sexta-feira, dezembro 17, 2004

Natal

- Larga o espelho velho demente. Não vês um palmo à frente do nariz, e estás aí feito parvo há duas horas em frente do espelho. Não percebes o quanto és ridículo?
- Os meus óculos ? Quem é que me roubou os óculos.
- Até a memória já perdeste. Puseste os óculos no copo, ao lado da dentadura. Estás gordo, mal te consegues mexer, não te lembras de nada e continuas a vestir-te dessa forma ridícula. O vermelho está demodé e não te favorece. Essa barba é um covil de parasitas. Até o Sadam quando foi capturado estava com melhor aspecto que tu. Já não tens cabeça para isto, não percebo como ainda te dão a tarefa do Natal. Desde Julho que me perguntas se este é que é o mês de entregar as prendas à criançada.
- Cala-te cabra.
- Sou uma rena, estupor. Alguma vez viste um trenó a ser puxado por cabras?
- És mesmo mesquinha. Podes ficar descansada que este ano, nem trenó nem renas. Vou de mota. Sabes rena querida? As motas quase não falam, e nunca, mas nunca insultam o seu dono. Ao contrário de certos animais chifrudos que são aparentados de toda a comunidade gay - os chamados veadinhos. Por acaso o Bamby, esse maricas assanhado não será teu priminho, não?
- Não te admito que insultes o Bamby. Ele é muito macho. Vive com o coelho mas é muito macho.
- Pois pois. E diz-me lá, também acreditas no Pai Natal? Olha. Passa-me aí o capacete que tenho umas prendas para entregar ?
- Quais são as palavras mágicas ?
- Se faz favor.
- Vês como ainda sabes ser educado. Vais mesmo de mota? Olha que as crianças vão estranhar apareceres lá de mota, podem achar que és um Pai Natal falso.
- Podem achar o que quiserem, se não quiserem as prendas fico eu com elas. De trenó não vou. É que o trenó tem tido muitos problemas no motor. Já te disse que prefiro a mota.
- Toma lá a merda do capacete. Ingrato, espero que te espetes na primeira curva. Ordinário. Nem penses que fico aqui à tua espera. Vou ter com o Bamby e com o Tambor. Ao menos tratam-me com alguma dignidade.
- Vai filha. Vai lá ter com as meninas, aproveita e leva as tuas coisas. Agora tenho que ir. Se no regresso te encontrar por aqui envio-te numa madeirinha para ornamentares a parede de algum clube de caça. Assim a ver-se só o pescocinho, essa carinha de parva e os cornitos a apontar para o céu. Feliz Natal sim?
- Porco.
- Cabra.
- Sou uma Rena merda.
- Vai-te lixar.

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