segunda-feira, março 07, 2011

Um passaporte para sonhar

Confesso que não nutro grande afeição pela obra dos Deolinda. Aparentemente têm alguns ingredientes que me fariam gostar das canções acontece que a sonoridade meio faducha meio tuna académica combinada com a melodia sinusoidal me causam alguns desconfortos semelhantes à irritação.
A canção "Parva que sou" deste grupo, transformou-se num hino de sucesso, para uma geração com formação académica e desempregada ou precariamente empregada. "A letra é sobre mim" reclamam jovens doutores que ocupam a linha da frente dos call centers e dos estágios não ou mal remunerados de empresas de maior ou menor renome.
Não é novidade que o paradigma mudou, como não era há cinco anos atrás. Já então se sabia que um curso superior não seria o garante de uma vida profissional de sucesso na área de formação ou de vocação. Já então se sabia que uma licenciatura não seria nunca um passaporte para uma vida profissional realizada. Já então se sabia que sem espírito empreendedor, sem iniciativa para a concretização de ideias inovadoras, sem arriscar, dificilmente esta geração irá conseguir singrar num mercado de trabalho saturado de licenciados à espera de um lugar de quadro médio numa empresa consolidada. Mais que uma geração à rasca, esta é uma geração que precisa de tomates, de pôr a cabeça a prémio, de arriscar, de inovar, de ter iniciativa, de dar o litro, sem contar com apoios do estado, ou medidas de incentivo. Esta geração tem que mudar de atitude ou arrisca-se a ficar a atender o telefone e a dissertar sobre pacotes de TV Voz e Net o resto dos dias.
Se os Deolinda conseguem motivar uma geração, que seja pelo exemplo de que a inovação consegue vingar, não por um hino derrotista e conformado com a condição de quase escravatura após anos de estudo.

4 comentários:

Anónimo disse...

DEolinda e não DIolinda. Ao contrário do que escreves não considero nada que o hino dos Deolinda seja derrotista. Bem pelo contrário. É um hino de acção e tanto o é, que graças a ele, dia 12 há um protesto na rua contra a precariedade que aponta a canção. Também acho demasiado simplista o facto de caracterizares a música deles "fado e tuna". São muito mais do que isso. Operaram uma mudança de pensamento artistico português e têm sido um exemplo a seguir por muita gente. Além do bom nome que dão a Portugal, além fronteiras. Sinceramente acho que não conheces bem o trabalho deles para os avaliares. Bjs

Andre Frazao disse...

Vou corrigir o nome. Protestar parece-me redutor, a sério que parece. Parece-me uma escolha fácil e errada. É como querer ir para o Porto e ouvir nas notícias que a autoestrada está engarrafada. Escolher a autoestrada e depois businar porque não se anda nem para a frente nem para trás. Que usem as energias para algo mais construtivo e empreendedor que os protestos. A sonoridade não falo mais, disse o que achava, admito que haja quem tenha opinião diferente.

Anónimo disse...

Tenho uma licenciatura e uma pós graduação, fiz um estágio não remunerado (burra que fui) 1 ano e meio e depois abri os olhos e trabalhei num call center 6 meses, (porque tenho contas e elas não se pagam sozinhas). depois numa associação juvenil ano e meio e depois mais 1 ano noutro call center, sou dirigente associativa e formadora de dirigentes voluntariamente. Estou a fazer um estágio profissional remunerado que adoro, vivo fora da casinha dos pais desde os 18 anos e não tenho perspectivas de trabalho quando o estágio terminar. embora esteja a fazer um bom trabalho, não vou lá ficar. Não tenho medo do trabalho, eu cá me arranjo, mas é um bocado frustrante isto de fazer com alguma dedicação e um sorriso na cara coisas que não são muito agradáveis e estimulantes. Considero-me uma pessoa com iniciativa, empreendedora, com elevado espírito crítico e de sacrifício. Faço mil e uma coisas, arregaço as mangas e trabalho no que for preciso, voluntariamente por paixão, e profissionalmente porque é preciso. Nunca fui bem remunerada. Todos os anos sai da Universidade mais uma carrada de gente na minha área de formação e, claro, não há trabalho para todos. Assim mesmo, sou uma pessoa que retira do trabalho voluntário prazer e realização e do profissional... agora retiro experiências novas, bom ambiente, estaleca, quando o estágio acabar não sei.

Eva Pedro ou b4guera:)

Rita Quintela disse...

Concordo com tudo, André.
Beijo