É na rotina que me surpreendem. A rua comprida de vivendas de um lado e do outro, quase quase a chegar à escola, curvas suaves e alegrias. As poças de água a pedirem uma onda com as rodas do carro, e a gritaria lá atrás: “para a esquerda, para a direita” e lá vou eu ziguezagueando o carro para euforia dos ocupantes lá de trás. Agora o mais pequeno desenvolveu o gosto pela buzina e também ordena buzinadelas entre cada ziguezague: “Buzina pai, buzina”. Se um dia for multado às oito e meia por andar aos esses, a buzinar, e a fazer ondas nas poças da rua, será certamente uma multa bem merecida, mas por causas muito saboreadas.
Hoje, além das poças estarem particularmente apetitosas, capazes de ondas mais altas que o carro, a conversa assumiu contornos difíceis de explicar:
Maria1 – Eu quando era pequeno achava que os bebés apareciam do nada
Maria2 – Não sabias que vinham do sexo ?
(aqui ia tendo um desastre)
Maria1 – Não. Achava que vinham do nada. Agora já sei que vêm do sexo, não é pai ?
Eu – Pouco barulho que eu quero ouvir as notícias.
Maria1 – É do sexo sim.
Maria2 – É por causa disso que eu vou viver sozinho.
Maria1 – Eu não. Que eu quero ter filhos, e depois, se fores viver sozinho não tens ninguém para brincar. Acabas por te chatear e ficar triste.
Maria2 – Não chateio nada.
Eu – Já chegámos meninos, vamos para a escola.
Mais do que o teor da conversa, preocupou-me o silêncio atento e cognitivo do Maria3.
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