segunda-feira, julho 21, 2014
Passo a passo
A resposta "cá vamos andando" dada à pergunta "Tudo bem ?" tem aquele tom de "Cá nos vamos arrastando". Como se não houvesse outro remédio senão manter-mo-nos vivos, como se fosse fado, como sina, karma. Ora, a verdade é que "cá vou andando", tem sido uma novidade no último mês. Se Maio foi o mês da Carta de Patrão Local, que há-de ser post assim que espetar com uma embarcação no pilar norte da Ponte 25 de Abril, Junho foi o mês do pedómetro.
O princípio é simples, contar passos, medir distâncias percorridas, em rede social com quem tem pedómetro semelhante, e depois uma coisa puxa pela outra e antes que se dê por isso eis-me feito parvo alérgico a elevadores, viaturas e hidratos de carbono.
Montado este circo, é com naturalidade que as horas que antecedem o trabalho ou de almoço ou após o jantar, sejam horas de "ir andando" o que, convenhamos, até é bom. Pela cidade, pelo rio, pelos passeios em família, ou porque à noite o desgraçado do cão também é convocado e já tem bolhas nas patas de tantos quilómetros.
Os homens mentem e mentem de forma persistente em três frases.
Uma delas não a vou dizer aqui, a segunda é "Isto nunca me tinha acontecido antes" e a terceira é "Isto não é o que parece". Hoje usei a terceira frase, mas macacos me mordam se era mentir. Aquilo não era mesmo o que parecia. Eu só entrei em casa com uma roupa diferente daquela com que saí. Bem sei que saí com um polo azul escuro, tamanho L e de malha normal, e cheguei a casa com um polo azul-lagoa-d'óbidos tamanho S e malha fina que me moldava de uma forma apanascada esta mistura desequilibrada de massa muscular com camada adiposa. Existe uma explicação para a troca de roupa e é muito credível.
Fui andar à hora de almoço, fazer passos, incrementar a distância diária, o número de passos, a quantidade de andares subidos e as calorias gastas. Acontece que hoje estava quentinho naquelas zonas e após meia hora de caminhada e chegado ao meu local de trabalho, a coisa parecia grave. Cheiro nauseabundo. Ora eu já sabia que devia levar uma roupa e acessórios de banho para estas ocasiões mas nunca antes se tinha revelado mandatório pelo que a coisa ficava pela intenção mesmo. Só que hoje o inferno desceu às axilas e vai que tive que ir até ao Shoping buscar um polo de substituição. Para azar dos azares tudo está em saldos e a Springfield só tinha tamanhos e cores impossíveis - verde azeitonad'elvas xxs que não me ficava nada bem, a Massimo Dutti não tinha nada de jeito, a Sports Zone só tinha malhas finas vermelho rabo de boi e eis-me no Continente a ver polos a € 4.90 num azul de gosto duvidoso. O L chegava-me aos joelhos, o M não havia, pelo que o melhor é levar um S, que é obviamente o tamanho adequado para quem tem um metro e setenta e sete. Vou aos balneários, higiene tratada e roupa trocada, eis que estou numa camisa de forças em tons azul-lagoa-d'óbidos. E pronto, chego a casa e eis que a frase quase parece insuficiente "Isto não é o que parece."
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