a dizer mal. A relembrar a sua mediocridade e incompetência no passado, a profetizar a imensa tragédia resultado de um eventual regresso ao activo, e a acusá-los de, no presente, nada fazerem, de serem todos iguais, de só pensarem no benefício próprio, de só se lembrarem do povo durante as campanhas eleitorais, de serem agentes do poder colorido, senhores das alavancas da corrupção, da lógica do compadrio. Isto tudo somadinho deve dar, no mínimo, umas 99 horas por ano a falar mal da dita classe.
Posto isto, num cenário optimista, 99% por cento da energia dos Portugueses dedicada à política é para insultar e apenas 1% é utilizada para o elogio, a gratidão e a homenagem. Perante tamanho desequilíbrio, estranho que as campanhas eleitorais não se pautem pelo tabefe e pelo insulto desmesurado. Mais me espanta que consigam encher recintos com milhares de entusiastas daqueles que passamos a vida a insultar.
Se compararmos com o fenómeno do futebol, a situação é ainda mais caricata. Os adeptos amam os seus clubes (ninguém sente por um partido político, o que um adepto sente pelo seu clube), são incapazes de trocar de clube (já trocar de partido não é assim tão invulgar, eu próprio já votei em pelo menos 5 partidos diferentes), pagam para ver o clube jogar (se os comícios fossem pagos pela assistência, eh eh eh), e se a coisa corre aquém de um bom resultado e de uma boa exibição insultam jogadores, técnicos, árbritos e dirigentes. Casos já houve em que adeptos agrediram jogadores, treinadores e dirigentes do próprio clube após uma prestação desastrosa da respectiva equipa. Se esta lógica vingasse na política, não havia sessão de parlamento que não acabasse com pelo menos 190 deputados nas urgências de São José. A classe política sente-se pouco valorizada pela opinião pública, mas se o povo lhes desse o valor que reclamam, não sobravam muitos para contar a história. A bem da verdade talvez sobrassem os que verdadeiramente fazem qualquer coisa por Portugal. É neste contexto, que apesar dos poderes limitados do Presidente da República, venho elogiar o seu desempenho. Deixa obra feita. Conseguiu reunir o Trovante o que é um feito do qual mais ninguém se pode gabar. Se o presidente tivesse mais poderes, aposto que era capaz de reunir os Sheiks, ou mesmo as Doce. Ah é verdade. Além de reunir o Trovante para um concerto, Jorge Sampaio conseguiu acabar com o governo do Santana Lopes, que é mais ou menos a mesma coisa que acabar com a novela Ninguém Com Tu da TVI. Sabemos que o fim está próximo, mas só o Eduardo Moniz é que sabe a data certa.

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