e agora entrega-mo-nos à vergonha porque tornámos possível morrer sem que ninguém notasse. E vem um caso e outro, e outros mais virão. Agora que já não somos aldeia, agora que não dizemos bom dia com quem nos cruzamos na rua, agora que não conhecemos quem vive no nosso prédio, nem quem connosco partilha o elevador, agora que não entramos nas casas uns dos outros a saber do que precisam ou a pedir um ramo de salsa, uma pitada de sal. E na euforia da metrópole, descobrimos incrédulos que se morre de solidão no meio de multidões. E ainda nos indignamos, antes assim.
E nesta imensa aldeia global, de que aldeia falamos? Damos pela presença dos outros, mas conseguiremos sentir a sua falta? Seremos capazes de sinalizar a sua ausência ? O que nos fará procurar alguém que deixa de estar online ? Mesmo que seja alguém muito próximo, que sexto sentido nos preocupará ?
Nada a fazer, ainda é no mundo de pessoas que se cruzam e cumprimentam e se cuidam e se preocupam que se resolvem as equações da solidão. E que bom que assim é.
2 comentários:
E ainda nos espantamos quando pensamos ou ouvimos dizer que, tal como todas as outras espécies reinantes na Terra, a humana, mais dia, menos dia, também se extinguirá. Somos, é certo, 9 biliões... mas as taxas de natalidade diminuem, as de velhice, aumentam exponencialmente, as terras de cultivo estão sobre-utilizadas, a água começa a escassear, os Humanos estão cada vez menos humanos e só nos falta mesmo deixar de nos darmos uns com os outros. Voltaremos à estaca zero e passamos a ser bichos do mato. Mais dia menos dia, seremos nós próprios culpados de um genocídio em massa.
Pela palavra «só»...
Mudar de casa...
Mudar tanta coisa e tantas vezes.
Onde, aquilo que é tão profundamente «nós» e que não muda, porque nunca ocupou lugar?
Assim
em frente da janela...
os vizinhos das treseiras...
as meias espalhadas...
«coisas» de que se faz a vida.
bj
mãe
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