[texto quase todo escrito a 22 de Outubro - dia de anos do Loiro dos Caracóis]
És o
primeiro dos príncipes a fazer anos. Onze. Meu pequeno príncipe, onze como onze
são os jogadores de uma equipa de futebol em que sonhas ser grande. Guarda
redes de emoções. Defendes para canto cada pergunta certeira às redes do que te
vai na alma. Desvias com um olhar, cada remate rés vés ao que se passa, dizes
quase nada de ti, és mãe e pai nestas andanças. És defesa da grande área da
tua vontade, desarmas com sorrisos matreiros cada jogada que ponha em perigo o
resultado que queres, ou de cara cerrada se te driblam para lá do que achas
justo. Senhor do meio campo de um humor bem artilhado, sorriso aberto e alegre.
Distribuis mimos e desmarcas-te sempre para a zona certa de um carinho quando é
mais preciso. Jogas nas alas de quem te mais gosta e fazes pressão alta para
nunca seres apanhado em contra-mão Junto à área contrária, nunca te travam. Brilhante
nas fintas às contrariedades, puxas à linha o teu charme, e centras certeiro
por cima de todos os argumentos. Aí entras de rompante e nem deixas que a bola
toque o chão. Rematas de surpresa com a força de todas as convicções no fundo
da baliza do teu tanto querer. Festejas como ninguém cada golo, e nós na
bancada, festejamos contigo como se tivéssemos no campo a dançar junto da
bandeirola. Mais um golo, mais uma vitória, e hoje mais um ano. Parabéns meu
amor.
segunda-feira, outubro 22, 2012
sexta-feira, outubro 19, 2012
Lost - parte II
Logo de manhã cedo, verificado o estado do iPad, nenhum movimento e eis que, mesmo antes de sair de casa, o localizador informa-me que alguém o ligou às 7:45. E onde havia de ter sido ligado o menino? Na bendita da escola. Trafulhas. Albergam uma ladra ou um ladrão e nem com a polícia se desmancharam. Não esperam pela demora.
Vou trabalhar com todo o equipamento necessário a não perder uma tentativa que seja de ligar o iCenas. Chego ao trabalho antes das nove e à hora certa, nova ligação do iPad. Isto é um padrão. Agora de hora a hora, o surrupiador de iPads vai tentar desbloqueá-lo. Vejamos se assim é. Aviso a Ana. No emprego dela organizam-se patrulhas prontas para, assim que houver mais movimentações, irem para o terreno com uma só missão: recuperar o iCenas. Testam equipamentos e organizam-se em coberturas geográficas.
Meu dito meu feito. Ás 10 da manhã ligam-no outra vez. Não me aguento. Googlo a página da escola e descubro o mail de contacto. Não é tarde nem é cedo. Vamos lá tratar de pressionar um tudo nada aqueles que, sob a capa da pedagogia infantil, encobrem actos ilícitos e dão abrigo à gatunagem. Aviso a minha mulher do sucedido e mando o primeiro comunicado para a escola:
“Bom dia :
Estive ontem com a minha mulher e com a polícia na sequência de ter identificado a localização do iPad da minha mulher, que se perdeu muito perto das vossas instalações, sendo provável que se encontre nas mesmas. Na altura o iPad estava desligado e desde então (saímos daí com a polícia às 18:40) voltou a ser ligado 4 vezes sempre na mesma localização (que parece ser as vossas instalações):
- 19:03 do dia de ontem
- 7:45 de hoje
- 9:05 de hoje
-10:00 de hoje
Solicito a vossa ajuda no sentido de recuperar o iPad que possui conteúdos que são importantes. O iPad pode ser devolvido na recepção da Empresa X na morada Y.
Grato pela colaboração”
O segurança do emprego da minha mulher vai fazer o levantamento do sucedido e promete cooperar dentro das suas possibilidades. Investigo um pouco mais sobre a interacção à distância com o iPad e descubro a possibilidade de o fazer apitar. Activo o engenho. Assim que for ligado, vai desatar a apitar. O melhor é fornecer informação actualizada à escola, que como se sabe é um local onde nunca há barulho:
“Na sequência do mail anterior, configurei remotamente o iPad para reproduzir um som durante dois minutos quando voltar a ser ligado. Espero que, de alguma forma, ajude a identificar a localização do mesmo.
Muito obrigado”
No emprego da minha mulher, as patrulhas agitam-se, sedentas de informação detalhada para se lançarem no terreno.
11 da manhã e o burro do ladrão tenta desbloqueá-lo novamente. Novo mail para a escola: “ligaram-no agora mesmo”. O ponto verde mexe-se no mapa. Telefono à minha mulher:
“A pessoa que o roubou deve ter acesso ao mail. Está a ir com o iPod em direcção à estátua”. Enquanto falo com ela ao telefone, a patrulha finalmente sai na peugada do bandido com dois localizadores nos iPhones. Uma perseguição ímpar. O ponto verde entra no quintal ao lado da escola. Nada parece demovê-los. Saltam o muro e entram no quintal também. Tarde demais, o ladrão é mais rápido e retoma o seu caminho em direcção à estátua. Eles cruzam-se com o gato que anda desaparecido no bairro “Olha o Tigre, o gatinho desaparecido dos cartazes. Vamos apanhá-lo?” “Esquece lá a merda do gato, nós queremos é o iPad da nossa amiga”.
Eu continuo ao telefone com a Ana a relatar a localização do iPad. “Ana, estão a levá-lo ao centro comercial. Aposto que vão à loja de informática para tentar desbloqueá-lo. Vou voltar a activar o sinal sonoro.”
Do outro lado da linha há um insistente barulho que nos dificulta a comunicação. Pergunto-lhe do que se trata. “É um telefone qualquer“ Respiro fundo
Entretanto, junto do centro comercial, a patrulha observa dois homens com um ar suspeito a trocarem uma pasta. “São profissionais. Têm uma rede montada” O que entregou a pasta vai para a casa de banho e o outro afasta-se. A patrulha divide-se e segundo palavras do comandante de patrulha “se fosse o da pasta a entrar na casa de banho, não havia de lá sair sem cagar a porcaria do iPad.”
Ao telefone a minha mulher informa-me “Este apito aqui que estávamos a ouvir. É o iPad. Está aqui na gaveta. Ai meu meninooooo. Afinal está aqui.”
A Apple um dia vai-me explicar como funciona este localizador de iCenas. Aparentemente o iPad nunca saiu do mesmo sítio.
A patrulha, que entretanto se voltou a juntar, regressou à base depois de seguir um homem durante quase 20 minutos.
A polícia e a segurança foi informada da recuperação do gadget.
A escola, bem a escola recebeu mais um mail:
“Bom dia:
Peço desculpa por mais uma vez incomodar. O iPad foi devolvido e já se encontra em nossa posse. O sistema de localização por coordenadas não é dos melhores e a indicação de que estava na vossa escola foi errada, pelo que apresento desde já as minhas desculpas por todo o incómodo causado.
Com os melhores cumprimentos”
A partir de hoje, o iCenas chama-se iPerde.
terça-feira, outubro 09, 2012
Lost - parte I
O primeiro sinal de alarme veio ao fim da tarde. Procurado em todos os locais possíveis, e mesmo nos menos prováveis, o diagnóstico estava feito: “André, não sei do iPad. Ou o perdi ou roubaram-me.”
A tecnologia tem destas coisas maravilhosas que nos enchem de esperanças e de respostas profissionais, e ainda distante do acontecimento sugeri: “Pega no iPod e usa o localizador de iCenas para ver onde é que ele está”. E a partir desse momento, foi um filme de acção.
“Está na rua. Foi mesmo roubado. Está a andar em direcção à Praça de Londres. É aqui perto. Vou para a rua atrás do ladrão”. Ora, uma vez na rua, o iPod perde o acesso à net. Não fosse o casal de amigos e os filhos e o cão e os iPhones terem aparecido, nunca se conseguiria voltar a localizar o menino. O iPhone tem 3G e inicia-se a perseguição. O larápio continua a andar pela rua com o iPad, mas não larga as vizinhanças. O melhor é telefonar para a polícia para o apanhar em flagrante.
Saio do trabalho à pressa, e pelo caminho, as notícias que me chegam estão longe de serem animadoras. A polícia vai demorar a chegar e o sinal perdeu-se. Por certo, o vil gatuno apercebeu-se das movimentações e desligou o gadget. Mesmo à porta de uma escola. É lá que me vou encontrar com os protagonistas da caçada. Além da minha mulher, os três selvagens, mais o casal de amigos e respectivos filhos, os iPhones essenciais para detectar qualquer movimento da tecnologia roubada, dois polícias e o cão. Um cão é essencial nestas aventuras. A Enid Blyton que o diga.
Os polícias falam com o director da escola e explicam o sucedido. O nosso amigo explica-me o algoritmo para concluir que aquele ponto do mapa só pode ser a escola. Muito solícito, o director da escola deixa os polícias entrarem. Aguardamos com ansiedade o resultado da conversa. Nada. O iPad provavelmente a escassos metros, e nada. Nem com conversa conseguimos recuperar o nosso menino. Vejamos o que nos oferece a tecnologia.
Ah bem. Podemos activar o bloqueio remoto com uma mensagem. Será uma boa estratégia?
“Não actives. Se ele vê que o bloqueio está activo, tem uma fúria, pega no iPad, dá-lhe um pontapé e enfia-o no caixote do lixo.”
“O iPad tem fotos e dados confidenciais. Estão lá fotos de família. Não quero fotos dos Marias na net”
“Então bloqueia-se.”
“Olha. Dá para pôr uma mensagem.”
Mas que mensagem? “Ó palhaço devolve o iPad antes que a polícia te apanhe” ou algo mais soft “Sr Ladrão. É favor devolver o iPad no seguinte local…”. Optámos pela diplomacia “Este iPad encontra-se perdido. Se o encontrar, devolva-o no seguinte local blá blá blá”
A polícia entretanto solicita-nos que passemos na esquadra a participar o desaparecimento e assim que recuperarmos o sinal do iPad, que lhes comuniquemos a localização. Os miúdos numa excitação com a sucessão de acontecimentos. “Parece mesmo uma aventura. Até temos o cão”.
Agradecemos aos amigos e aos polícias e voltamos para casa para ir buscar a factura da compra. Assim que chegamos, ligamos o localizador. Nem de propósito. O ladrão volta a ligar o iPad. Nunca saiu da escola. Que descaramento. Com a polícia e toda a equipa de buscas ali à porta, deixou-se estar quietinho sem ligar o equipamento, e assim que viramos costas … Estupor. Telefonamos à polícia para relatar a actividade suspeita. Ninguém atende.
“Pega na factura, no iPod e vamos para a esquadra.”
“Queres que ligue os quatro piscas e vá a buzinar assinalando a marcha de emergência?”
“Talvez não valha a pena”
Chegados à esquadra, lá estão os agentes que nos acompanharam. Relatamos as novidades. Dizem-nos que não atenderam porque estavam com outras chamadas e por isso não puderam atender. Fazem uma pergunta preocupante "Mas afinal, explique-me lá. O que é isso de um iPad?". Lá tentei explicar mas acho que a ideia que ficou foi que se tratava de telemóvel gigante, que não faz chamadas mas acede à internet. O Steve Jobs havia de ficar feliz comigo.
Dão-nos um número da patrulha à paisana, para o caso de, durante a noite, detectarmos novos movimentos do artigo furtado.
Entre chamadas de denúncias de violência doméstica e relatos de um tóxico dependente, lá vão tomando conta da ocorrência.
“Então o furto ocorreu a que horas’”
“Foi enquanto estive a trabalhar. Entre as 8:30 e as 18:00”.
“Muito bem, vou pedir ao Gabinete de Segurança do seu emprego, para facultar o visionamento das imagens de segurança recolhidas no seu andar entre as 8:30 e as 18:00”
Pois claro, são só quase 10 horas de gravações. Vai ser fácil.
Um polícia pergunta-me como é que funciona o localizador do iPad. Ligo a net do telemóvel, ligo o iPod ao telemóvel e mostro-lhe a última localização do iPad. Fica maravilhado com a tecnologia.
Eis que chega a hora de dar o número de série do menino, mostro-lhe a factura.
“Este número é muito longo para ser o número de série.” Explica-nos o agente.
Afinal onde está o número de série? A factura tem o número da loja. Telefonema para a loja e a senhora, atenciosa, informa-nos que o número de série está escrito na caixa. A caixa, essa mesma que ficou em casa.
Voltamos a casa e a hora de jantar mais que ultrapassada, o que vale são os dotes culinários do mais velho que asseguram a refeição atempada dos jovens aventureiros. Os mais crescidos regressam à esquadra com a caixa do iPad numa mão e um pacote de batatas fritas na outra. Entramos na esquadra e depois de oferecer batatas fritas aos agentes, acabamos a participação da ocorrência. A patrulha de rua chega à esquadra e informa-nos que estiveram a revirar o lixo em frente à escola e que nada encontraram, a não ser fraldas e outro lixo inerente à actividade pré-escolar.
Regressamos a casa sem iPad e sem esperança. Com a cadência proporcional à angústia averiguo o estado do tablet. Nada. Durante toda a noite o iPad esteve morto … nunca foi ligado. Até que às 7:45 da manhã… (continua)
Subscrever:
Mensagens (Atom)