Deve ser uma limitação minha, faz-me uma tremenda confusão. Logo a mim que, nos carnavais, fiz tudo o que era desaconselhado. Que, à luz da actual legislação, devia ir parar à cadeia, tal não era o arsenal de materiais explosivos angariados. Estou convencido que se a GNR entrasse em casa da avó Céu e, nos dias de hoje, encontrasse tudo o que eu e os meus primos comprávamos, a edição do El País do dia seguinte noticiava o desmantelamento de uma célula activa da ETA na rua de São Bernardo à Estrela.
Carnaval sem pistolas, não era carnaval, e bisnagas são coisas de menina. Pistolas só eram pistolas se tivessem fulminantes, de preferência daqueles em formato de tambor para o estoiro ser mais real. Além dos fulminantes, havia os estalinhos que, se comprados às centenas, garantiam uma quantidade de pólvora razoável. E ainda tínhamos as bombas chinesas que, além de pólvora ainda forneciam rastilhos. Por fim as bombas maiores. Essas sim, necessitavam de algum cuidado no manuseamento, mas garantiam sempre um efeito sonoro e visual invejável. Além destes materiais explosivos ainda haviam umas tiras que se raspavam na parede e se estalavam dentro das mãos fechadas em concha e as conhecidas bombas de mau cheiro que estavam fechadas dentro de umas mini-lâmpadas de vidro.
Toda esta geração a que pertenço, durante a festiva época do Carnaval, manuseou de forma displicente um poderoso arsenal de artefactos. À luz dos actuais paradigmas e normas, devíamos estar todos manetas-ou-mortos vítimas de acidente, ou presos-ou-a-monte por pertencermos à ETA, ou recrutados pela Al-Qaeda para integrarmos as fileiras da AAJS Assim-Assim-Jovens-Suicidas.
Se já vivi tanta coisa no Carnaval, haverá alguma coisa que me impressione nesta época de foliões? Há sim senhor. Faz-me uma tremenda espécie, a cópia sem qualidade das tradições carnavalescas do outro lado do atlântico, que inundam os desfiles do nosso país, com falsas mulatas em hipotermia extrema e parcos trajes de lantejoulas de lojas de chineses. Aquelas mulheres correm risco de vida, a desfilar naqueles preparos sob temperaturas quase negativas. Metam uma coisa na cabeça: o aquecimento global esqueceu-se de nós, e quando mais precisamos dele, teima em abandonar-nos. Não há nada a fazer, o nosso carnaval não se festeja acima dos 30 graus. Está sempre um barbeiro que o senhor nos acuda. Deus me perdoe de escrever isto: Vistam as gajas. Tapem-nas. Elas não estão a sambar. Estão a tremer de frio.
3 comentários:
Ora aí está! Finalmente alguém que pensa como eu!
Mas nós não temos as nossas tradições? Precisamos de importar algo com que não nos identificamos de todo e que além disso, como muito bem diz, põe em risco de vida as ditas gajas peladas!!!
Haja paciência e venham as bombinhas, os estalinhos, as pistolas de fulminantes ou outras e toda essa panóplia de objectos "contundentes"que me fez recordar.
Boa noite. Não se terá esquecido das "bichas de rabiar"? (era uma variante das bombas de carnaval). Dessas eu tinha muito medo pois normalmente atiravam-nas quando se passava e nunca se sabia onde paravam.
Continuação de inspiração para nos ir deliciando a recordar os tempos idos.
Ana
Pois eu acho a mesmíssima coisa! Que é feito das Matrafonas e dos Zés Pereiras? E das roupas improvisadas à ultima da hora... Realmente estas imitações nada tem a ver com o nosso clima e não tenho pena nenhuma das meninas que andam descascadas, com as temperaturas tão próprias do nosso INVERNO! Meninas aprendam uma coisa!! Do lado de lá do oceano é VERÃO!!!!
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